Moçambique, que se antecipou a outros nas medidas de prevenção da covid-19 e entrou esta semana no 3º mês do Estado de Emergência com medidas de nível 3, passou a constar da meia centena de países no mundo onde a pandemia está a ganhar velocidade, anunciou neste domingo o Dr. Ilesh Jani que alertou “esta tendência se continuar pode significar um mês de Junho mais complicado para nós”, onde actuais 254 casos positivos podem quadruplicar para perto de mil infectados.
No balanço da 10ª semana epidemiológica o director-geral da única instituição pública que realiza testes da covid-19 mostrou que apesar de terem sido testados 2.314 casos suspeitos a taxa de positividade continua a ser de 2,3 por cento e, embora os novos casos estejam a ser diagnosticados em bairros muito populosos de várias capitais provinciais, os dois óbitos residiam em subúrbios das cidade de Nampula e Pemba, a estratégia de controle da pandemia ainda não é realizar testes em massa.
“É preciso entender que a testagem não é uma estratégia de controle, ela responde a uma estratégia de controle. Nós fizemos a testagem em massa no acampamento de Afungi em resposta a uma estratégia que para ali foi delineada, todos os indivíduos foram testados e alguns foram testados até 3 vezes. A estratégia de controle neste momento, dado que estamos com uma epidemia baseada em focos de transmissão, que o Ministério (da Saúde) está a implementar não se iria beneficiar da testagem em massa, nós iremos fazer testagem em massa quando sob o ponto de vista da estratégia de controle isso de justifique”, argumentou o Dr. Jani.
Falando em conferência de imprensa na capital moçambicana o director-geral do Instituto Nacional de Saúde (INS) admitiu “é verdade que temos encontrado focos de transmissão bem definidos em alguns bairros e algumas cidades”, porém ainda não faz sentido criar cercos sanitários nem testar os residentes desses focos da covid-19 em Moçambique. “O que temos feito é identificação dos focos de transmissão, mapeamento de todos os contactos, colocação dos contactos em quarentena, testagem dos contactos e através disso controlamos os focos de transmissão. Eventualmente que a nossa epidemia mude de padrão de transmissão nós iremos considerar a estratégia de controle e aplicar a estratégia de testagem mais apropriada”.
O responsável pelos epidemiologistas que tentam travar a propagação do novo coronavírus em Moçambique revelou que analisando várias fontes de dados de mobilidade, “o que temos verificado é continua a haver uma tendência de movimento inter-provincial embora estejamos a aplicar medidas de nível 3 de contenção continuamos a ver que há um movimento inter-provincial substancial e é esse movimento que provoca focos em províncias onde antes não registávamos transmissão”, em alusão a identificação de doentes nas províncias de Nampula, Zambézia e Niassa.
254 casos positivos podem quadruplicar para perto de mil infectados em 1 mês
No início da 11º semana epidemiológica da covid-19 o Dr. Ilesh Jani notou que “continua-se a observar a tendência de mudança de perfil clínico dos casos, com o registo de mais casos sintomáticos e de dois óbitos”. O perfil dos pacientes que inicialmente eram homens e jovens, passou a incluir cada vez mais mulheres e crianças. “As mulheres fazem agora 25 por cento da nossa epidemia e temos mais crianças a jogarem um papel importante na nossa epidemia”, tendo argumentado que ainda não existe transmissão comunitária apesar da “maior parte dos casos são moçambicanos e a transmissão dentro do nosso país é cada vez mais dominante”.
No dia em que teve início o 3º mês do Estado de Emergência o director-geral do INS disse que os dados epidemiológicos mostram que a velocidade pandemia no nosso país é “duas vezes mais rápida que a média global (…) Moçambique tem um tempo de duplicação de 15 dias e a média global é de 33 dias”, tendo explicado que “quanto menor for o tempo de duplicação do número de casos quer dizer que a epidemia está a evoluir com maior velocidade, quanto maior for o número a epidemia está a evoluir de forma mais lenta”.
“Numa análise que nós fizemos sobre os 50 países do mundo que tem a taxa de duplicação mais rápida 23 deles são africanos, portanto existem muitos países africanos que estão a ter uma evolução mais rápida da epidemia. Destes 23 países africanos, oito são da África Austral: Malawi, Zimbabwe, Comores, Madagáscar, África do Sul, República Democrática do Congo, Moçambique e Zâmbia. Países da nossa região estão entre os 50 do mundo onde a epidemia está a ganhar velocidade”, revelou o Dr. Jani.
De acordo com o responsável dos epidemiologistas moçambicanos, “quando comparamos o mês de Maio e Abril vemos que realizamos quase cinco vezes mais testes e encontramos duas vezes e meia mais casos positivos, esta tendência se continuar pode significar um mês de Junho mais complicado para nós”, alertando que os actuais 254 infectados podem transformar-se em quase mil durante os próximos 30 dias, e ainda não teremos atingido o pico da pandemia em Moçambique.