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“Nasci para fazer cálculos”

“Nasci para fazer cálculos”

Se para algumas pessoas o ramo das ciências exactas, sobretudo a matemática, é um “quebra-cabeças”, o mesmo não se pode dizer em relação a Angel Kassandra que, desde criança, se revela uma apaixonada pelos números. Esta aluna de 16 anos representou, por duas vezes consecutivas, de forma condigna, o país nas Olimpíadas de Matemática da CPLP, tendo conseguido voltar para Moçambique com medalhas de bronze nas duas participações.

@Verdade (@V): Quem é Angel Kassandra?

Angel Kassandra (AK): Sou uma adolescente de 16 anos de idade, e resido no bairro do Zimpeto, arredores da cidade de Maputo. Vivo com a minha mãe e frequento a 11ª classe na Willow Internacional School. Sempre fui uma apaixonada pelos estudos.

(@V): O que é que tens feito nos tempos livres?

(AK): Como qualquer outra criança, brinco nos tempos livres com as minhas amigas. Também tenho ajudado a minha mãe nos trabalhos domésticos, no entanto, não deixo de revisitar os livros, onde busco a inteligência, ou seja, o saber científico. Neste momento o meu grande desejo passa por concluir o ensino médio e o nível superior.

(@V): O que gostarias de ser no futuro?

(AK): Para já é-me difícil responder a esta pergunta, pois sinto que ainda estou indecisa no que diz respeito à profissão que pretendo seguir no futuro. Mas, doravante, vou procurar ver que profissão tenho de seguir.

(@V): Quando é que nasce a paixão pela matemática?

(AK): Gosto da matemática desde o Ensino Primário. Adoro fazer cálculos, sobretudo as equações que para alguns parecem pouco complicadas. Do mesmo jeito que há pessoas que nasceram com uma inclinação para física ou química ou ainda outras áreas, eu nasci com o dom de fazer cálculos, gosto de matemática.

(@V): Tiveste algum incentivo por parte da família?

(AK): Naturalmente. Para fazermos certas coisas contamos com o apoio moral ou encorajamento por parte de algumas pessoas. No meu caso, os meus pais, tendo visto que eu tenho uma inclinação para a área de matemática, têm-me apoiado e incentivado a segui-la.

(@V): Como é que te sentes depois de teres participado nas olimpíadas de matemática a nível da CPLP, sobretudo por teres ganho a medalha de bronze pela segunda vez consecutiva?

(AK): Para ser sincera, eu devo dizer que me sinto mais do que feliz. Sinto-me preparada para competir noutros eventos do género. Concorrer em olimpíadas como estas não é nada fácil. Mais do que auto- -estima, os concorrentes têm de estar seguros e prontos para competir e vencer, mostrando o seu conhecimento científico.

(@V): Quais são os critérios para participar nas olimpíadas?

(AK): Não existem barreiras para fazer parte desta maratona de aprofundamento do conhecimento. Por isso em 2011, por minha iniciativa, inscrevi-me para participar na fase provincial das olimpíadas com diversos candidatos que me deram “muito trabalho”, pois eram fortes, mas pude suplantá-los.

(@V): Como é que te sentias diante dos teus adversários?

(AK): Um pouco nervosa, estava a participar pela segunda vez e por isso não havia muito nervosismo. Havia nas olimpíadas uma enorme disputa. Cada um queria mostrar e convencer ao júri de que tem pleno domínio da matemática. Mas como em qualquer concurso há derrotados e vencedores, felizmente, saí como uma das vencedoras.

(@V): Como foi o trajecto até chegar às olimpíadas da CPLP?

(AK): Sendo aquele um concurso internacional, primeiro tivemos de competir a nível nacional, cada província era representada por um concorrente. É um pouco difícil contar tudo, mas devo dizer que me senti satisfeita quando fui apurada para a fase nacional, deixando para trás os representantes da província de Maputo. Venci os meus adversários, e, automaticamente, fui apurada para representar Moçambique nas olimpíadas da CPLP.

(@V): Tiveste algum acompanhamento durante a preparação?

(AK): Infelizmente, não, nem da escola. Foi tudo graças ao meu esforço, tive de usar meios próprios para me preparar, nomeadamente manuais de matemática, para além de que me preparava através da Internet.

(@V): O que é preciso para dominar a matemática?

(AK): Como qualquer outra área de conhecimento, penso que é necessária muita concentração, vontade e dedicação. Quando se pretende buscar conhecimentos, há que se ter vontade de aprender mais e saber enfrentar os desafios que se impõem.

(@V): Consta que quando partiste para as olimpíadas no Brasil, vocês eram quatro moçambicanos concorrentes vindos de igual número de províncias do país. Como te sentes por teres sido a única moçambicana a ganhar a medalha de bronze?

(AK): É um grande orgulho porque todos nós fomos para lá em representação de Moçambique. O pior seria se nenhum de nós tivesse conseguido pelo menos uma medalha. É um orgulho maior ainda porque saí vitoriosa pela segunda vez.

(@V): Como foi a tua estadia no Brasil?

(AK): Foram dias de muito trabalho e de intercâmbio cultural entre os concorrentes. Tivemos uma boa convivência antes e depois do concurso. O ambiente contribuiu para que as olimpíadas fossem um sucesso.

(@V): Qual é a razão de participares pela segunda vez?

(AK): Depois de uma participação brilhante no ano passado em Portugal, senti que devia fazê-lo este ano. Era mais uma experiência. Mais do que participar para ganhar, é fascinante quando os concorrentes se encontram. Conhecemo-nos melhor.

(@V): Quem se responsabilizou pela viagem e estadia naquele país?

(AK): O transporte, a logística e a acomodação, foram da responsabilidade do Ministério da Educação. Quanto a estes três aspectos não houve motivos de queixa.

(@V): Quais foram os primeiros passos quando chegaram ao Brasil?

(AK): Os primeiros dois dias estavam reservados para as Jornadas Científicas organizadas por estudantes que faziam parte do evento e outros interessados. No terceiro dia a nossa comitiva foi visitar alguns locais históricos daquele país, nomeadamente o Museu de Náutica, igrejas antigas e o local onde o conceituado rei do pop, Michael Jackson, gravou um dos seus vídeos.

(@V): Durante o concurso terás passado por alguma di culdade?

(AK): Tive pequenas dificuldades na geometria, mas a calma e a concentração que sempre me caracterizaram consegui ultrapassá-las. Éramos 28 concorrentes oriundos de sete países da CPLP, nomeadamente Cabo verde, Portugal, Brasil, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Angola e Timor-Leste, com quatro concorrentes cada.

(@V): Como te sentiste quando chegou a hora de divulgação dos resultados?

(AK): Fiquei tensa, mas confiante por aquilo que tinha feito. Acreditava que estaria entre os vencedores. Felizmente, mais uma vez consegui levar a medalha de bronze.

(@V): Qual foi o segredo?

(AK): (Sorrisos)…Creio que, acima de tudo, é necessário que haja confiança naquilo que fazemos. Eu, particularmente, acreditei nas minhas capacidades. Porque o medo tem sido uma das barreiras para enfrentar os desafios, procurei dispensá-lo e seguir em frente.

(@V): Há quem diga que a matemática é difícil. Partilhas dessa opinião?

(AK): Não. A matemática é uma área como outra qualquer. O que eu penso é que precisamos de nos esforçar em tudo o que fazemos. As pessoas devem olhar para a matemática como uma disciplina comum.

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