Manifestantes muçulmanos indignados com um filme ofensivo ao profeta Maomé enfrentaram a polícia, Segunda-feira (17), em várias cidades da Ásia, direccionando a sua fúria contra os Estados Unidos por terem permitido a realização e difusão das imagens.
A polícia fez disparos para cima na tentativa de dissolver a multidão que cercava o consulado dos EUA em Karachi, no Paquistão. No Afeganistão e na Indonésia, os muçulmanos queimaram bandeiras dos EUA e gritaram “morte à América”.
Em Jacarta, capital da Indonésia, mais populosa nação islâmica do mundo, a polícia usou gás lacrimogêneo e jactos de água para dispersar centenas de manifestantes em frente à embaixada dos EUA.
Em Cabul, os manifestantes incendiaram carros e lojas, e apedrejaram a polícia. “Vamos defender o nosso profeta até termos sangue sobre os nossos corpos. Não vamos deixar ninguém insultá-lo”, disse um manifestante.
“Os norte-americanos vão pagar por sua desonra.” Milhares também saíram numa passeata em Beirute, onde o líder do Hezbollah acusou agências de espionagem norte-americanas de estarem por trás dos factos que desencadearam a actual onda de sentimento antiocidental no mundo islâmico.
Desde Terça-feira passada, vários países islâmicos têm tido protestos antiamericanos por causa do filme semiamador que retrata Maomé como mulherengo, homossexual e abusador de crianças.
Trechos do filme estão a ser divulgados pela internet, sob vários nomes, inclusive “A Inocência dos Muçulmanos”. A situação abriu uma crise internacional em meio à recta final da campanha presidencial nos EUA.
O governo norte-americano qualificou o filme de “repreensível”, mas disse que, por causa do direito constitucional à liberdade de expressão, nada pode fazer para coibir a sua distribuição, como pedem os manifestantes.
A Casa Branca disse que o presidente Barack Obama conversou com diplomatas dos EUA por telefone no fim de semana para prometer apoio e protecção.
Semana passada, o embaixador dos EUA na Líbia e três outros funcionários diplomáticos foram mortos durante uma invasão de manifestantes no consulado do país em Benghazi, no leste da Líbia.
Os novos protestos da Segunda-feira mostram que a revolta por causa do filme está longe de terminar, apesar do apelo por calma feito no fim de semana pelo principal clérigo islâmico da Arábia Saudita, país que é o berço da religião muçulmana.
O Paquistão decidiu tirar o YouTube do ar no país, por causa da recusa do site em remover os vídeos que causaram os distúrbios.
Em Beirute, o dirigente máximo do Hezbollah, xeique Hassan Nasrallah, disse que a eventual divulgação do filme na íntegra irá agravar a situação, e que os EUA devem ser responsabilizados por isso.
O Irão também condenou a realização do filme, e prometeu punir os seus responsáveis. “Certamente, o governo vai procurar, localizar e perseguir essa pessoa culpada por insultar 1,5 bilhão de muçulmanos no mundo”, disse o vice-presidente Mohammad Reza Rahimi numa reunião ministerial.
As autoridades iranianas exigiram um pedido de desculpas dos EUA pelo filme, dizendo que ele é parte de uma série de insultos ocidentais contra figuras sagradas do islamismo.
Não se sabe quem realizou o filme. Os trechos divulgados na internet identificam o director como Sam Bacile, mas duas pessoas ligadas à produção disseram que provavelmente trata-se de um pseudónimo.