O Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, e o antigo dirigente do Quénia, Daniel Arap Moi, desempenharam um papel fundamental, o de convencer o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, a negociar um acordo de paz com o Governo moçambicano em 1992. A revelação está patente no livro “The Mind of the African Strongman: Conversations with dictators, statesmen, and fahter figures” escrito por Herman Cohen, antigo secretário de Estado Adjunto norte-americano para os Assuntos Africanos.
No seu livro “The Mind of the African Strongman: Conversations with dictators, statesmen, and fahter figures”, Cohen, citado pela Voz da América, afirma que o Presidente George Bush convenceu o então Chefe de Estado Joaquim Chissano de que as negociações eram o único meio para se pôr fim à guerra civil em Moçambique.
Num encontro que manteve com o então Presidente do Quénia Daniel Arap Moi, Cohen queixou-se de que Dhlakama era um dirigente com quem “não se comunicava facilmente”.
Dhlakama, escreve Cohen,“suspeitava das relações entre os países ocidentais e o Governo da Frelimo”.
Nesse encontro, Herman Cohen recordou a Arap Moi que a reputação da Renamo no Ocidente era “muito negativa” devido às suas alegadas violações de direitos humanos pelo que o apoio às negociações não seria fácil.
Moi rejeitou as acusações feitas contra Dhlakama e afirmou que era um cristão evangélico.
Ele escreve: “Fiquei com a certeza então de qual seria a nossa conduta com Dhlakama”.
A partir de então, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Quénia, Bethwel Kipalagat, foi “a nossa ligação”, diz Cohen.
Segundo o antigo dirigente norte-americano, a ajuda discreta de Moi e Kipalagat foi “essencial” para os encontros organizados no Malawi, país que a África do Sul usava como base de trânsito para armas e logística enviadas ao então movimento de guerrilha Renamo”.
“Nesses encontros consegui convencer Dhlakama de que nós irÍamos trabalhar para AS negociações, nas quais todos ganhariam e que levariam a eleições em Moçambique”, escreve o antigo diplomata norte-americano.
Noutro capitulo do seu livro, Herman Cohen afirma, contudo, que nesses encontros secretos no Malawi com o líder da Renamo “nunca o consegui persuadir totalmente a aceitar as negociações e a entrar na vida política”.
Dhlakama possuía “uma grande paranóia e esperava ser assassinado pelos militares moçambicanos se entrasse na vida política”.
“A pessoa que conseguiu convencer Dhlakama foi Robert Mugabe”, revela Herman Cohen no livro lançado nos Estados Unidos da América.
“Eu pedi a Mugabe que levasse a cabo essa tarefa porque ele e Dhlakama são do mesmo grupo étnico, o Shona”, escreve Cohen, acrescentando que “Mugabe teve sucesso onde muitos de nós falhámos”.