As mortes de uma estudante e de um jovem que andava de bicicleta foram as últimas registadas, este sábado (22), em dez dias de violência na Venezuela, elevando para oito o número de vítimas fatais.
O homem, de 29 anos, trabalhava num supermercado e acabou por morrer depois de a sua bicicleta ter passado por cima de um cabo de energia que havia sido derrubado no meio da rua. Ele sofreu o acidente na sexta-feira, uma das ruas principais de Horizonte, um bairro de classe média na região leste de Caracas.
“Ele estava a voltar para casa e não pode ver o cabo por causa da escuridão. A sua garganta acabou perfurada”, disse o ministro do Interior da Venezuela, Miguel Rodríguez Torres, na televisão estatal. “Era um jovem trabalhador que nada tinha a ver com a insanidade perpetrada por estes assassinos fascistas da direita”, disse Torres.
A estudante Geraldine Moreno, segundo os opositores e a mídia local no Estado de Carabobo, morreu no hospital no sábado depois de ter sido atingida por balas de borracha na cara quando as forças de segurança investiram contra manifestantes na quarta-feira. Ela tinha 23 anos.
Cinco pessoas já morreram baleadas desde o dia 12 de Fevereiro, dia em que os três manifestantes foram atingidos depois de um protesto pacífico da oposição na região central de Caracas, que desencadeou uma série de batalhas entre a polícia e civis.
Outras duas pessoas acabaram mortas em protestos ao redor do país, e uma sexta ainda foi atropelada por um carro durante um conflito generalizado. A Venezuela passa pelo momento mais conturbado desde que o actual presidente Nicolás Maduro venceu eleições apertadas em Abril de 2013 e sucedeu o então líder socialista Hugo Chávez.
O governo acusa “grupos fascistas” de tentarem tramar um golpe de Estado, como aquele que tirou Chávez do poder por um breve período há 12 anos, enquanto a oposição protesta contra a forte repressão do governo aos manifestantes pacíficos.
Manifestantes contrários ao governo vêm bloqueando ruas com lixos e por vezes montando trincheiras com fogo. A polícia e a Guarda Nacional respondem com gás lacrimogénio para dispersar as pessoas e desfazer os bloqueios. O governo tem pedido mais atenção para os Estados de Tachira e Merida, mais à oeste, onde já anunciou “medidas especiais” para retomar a ordem.
Os dois lados – contrários e favoráveis a Maduro – já realizam passeatas neste sábado. Em Caracas, imagens da TV estatal mostravam milhares de mulheres partidárias de Maduro reunidas nas proximidades do centro da cidade antes da marcha prevista “pela paz e pela vida”, que se dirige à sede do governo. Ao mesmo tempo, milhares de opositores carregavam bandeiras laranjas do partido opositor Vontade Popular num comício convocado numa zona ao leste da capital.