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Não doar sangue é negar a vida aos doentes

Não doar sangue é negar a vida aos doentes

A necessidade de sangue nos nossos hospitais é constante e a única fonte indispensável para que ele nunca falte é o ser homem, a quem os apelos para a solidariedade ainda não chegam devidamente ou são intencionalmente ignorados. Todavia, ainda é tempo para se dar uma oportunidade a quem não goza de boa saúde ou suplica pela vida no leito de uma unidade sanitária. Doar sangue não é apenas um acto de cidadania e amor ao próximo. É, acima de tudo, um compromisso de vida a ser renovado a cada 90 dias. Os beneficiários, cuja identidade, origem e estatuto social não interessam, agradecerão por lhes darmos uma oportunidade de viver.

No passado domingo (14), celebrou-se o Dia Internacional do Dador de Sangue. A efeméride foi um momento de festa para quem tem “acendido” vidas. Porém, a insatisfação por conta dos compatriotas que não compartilham a esperança e as autoridades que lidam com o líquido vital pedem para que a sociedade reflicta e seja mais solidária. Que se ofereça a doar cada vez mais sangue, voluntariamente, pois, neste momento, pouca gente o faz e compromete-se a missão de salvar vidas.

Olegário Muanantatha, director do Centro de Referência Nacional de Sangue, estimou, falando ao @Verdade, que se dois porcento da população das comunidades moçambicanas doasse sangue de forma regular – trimestralmente para os homens e de quatro em quatro meses para as mulheres – o país teria quantidades suficientes para responder à demanda dos pacientes nos hospitais.

“Nós ainda estamos a ter dificuldades” em assegurar essa regularidade. Só “temos 50 mil a 60 mil dadores regulares e há aqueles que apanhamos esporadicamente. A cidade de Maputo precisa de 50 mil unidades/ano, das quais metade é consumida pelo Hospital Central de Maputo”, contou o dirigente daquela instituição do Estado que acrescentou que há situações preocupantes de falta do líquido vital nas províncias tais como Gaza e Tete, onde as unidades colhidas e inutilizadas devido ao VIH/SIDA são elevadas.

Outrossim, se os cidadãos tivessem a consciência de que doar sangue é “salvar vidas, ajudar os que necessitam e transferir saúde de uma pessoa para outra”, a pressão sobre os hospitais, causada pelas doenças tais como a malária (que ainda é um problema de saúde pública em Moçambique), as hemorragias nas maternidades, os acidentes de viação, o VIH/SIDA, o cancro e demais enfermidades, seria minimizada, de acordo com o nosso entrevistado.

Anualmente, o país necessita de cerca de 240 mil unidades de sangue, das quais se consegue entre 170 mil e 180 mil. “O tempo máximo de uma bolsa de sangue colhido é de 41 dias. A gente não pode mobilizar 200 mil pessoas num dia para colher sangue para um ano”, o que prova a necessidade de se ter de mobilizar mais gente para assegurar a sua disponibilidade, pese embora se diga que este “prazo é curto”, o “jogo de equilíbrio e colheita sistematizada” devem ser feitos de forma perspicaz para que os poucos dadores consigam fazer com que vidas sigam em frente.

O país não se debate só com a falta de dadores voluntários, como também com os repositores – que representam metade daqueles que se solidarizam com esta causa –não são frequentes, pressionam o sistema e são um problema na medida em que, regra geral, não querem saber do seu estado de saúde e apenas procuram doar sangue porque têm uma preocupação a resolver, independentemente das circunstâncias em que se encontrarem, de acordo com Olegário Muanantatha, para quem é preciso acabar com as reposições de sangue de forma condicionada, tais como as que são feitas por cidadãos cujos familiares ou amigos necessitem deste líquido vital por alguma razão médica. O dador deve ser voluntário.

Por sua vez, Artur Calado, membro da Associação dos Dadores de Sangue de Moçambique, disse que o acto de doar sangue deve partir da comunidade e apelou para que a sociedade esteja consciente de que este gesto é uma valorização do próximo e demonstração de fraternidade. O egoísmo deve ser posto de lado porque o líquido vital é um dos medicamentos essenciais para muitos doentes.

Segundo as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS), pode-se dar sangue até quatro vezes por ano. Para o efeito, é necessário que se esteja em boas condições de saúde, pesar no mínimo 50 quilos, estar-se descansado, ou seja, ter-se dormido pelo menos seis horas nas últimas 24 horas.

Não se pode estar a jejuar nem doente ou com febre, tão-pouco ter hepatite B ou C, malária, dentre outras doenças cuja lista é extensa. Fazem a transfusão de sangue mulheres com idades compreendidas entre 16 e 60 anos e homens entre 16 e 65 anos.

Estes e outros procedimentos são infalivelmente observados pelos técnicos de transfusão nos centros criados para o efeito. Qualquer incompatibilidade detectada na triagem levará à rejeição temporária ou definitiva do doador para “preservar a sua saúde. Quem dá sangue com regularidade tem vários benefícios, sobretudo um melhor controlo da sua saúde”, assegurou Olegário.

Mas porque as pessoas não doam sangue? Segundo o nosso entrevistado, a primeira explicação é a falta de conhecimento sobre a importância de praticar este acto de cidadania. Em segundo lugar,“na nossa sociedade criou-se um mito de que o dador deve dar (sangue) e receber directamente alguma coisa em troca”. E se este esta questão não for devidamente esclarecida pode haver desmotivação por parte dos poucos dadores que asseguram a disponibilidade do líquido vital nos bancos de sangue e daqueles que pretendam passar a serem solidários.

“Nunca se deve deixar passar para a sociedade a mensagem de que ao doar sangue” ter-se-á alguma coisa em troca. Se este processo precisa de ser feito com recurso a algum estímulo, qualquer procedimento nesse sentido deve estar regulamentado. “Os países como Zimbabwe oferecem aos dadores bolachas, sumo ou chá para garantir a reposição hídrica após a doação. Quero enfatizar que a pobreza não vai ser resolvida” com os alimentos que provavelmente possam ser oferecidos aos dadores, disse Olegário.

Enquanto não se incutir nos jovens que doar sangue é um acto de solidariedade nunca teremos estoques adequados. Para se garantir a disponibilidade do líquido vital nas emergências, nas pediatrias, nas maternidades e noutros sectores é preciso que não haja pressão, mas, sim, voluntariado. E os dadores que entram para o sistema devem ser retidos, afirmou o director do Centro de Referência Nacional de Sangue.

“Há outro mito que é o das camisetas”. Se estas forem oferecidas a uma determinada escola cujos alunos doaram sangue parece ser imperioso oferecê-las também aos integrantes dos restantes estabelecimentos onde se faz a colheita. Até nas universidades existem estudantes com este tipo de mentalidade. “Se se oferecer comida a um dador de sangue corre-se o risco de se ter um perfil de dadores esfomeados”.

Para sair deste ciclo vicioso, Olegário disse que se estão a criar mecanismos de mobilização de dadores e para tal é preciso ter-se uma equipa treinada e especificamente orientada para a questão do sangue. E pensa-se, também, numa entidade que estará vocacionada a lidar com este assunto de forma “autónoma”.

Artur defendeu igualmente que as pessoas podem salvar vidas sem exigirem nada em troca, como acontece actualmente. É dever de todos os moçambicanos alimentar um espírito de solidariedade e humanismo.

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