Conheceram-se em Pemba. Azagaia tinha sido convidado para atuar num evento da ‘Viva con Agua’, uma ONG alemã que tem como missão realizar projetos de água ao redor da Terra, permitindo assim que os mais desfavorecidos tenham acesso à água potável. A energia de Azagaia contagiou Michael e Steffen. Tinham um denominador comum: o ativismo social.
Encontrámos Azagaia em Saint Pauli, um dos bairros mais alternativos da cidade de Hamburgo, na Alemanha. Por lá sente-se o cheiro de liberdade que contrasta com o respeito que se tem pelo próximo, uma característica alemã que pode incomodar aos mais distraídos mas com efeitos imediatos quando se fala de trabalho. O laboratório ideal para uma residência de pouco mais de 15 dias onde o compositor moçambicano criou alianças profissionais fortes.
Com ele estavam Michael Fritz e Steffen Gerdes, dois jovens alemães que acreditam num mundo melhor à sua volta. Tal como Azagaia defendem as causas sociais e, mesmo não falando a mesma língua, completaram um trio perfeito naquele que foi um verdadeiro trabalho em equipa.
Assim que chegou o músico moçambicano atuou para cerca 7 mil pessoas no ‘Viva con Agua Kaserne Basel Festival’, na vizinha Suiça. No dia seguinte, já na Alemanha, levou Moçambique – através da sua voz – ao MS Dockville Festival, em Hamburgo, um dos mais prestigiados festivais desta cidade.
A sua agenda ia aumentando à velocidade dos dias e as solicitações eram mais do que a conta para as múltiplas colaborações com músicos e produtores alemães. O ponto alto foi a sua atuação com Gentleman – um dos mestres do reggae internacional e conhecido por abraçar causas sociais em África – num concerto no Stadptark de Hamburgo. Nesse dia Azagaia conheceu também Asa, a cantora nigeriana que está a dar cartas no mundo da música.
Azagaia vai compor agora para um beat criado por Farhot produtor afegão nascido em Kabul que já produziu para Nas, Nneka (cantora nigeriana) e Talib Kweli. Este cientista da música produz também para rappers alemães e está no topo da geração de produtores de hip-hop.
Quem também fez questão de conhecer o músico moçambicano foi Nate 57, rapper alemão com origens em Angola. Esta estrela de Hamburgo é conhecida pelos temas caracterizados por uma forte crítica social à sociedade alemã e faz parte da gravadora ‘Los Ratos Locos’. Com ele ficou a promessa de fazerem uma música juntos para o seu próximo CD.
Entre a rodagem de um documentário, sessões fotográficas e a gravação de um videoclip viajámos até Berlim onde Azagaia gravou uma música com os Irie Revoltés e Gentleman para a ‘Viva con Agua’. Esta música vai poder ser ouvida em países como a Nicarágua, Etiópia, Cuba e Moçambique.
Azagaia faz agora parte do leque de artistas internacionais amigos da ‘Viva con Agua’. A sua voz vai ecoar na Nicarágua, Etiópia, Cuba e outros tantos países.
A música de Azagaia provou que tem uma linguagem universal e que não importa o idioma e sim a energia. Foram dias loucos na Alemanha e garantimos-vos que quando ele diz Aza… todos respondem Gaia.
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Vai haver uma altura em que as pessoas quando falarem dos grandes pensadores vão dizer: Martin Luther King, Mahatma Gandhi e Azagaia.
Pensámos escrever um diário da sua viagem mas optámos por entrevistar Michael e Steffen, fundadores da ‘Viva con Agua’:
O que vos levou a convidar Azagaia?
Convidámo-lo porque a ‘Viva con Agua’ vive de conexões entre seres humanos, organizações e constrói fundações entre pessoas que valem por elas próprias. Para além disso queríamos que o Azagaia entendesse a forma como pensamos, trabalhamos e nos engajamos. Participando ativamente no nosso dia-a-dia conheceu a nossa filosofia por detrás do trabalho da organização.
E o que pretendem com esta iniciativa?
A ‘Viva con Agua’ quer criar uma rede entre Saint Pauli, Moçambique e Suiça. Queremos dizer aos moçambicanos que nem tudo o que acontece aqui é bom e mostrar aos europeus que nem tudo em Moçambique é mau. Queremos provar que entre o branco e o preto existem muitas cores.
Vocês não falam português… Como entendem a mensagem de Azagaia? Nós acreditamos no Azagaia.
Nós acreditamos na sua força, no seu poder, na sua vontade de mudar as coisas, na sua música e no seu espírito. Então, para mim o Azagaia está realmente na “liga” com os grandes líderes negros. E talvez vai haver uma altura em que as pessoas quando falarem dos grandes pensadores vão dizer: Martin Luther King, Mahatma Gandhi e Azagaia.
Como é que estão a ser estes dias com ele?
Os dias estão a ser inspiradores para todos nós. Há um permanente choque de culturas! Acredito que são as conexões a acontecerem.
Estão a realizar um documentário sobre a sua estadia aqui. Já presenciámos uma sessão fotográfica. O que é que vem mais aí?
A ‘Viva con Agua’ quer que o Azagaia beneficie de tudo o que ele faz por razões sociais. É por isso que organizámos tudo isto. Todo o seu trabalho na Alemanha vai poder ser visto no seu Facebook!
Podemos falar de uma conexão universal?
Há uma linguagem internacional que não tem nada a ver com o inglês, o alemão e o português. Chama-se ESPERANTO (linguagem universal), uma junção entre a música e o espírito.
Meu querido Moçambique
De regresso a Maputo Azagaia fez questão de atuar a semana passada no bar Mafala Libre e dividiu o palco com Emmanuel Jal, músico sudanês que durante a segunda guerra civil do Sudão foi criança soldado. Este convite foi feito pelo Instituto Cultural Moçambique Alemanha (ICMA).
A caminho de Angola
Presença habitual nos festivais angolanos Azagaia vai participar este sábado, dia 17, na reposição do Festival de Hip-Hop da Lusofonia ao lado de nomes como Gabriel o Pensador, Marcelo D2, Vallete, Black Company, Phather Mac, Kid MC, Dr. Romeu, MC K, VIP, Eddy Shine, Nelboy e Boy-G.