Promover actos de violência contra a mulher é retardar o progresso da sociedade, além de destruir sonhos. Na cidade de Mocuba, a violência doméstica é suportada a nível cultural e tradicional, razão pela qual o número de mulheres que enfrenta aquela situação tende a crescer a cada dia que passa. Perante as frequentes agressões físicas e psicológicas, elas não denunciam os casos às autoridades competentes. A necessidade de preservar o casamento está na origem do silêncio.
Numa altura em que se fala da necessidade de se promover a igualdade do género, na cidade de Mocuba o cenário é estritamente diferente. Os homens continuam a pensar que têm a “prerrogativa” de espancarem as suas esposas.
Naquela circunscrição geográfica, ainda predomina a ideia de que o homem é autónomo e as suas decisões não devem ser repudiadas ou contrariadas pela sua parceira. As tribos nativas atribuem aos “machos”, o poder de agredirem as suas respectivas mulheres, caso ela faça algo que não seja do consentimento do marido.
Ser violentada fisicamente e não denunciar às autoridades policiais tornou-se algo rotineiro, sobretudo no seio das mulheres casadas tradicionalmente. O acesso restrito à informação e a escassez de meios para a divulgação das leis que regem a emancipação da mulher contribui para o aumento dos casos. Embora a maior parte das obras culturais e literárias esteja virada para a igualdade do género, as mensagens não são muito difundidas na nova Zona Económica Especial.
A título de exemplo, alguns grupos teatrais de referência no nosso país desdobram-se no sentido de produzirem trabalhos discográficos que abordam a situação actual que a maior parte da sociedade moçambicana enfrenta: a violência doméstica contra a mulher e a rapariga.
A prática está a afectar a vida de muitas mulheres. Esconder a tristeza num belo sorriso e mostra que a relação no lar prossegue num mar de rosas para não perder o casamento transformou-se num refúgio das vítimas.
Segundo apurámos, quando a esposas enfrentam os maridos procurando assistência jurídica para a resolução de conflitos, elas perdem o lar. Há registos de pelo menos 10 casos que acabaram em separação. Os líderes comunitários mostram-se preocupados com a situação, pois a cada dia que passa ela vai ganhando contornos alarmantes.
Dados colhidos pelo Gabinete de Atendimento da Mulher e da Criança Vítimas de Violência Doméstica no distrito de Mocuba dão conta de que dezenas de mães são torturadas pelos maridos por casos passionais, na sua maioria sem fundamento lógico.
Cidália Inverno, de 42 anos de idade, mãe de quatro filhos, é uma cidadã cuja vida era pautada por discussões e pancadaria protagonizada pelo marido. El levou o caso às autoridades competentes, tendo, de seguida, o seu companheiro sido responsabilizado pelos actos, mas o casamento rompeu-se após a resolução do conflito.
Segundo a nossa interlocutora, as discussões enraizavam-se na sua maioria em crises de ciúmes. O seu companheiro ordenava-lhe que não saísse de casa e, muito menos, que conversasse com as amigas, pois ela poderia enveredar pelo negócio do sexo, e aquela senhora repudiava a atitude e defendia, igualmente, que é livre e autónoma de escolher as suas amizades. “A minha vida resumia-se à pancadaria e discussões. O meu marido queria que eu ficasse somente no quintal e não tivesse amigas para conversar, e quando eu repudiasse isso, ele espancava-me até o dia que decidi levar o caso às autoridades. Primeiramente, eu recorri aos líderes comunitários que, por seu turno, encaminharam a questão ao Comando Distrital da PRM em Mocuba”, sustenta.
O @Verdade soube de Cidália Inverno que o seu marido a proibia de frequentar a igreja e demais lugares de grande concentração populacional.
Após a separação, a cidadã arranjou um emprego e tornou-se chefe de família, garantindo os estudos dos seus quatro rebentos. Com o andar do tempo, ela envolveu-se numa nova relação, tendo posteriormente contraído o matrimónio.
“As vítimas sofrem no silêncio”
Conversámos com uma cidadã de 39 anos de idade que não quis ser identificada. Ela é mãe de cinco filhos, empreendedora e reside na periferia do bairro Marmanelo, arredores da cidade de Mocuba. A sua vida tornou-se um verdadeiro calvário, quando o seu cônjuge começou a consumir bebidas alcoólicas.
Todas as vezes que ele chegasse à casa embriagado, espancava a esposa.A nossa interlocutora relatou-nos que a situação começou a afectar os seus filhos, uma vez que já não gozavam da devida atenção dos pais que só viviam em pancadaria. “A minha vida tornou-se um inferno quando o meu marido começou a ingerir bebidas alcoólicas”, lamentou a cidadã que, apesar do sofrimento por que passa, nunca denunciou o caso às autoridades, temendo destruir o seu casamento. Da última vez que aquela cidadã foi espancada, fracturou a perna direita.
Mulheres empreendedoras
O comércio informal na cidade de Mocuba é galvanizado por mulheres. O espírito empreendedor baseado na crença de que as condições de vida mudarão é o que motiva as comerciantes que desenvolvem as suas actividades nas artérias da nova Zona Económica Especial da Zambézia.
É notória a participação da mulher na luta contra a dependência dos homens nos lares, embora sejam fustigadas pelas acções de violência doméstica. O mercado central da cidade, algures do Hospital Rural de Mocuba e imediações dos estabelecimentos de ensino são os lugares privilegiados pelo facto de acolherem molduras humanas. De referir que o distrito e cidade de Mocuba são dirigidos por mulheres.