Deixem a energia nuclear, e façam isso rápido. Esse foi o recado dado, Quarta-feira (1), por moradores de Fukushima às autoridades japonesas numa audiência pública sobre a política energética, realizada numa região devastada por um desastre nuclear que fez disparar a oposição à energia atómica.
A audiência de Fukushima, a nona entre 11 planeadas no país inteiro, tinha como objectivo colectar opiniões sobre o papel da energia nuclear na matriz energética nacional, num momento em que o governo sofre para cobrir um deficit de electricidade que poderá afectar o crescimento económico japonês.
Um terremoto e um tsunami em Março de 2011 destruíram parte da usina de Fukushima, causando um despejo de radiação e a retirada de mais de 160 mil moradores da área, que fica no norte do país.
Nos meses seguintes, todas as usinas nucleares japonesas foram paralisadas para passarem por verificações de segurança. Dois reactores foram religados, mês passado.
“Quero que todos os reactores no Japão fechem imediatamente e sejam eliminados”, disse uma mulher grisalha, que disse ser agricultora a viver a 65 quilómetros da usina de Fukushima.
“Muitas pessoas agora estão cientes de que a conversa do governo de ‘não haver risco imediato à saúde’ equivale a ‘risco de longo prazo para a saúde”’, disse a mulher, que foi muito aplaudida por cerca de 200 moradores que lotavam um pequeno auditório na sede da prefeitura (província).
Goshi Hosono, ministro encarregado da reacção à crise nuclear, foi interrompido ao pedir desculpas pelo sofrimento das pessoas em Fukushima. “Nunca esquecerei o que ouvi hoje, e estou determinado a fazer tudo o que puder.”
Os promotores de Fukushima lançaram, Quarta-feira (1), uma investigação depois de mais de mil moradores terem apresentado queixas-crimes contra 15 actuais e ex-funcionários da empresa Tepco, que administra a usina, inclusive Masataka Shimizu, ex-presidente da companhia.
Além disso, 18 funcionários do governo também serão investigados, segundo um advogado do grupo. Uma investigação paralela foi iniciada por promotores em Tóquio.
Uma comissão de especialistas nomeada pelo Parlamento concluiu, mês passado, que o desastre poderia ser evitado e que a falha na prevenção ocorreu por causa dum “conluio” entre a empresa energética, as agências reguladoras e o governo.
“Depois de ler o relatório da comissão nomeada pelo Parlamento, os promotores não poderiam ficar de braços cruzados’, disse à Reuters Hiroyuki Kawai, advogado dos queixosos.