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Morte de criança gera crispação entre população, militares e Polícia na Matola

Uma bala supostamente perdida, que se acredita ter sido disparada a partir de um quartel militar instalado no bairro Siduava, no município da Matola, atingiu mortalmente uma criança de seis anos de idade, no dia 03 de Maio em curso. Desde essa altura, as relações entre a população local e a família da vítima – que acreditam que o miúdo foi morto por um militar – e a Polícia da República de Moçambique (PRM) azedaram. Para a corporação, o miúdo não foi vítima de um projéctil, mas sim, há indícios de a morte ter sido causada com recurso a um instrumento contundente. Contudo, aguarda-se pelo relatório da Medicina Legal, o qual estará disponível esta segunda-feira (14).

O facto aconteceu no quarteirão 14 daquele bairro da província de Maputo. O finado respondia pelo nome de Joaquim Mangaze, carinhosamente tratado por Quito.

Segundo os moradores e os parentes, o menino foi atingido por uma bala quando se encontrava a brincar com uma outra criança dentro de uma cabana erguida com base em material precário. Conta-se que o tiro atravessou uma chapa de zinco que servia de parede do referido abrigo.

No quartel em questão, onde se pratica carreia de tiro, existem machambas e pequenas habitações, o que gera disputas de limites de espaços entre os militares e os habitantes. Estes alegam que herdaram os campos agrícolas dos seus antepassados, entre 1974 e 1982.

Na última sexta-feira (11), o Comando-Geral da PRM convocou a imprensa para explicar que do trabalho por si efectuado e pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) constatou-se, primeiro, que o menor pode ter encontrado a morte “no raio de carreira de tiro”, uma vez que “o quarteirão 14, no bairro Siduava, está junto a um quartel do regimento de infantaria (…)”.

Nesse contexto, após ser atingido pelo projéctil, o miúdo poder ter sido, possivelmente, transportado do local da morte para onde o corpo foi achado pelas equipas do SERNIC e da PRM para a perícia.

A segunda hipótese sugere que o menino perdeu a vida por asfixia quando caiu de uma cama feita com base em paus, onde se encontrava a saltitar com o amigo.

“Há uma testemunha bastante importante que foi aborda [pelas autoridades policiais], que é a única pessoa que esteve com o menor no momento em que morreu”, afirmou Inácio Dina, porta-voz daquela instituição do Estado.

“A morte não ocorreu na residência deste menor. Este estava numa casa vizinha (…). O que estamos a dizer é que momentos antes” de o menino perder a vida “esteve com um adolescente dentro da cabana (…). Os dois estiveram aos pulos por cima de uma cama feita de estacas e que cedeu”, tendo eles caído.

O agente da lei e ordem prosseguiu explicando que, depois de perceber que o amigo não se mexia e não respondia aos apelos para que acordasse, o sobrevivo saiu da cabana à procura de ajuda. “Chegado o socorro, há um outro cidadão que declarou que transportou o menor para o pátio ao lado de uma outra cabana”.

A Polícia considera ainda estranho que após o funeral, a cabana em apreço tenha sido imediatamente desfeita, o que na sua interpretação transparece que havia uma “clara intenção de destruir as provas” do crime e “dificultar o máximo possível a reconstituição” dos factos e, por conseguinte, a descoberta da verdade material.

“As duas perfurações encontradas no corpo do menor podem ter sido efectuadas, propositadamente’, com recurso a “um instrumento contundente para fazer vincar a hipótese de a morte ter sido provocada por um projéctil. Não havia indícios de sangue bastante de alguém que tenha sido perfurado por um projéctil que entrou e saiu. Não foi achado o projéctil [que atingiu a vítima], o que reforça a hipótese de que o menor por ter morrido por asfixia, ao ser apertado pelas estacas da cama onde estava a pular”, disse Inácio Dina, assegurando que a investigação prossegue.

O conflito de terra

Depois do funeral da crianças, a população de Siduava marchou até à Presidência da República com o intuito de exigir a retirada do quartel daquele bairro, bem como a responsabilização do provável atirador. O argumento foi de que são constantes os desmandos perpetrados pelos militares, o que culmina com ameaças e agressões físicas.

Em relação a este assunto, o porta-voz do Comando-Geral da PRM comentou que a população está a cultivar e habitar na área de servidão militar, mas tal não implica que deve haver contendas.

Para Calisto Cossa, presidente do Conselho Municipal da Matola, que na semana finda visitou a família enlutada e se inteirou da contenda entre a comunidade e os militares, não cabe à sua instituição determinar que lado está a razão. Porém, existe no bairro uma área de servidão militar, para além daquela onde os militares vivem.

“Não somos nós que determinamos os limites do quartel”, declarou e anotou que o que a população exige é que os militares não tenham área de servidão, a qual está a ser usurpada. Porém, esta segunda-feira inicia a redefinição dos limites no espaço em disputa.

Inácio Dina rematou salientado que a comissão que está em frente do processo de diálogo com as autoridades municipais da Matola é composta por pessoas oportunistas, que se dedicam à venda de terrenos em diferentes bairros daquela parcela do país.

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