Com 59 casos positivos as instalações da petrolífera Total na Península de Afungi continuarão a ser o epicentro da pandemia da covid-19 em Moçambique, pelo menos até ao fim do mês de Maio mesmo após a testagem de todos os 886 trabalhadores e do Director do Instituto Nacional de Saúde (INS) ter anunciado que “as cadeias de transmissão foram interrompidas”. Apesar disso o Dr. Ilesh Vinodrai Jani deixou claro que “não há razão para fazermos testagem de forma indiscriminada (na Península de) Afungi, nem em nenhum outro lugar” de Moçambique.
O líder dos epidemiologistas moçambicanos que combatem o novo coronavírus anunciou este domingo (10) que foram recolhidas 886 amostras de todos os trabalhadores da petrolífera Total nos três acompamentos que funcionam na Península de Afungi, no Distrito de Palma, na Província de Cabo Delgado.
“As últimas 23 amostras estão a ser testadas neste momento em que realizamos esta conferência de imprensa e portanto hoje será terminada esta primeira fase de todos aqueles que residem no acampamento e isto foi fundamental para identificar todos os casos positivos e negativos, tirar do acampamento os funcionários que não tem funções essenciais e para realocar os permanecem em áreas de risco diferenciadas, foram criadas áreas diferentes dentro do acampamento para se ir acelerando as áreas livres de covid-19 no acampamento”, declarou o Dr. Jani.
Falando em conferência de imprensa na Cidade de Maputo o director-geral do INS explicou que 415 funcionários, que vão assegurar os serviços mínimos nas instalações do Megaprojecto de gás natural, “vão permanecer no acampamento e serão permanentemente testados, a cada 10 dias, e contamos que com este processo de re-testagem dar como findo o surto naquele acampamento lá para o fim do mês de Maio, é um processo que já iniciou”, contudo clarificou que “embora não hajam cadeias de transmissão activas dentro do acampamento nós ainda temos uma zona de isolamento com alguns casos que estão lá, queremos garantir que no final do processo não existam evidências de casos positivos dentro do acampamento”.
“Foi implementado um plano de acções correctivas de prevenção e controlo de infecções na sua plenitude e as cadeias de transmissão foram interrompidas, os últimos casos que temos verificado tem valores de carga viral muito baixo, indicando que são infecções em fase de resolução e são infecções que foram adquiridas há várias semanas, nós cremos que as cadeias de transmissão todas dentro do acampamento foram quebradas”, anunciou.
“Fazer mais testes não significa necessariamente encontrar mais casos positivos”
O Dr. Ilesh Jani enfatizou no entanto que “não temos nenhuma indicação de que existam casos de infecção por coronavírus em Afungi fora do acampamento, os casos são dentro do acampamento e este acampamento é um acampamento fechado, não há razão para fazermos testagem de forma indiscriminada nem em Afungi, nem em nenhum outro lugar”.
“Nenhum país conduz testagem indiscriminada. Os testes custam muito dinheiro, os testes levam tempo a serem feitos. Há também aquilo que chamamos de custo de oportunidade, investir esforços em fazer testagem indiscriminada não só é um desperdício de recurso mas também diverge o recurso humano que pode estar a ser usado para fazer outras coisas para fazer uma testagem indiscriminada e que em termos de Saúde Pública não faz sentido”, declarou o imunologista moçambicano que demonstrou que “fazer mais testes não significa encontrar mais casos positivos, portanto a testagem deve ser feita com inteligência, dentro de um sistema abrangente de vigilância”.
Interpretando os dados consolidados das nove semanas epidemiológicas da pandemia da covid-19 em Moçambique o Director do Instituto Nacional de Saúde indicou que na semana entre 3 e 9 de Maio o número de testes “foi dramaticamente mais alto do que a semana anterior, nós testamos quase o dobro, no entanto a taxa de positividade reduziu de uma forma significativa. A taxa de positividade na última semana epidemiológica foi de 0,57 por cento, o que quer dizer que para nós encontrarmos um caso positivo testamos 175 indivíduos, embora tenhamos aumentado muito o número de testes realizados o número de casos positivos que nós encontramos não sofreu uma subida muito grande. Nós temos de entender que a testagem deve ser feita com critérios rigorosos e que fazer mais testes não significa necessariamente encontrar mais casos positivos”.
Com os dados epidemiológicos actualizados até ao dia 10 de Maio o Dr. Ilesh Jani traçou o perfil dos casos positivos em Moçambique, são na sua maioria do sexo masculino, 81, “principalmente reflexo que esta epidemia tem uma forte dominância, até agora, de casos verificados no acampamento em Afungi onde a maior parte dos trabalhadores são do sexo masculino”, são jovens com idades entre os 20 e os 49 anos de idade, 62, grande parte são moçambicanos, 56, e “nós continuamos com a maior parte dos casos sendo assintomáticos ou tendo uma sintomatologia ligeira”.