Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Mulher que estudou não presta!

Mulher que estudou não presta!

Em “Eu e Meu Eu”, a obra teatral do Grupo da UEM, Fungulamesso, Pedro e Mariamo, que representam um casal com ideias um tanto contraditórias, travam um debate em torno do papel – incluindo direitos e deveres – da mulher no seio familiar. No entanto, ainda que, hoje, estes princípios sejam menos assumidos, tal como acontece na peça, as nossas sociedades mantêm-se tradicionalistas e machistas em relação à emancipação feminina.

A questão sobre como a sociedade actual encara a realidade em relação à emancipação da mulher e a consequente integração da mesma em todos os campos de educação e do trabalho ainda é premente. Na verdade, embora tenha reduzido, ainda persiste o pensamento que dita que “o lugar da mulher é a cozinha”.

Como a peça mostra, a mulher – se continuarmos a preservar o tradicionalismo e o machismo – está sujeita à miséria, à falta de educação e de informação. Mas, porque é que o homem pode fazer isto e a mulher não? Na verdade, não há nada que se note de distinto entre os dois sexos. Apenas há incompreensões em relação à dinâmica do mundo, à necessidade de nos igualarmos e de tornar a mulher participativa nos nossos projectos.

E, infelizmente, tal como Pedro, existem muitos desinformados, machistas e tradicionalistas, nas nossas comunidades. Mas, de qualquer modo, a raiva, o medo e o inconformismo são os aspectos levantados, na obra, como os principais para que o homem se “agarre, sempre que puder, à saia da sua esposa”. A mulher é, mais do que uma máquina de reprodução de filhos, amante e escrava do lar. É como diz Pedro, que interpreta a personagem de um homem autoritário.

“Sempre que tu passas o dia a trabalhar eu fico a cuidar de casa sozinho, como se eu fosse o único homem com uma esposa trabalhadora. Mal cuidas da tua família e, o pior, nem sequer cumpres o teu papel de mulher”. De certa forma, “sinto-me abandonado”. Importa referir, aqui, que o conceito de esposa é, para Pedro, uma autêntica submissão, portanto, realça: “Tu és minha esposa e, por isso, me deves obediência”.

Sexo, um assunto proibido

É, até certo ponto, comum que nas casas onde “reinam” o machismo e o tradicionalismo o homem suspeite de que, em diversos momentos o atrevimento e as sugestões que as mulheres dão aos seus parceiros para aprimorarem a sua relação conjugal seja consequência de uma traição, pois sabe-se, de antemão, que, numa residência, o homem é quem dita as regras.

Mas, de qualquer forma, mesmo contra os princípios tradicionalistas, Mariamo manifesta as suas emoções, tudo com o propósito de querer mostrar ao seu esposo, Pedro, que não existe nenhum homem entre eles.

“Tu dizes que mal cumpro o meu papel de mulher, então vem. Chega cá Pedro!”. Mariamo deita-se no sofá, simula gestos sedutores e Pedro olha atentamente para a sua companheira. Ela dança. Despe lentamente a roupa em jeito de “strip-tease”. No entanto, ainda que, de acordo com a sensação que tivemos do lado da plateia, aos poucos entregava-se às tentações, o seu estado de espanto sufocava-o.

“Mas, (…) onde é que aprendeste isso, Mariamo? Aposto que foi com o tal do teu chefe que te liga a qualquer hora”. Entretanto, apesar de se ter revelado autónoma e uma mulher de iniciativas – o que até certo ponto não é mau – na peça, Mariamo acabava por revelar-se poliandra, sem vergonha e/ou prostituta.

A prostituição é uma solução para combater a pobreza

Para além da, suposta, infidelidade, do tradicionalismo e do machismo trazido pelos amantes do teatro da UEM – que decidiram unir-se e encenar o drama – em “Eu e Meu Eu” encontramos uma figura bela, atraente e visivelmente saudável.

Ela chama-se Rose e dedica-se à prostituição. Engane-se quem pensar que enveredar pelos maus caminhos, em algum momento, pode encontrar a concretização dos seus sonhos. Não há nada que compre a admiração e o respeito que eventualmente, senão sempre, recebemos do outrem.

Em cena, Rose, que representa a classe, diga-se de passagem, mais desprezada na sociedade, metafórica, explica: “Sou o mar em que todos os rios desaguam – adolescentes, jovens, adultos e velhos. De tão atraente e formosa que sou, sinto-me a mais procurada das noites”.

A peça, elaborada como se de documentário se tratasse, permite que os artistas revelem, sem intervenientes, os problemas enfrentados pelos moçambicanos, de tal sorte que, ao longo da narrativa, a prostituta usa como defesa a marginalização a que a classe é sujeita.

No entanto, na mesma onda de profundas declarações, depois de tantos prantos, Rose revela, ao público que se fez presente no dia de lançamento da obra, que às vezes, senão sempre, as ambições, a pobreza e a falta de apoio – não só material – na família faz com que as mulheres optem por este caminho a fim de ganharem a vida sem muito esforço.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!