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Morre escritor alemão Guenter Grass, autor de “O Tambor”, aos 87 anos

O escritor alemão Guenter Grass, ganhador do prémio Nobel e autor do drama épico da era nazista “O Tambor”, morreu nesta segunda-feira aos 87 anos, disseram os seus editores. Grass ignorou a tradição alemã de manter uma distância intelectual, insistindo que o dever do escritor era estar na linha de frente do debate moral e político.

Para muitos, ele era a voz de uma geração alemã criada na Segunda Guerra Mundial que suportou o peso da culpa dos seus pais pelas atrocidades dos nazistas, embora a revelação tardia, em 2006, de que tinha servido na Waffen-SS nazista quando adolescente tenha lançado algumas dúvidas sobre a sua autoridade moral.

Grass nasceu na cidade portuária do báltico de Danzig, hoje Gdansk, na Polónia, em 1927, e grande parte da sua ficção passa-se na cidade.

Ele morreu num hospital de Luebeck, perto da sua casa no norte da Alemanha. Os editores não deram detalhes sobre a causa da morte.

Embora louvado como um inovador literário pelo seu estilo realista mágico, Grass utilizava mais as plataformas públicas para transmitir as suas ideias sobre assuntos como energia nuclear e a responsabilidade histórica alemã do que para discutir o processo de escrita de romances.

Experiente militante de esquerda, Grass era uma figura imponente nos esforços da Alemanha Ocidental para manter as portas abertas para os governos comunistas do leste durante a Guerra Fria. O autor teve um relacionamento turbulento com o Partido Social Democrata, de centro-esquerda, criticando quando o partido juntou-se ao governo conservador nos anos 1960, mas fez campanha para Willy Brandt, o primeiro chanceler pós-guerra do partido no anos 1970.

O líder do Partido Social Democrata e vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, disse que, com a morte de Grass, “perdemos um dos escritores mais importantes da história alemã pós-guerra e um autor engajado e militante da democracia e liberdade”.

REVELAÇÃO SOBRE WAFFEN-SS

Ao premiá-lo com o Nobel da Literatura em 1999, a Academia Sueca descreveu um dos seus últimos trabalhos, uma série de ensaios chamada “Meu Século” (1999), como a mostra de “uma visão particularmente aguçada para entusiasmos chocantes”.

Com menos de 12 anos quando a guerra eclodiu, Grass foi forçado, como muitos outros jovens, a juntar-se a organizações paramilitares, e entrou na Juventude Hitlerista aos 14 anos. Seleccionado para uma divisão de tanques da Waffen-SS em 1944, experimentou os horrores da guerra quando mais de metade da sua companhia, na maior parte jovens de 17 anos, foi dilacerada em três minutos de tiroteios.

O fato de não ter revelado esta parte da sua história até 2006 gerou acusações de que foi hipócrita ao atacar outros por falharem em enfrentar o passado nazista alemão.

Quando a Alemanha rendeu-se em 1945, Grass foi prisioneiro americano por pouco tempo. Após a guerra, trabalhou numa quinta, numa mina de potássio e foi aprendiz de pedreiro antes de estudar escultura em Duesseldorf e Berlim ocidental.

Começou a escrever poemas e peças no início dos anos 1950, trabalhou como jornalista, tocou numa banda de jazz e ilustrou alguns dos seus próprios livros.

Em 2012, o seu poema rotulando Israel como ameaça à paz mundial o tornou permanentemente banido de viajar para Israel, cujo acto Grass comparou ao tratamento dado a ela pela Stasi, polícia secreta da Alemanha Oriental.

“Por que só digo agora… que o poder nuclear de Israel coloca em risco a paz mundial, que já é frágil? Porque isto precisa ser dito já que pode ser tarde demais para ser dito amanhã”, escreveu no poema, que foi criticado por algumas pessoas na Alemanha como anti-semita.

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