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Na terra do “El Dorado” do carvão falta água potável aos moçambicanos

Na terra do “El Dorado” do carvão falta água potável aos moçambicanos

Foto cidadão repórter BernardinoConfirma-se que a “bênção” do carvão não tem sido todos os moçambicanos, nem mesmo aqueles que residem há poucas dezenas de quilómetros dele. Alguns milhares de moçambicanos têm de enfrentar os crocodilos para poderem ter acesso ao precioso líquido, tudo porque o fornecedor estatal, o Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG) há quatro meses que não o disponibiliza aos seus clientes nos bairros de Matundo e Mateus Sansão Muthemba. “Já foram devoradas quatro senhoras que buscavam água no rio Zambeze”, confidencia-nos um dos munícipes de Tete. Não há data prevista para o drama ser resolvido, “o fornecimento voltará a normalidade após a intervenção/retificação na rede de distribuição” esclareceu o FIPAG.

“Já passam quatro meses e não sai água nas torneiras e nos fontanários” conta-nos Bernardino Jone que nos explica que a fonte alternativa de água tem sido o rio Zambeze, que dista cerca de dois quilómetros do quarteirão 8 do bairro de Matundo onde reside com a sua família de oito pessoas. Este bairro está localizado há cerca de cinco quilómetros do centro da cidade de Tete, logo depois de atravessar a ponte Samora Machel.

De acordo com Bernardino, com quem falámos telefonicamente, apesar do corte no fornecimento do precioso líquido, o FIPAG tem enviado as facturas de cobrança. “No mês passado as pessoas revoltaram-se com quem andava a trazer as facturas, mas nos três meses anteriores pagámos mesmo sem sair água”, desabafa.

Foto cidadão repórter BernardinoA empresa estatal responsável pelo fornecimento do precioso líquido explicou que as facturas cobram a pouca água potável que passa pelo contador neste período de restrições, “no momento em que a água sai o contador regista consumos que são suscetíveis de facturação”.

Há dois anos que o nosso entrevistado é um dos 31 mil privilegiados por ser cliente do FIPAG em Tete, entre os mais de dois milhões de habitantes da província, e revela que quando a água saía só era distribuída durante a madrugada, entre “as 00 hora e as 05 horas, nunca saiu de dia”. O que Bernardino e os seus vizinhos faziam era encher os recipientes que podiam como forma de ter água potável ao longo do dia.

Agora ele e os seus 1200 vizinhos, incluindo mulheres e crianças, têm de se dirigir ao rio Zambeze para encher os bidões e depois carregá-los como puderem para as suas residências.

Falta água também no bairro Mateus Sansão Muthemba

Foto cidadão repórter BernardinoTambém a enfrentar o drama da falta de água potável estão os residentes do bairro Mateus Sansão Muthemba, localizado a pouco mais de cinco quilómetros do centro do município de Tete. “Há mais de um mês e duas semanas que as torneiras jorram água”, disse-nos telefonicamente Nelito Ajuda, que é cliente do FIPAG em Tete desde 2012.

Os cortes no fornecimento do precioso líquido são habituais, “às vezes sai durante 30 minutos num dia e depois ficamos três ou quatro dias sem sair”.

Nelito revela-nos que a solução tem sido dirigirem-se para as margens do rio Chimadzi onde fazem poços e tiram o precioso líquido, correndo o risco de contrair doenças diarreicas ou mesmo cólera.

“Quando este rio enche não é possível fazer os poços e como a água é turva temos de ir ao rio Zambeze”. Aí cerca de mil famílias disputam com os crocodilos para se abastecerem de água.

Segundo as nossas fontes, o Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água não os informou sobre o que estaria a causar os cortes no fornecimento de água potável, nem quando a situação estará resolvida.

Ao @Verdade o FIPAG em Tete explicou que a falta de água no bairro Matundo afecta cerca de um quarto dos seus 4.400 clientes que residem nas Unidades Cambinde, Nhamatica e Alberto Vaquina, “e deve-se ao facto de se encontrarem distantes do Centro Distribuidor e em cotas elevadas”. Situação similar verifica-se com 900 clientes no bairro Mateus Sansão Muthemba que vivem em “Unidades de cota elevada”.

Em entrevista por correio electrónico o Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água, afirmou que existe “constante vandalização dos fontanários e adutoras de transporte” e explicou que “durante a época do verão a pressão dos clientes sobre os serviços de abastecimento de agua tem uma tendência ascendente resultando na redução de pressão para fazer com que o precioso liquido chegue nos pontos distantes e em alguns pontos altos dos bairro em referência”.

Questionado sobre o que tem sido feito para alargar o abastecimento de água potável o FIPAG disse que está previsto para 2016 um projecto, cujo financiamento está já assegurado, com vista e solucionar definitivamente os problemas de escassez de água em alguns bairros da Cidade de Tete e da vila de Moatize.

“O projecto consistirá no reforço da capacidade de produção e armazenamento com a contrução de 21 furos, dois centros distribuidores, construção de 25 quilómetros de conduta adutora, substituição e expansão da rede de distribuição em cerca de 175 quilómetros o que vai permitir a instalação de 20.000 ligações domiciliárias, reabilitação e duplicação da capacidade de tratamento em 10.000 m3/dia permitindo a expansão dos serviços para mais de 100 mil pessoas adicionais”.

Foto cidadão repórter BernardinoContudo na província de Tete que 2007, de acordo o Censo, tinha 1,8 milhões de habitantes apenas 31 mil agregados familiares tinham em 2014 o privilégio de serem clientes do Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água.

Apesar desta enorme carência no acesso a água potável, e do crescimento da população que quase duplicou, continuam a ser ínfimos os investimentos dos sucessivos Governos do partido Frelimo para inverter o drama.

No primeiro Orçamento do Estado do Presidente Filipe Nyusi apenas 3.339.000,00 de meticais foram previstos para investimentos a serem realizados pela Administração regional de Águas do Zambeze. A título comparativo, só para as despesas de funcionamento do Gabinete do Governador de Tete em 2015, foi previsto um orçamento dez vezes superior, o que ilustra claramente que o acesso a água potável não é uma prioridade para o Executivo.

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