Moçambique está a percorrer “promissores caminhos” na área das novas tecnologias, como a criação, nos próximos anos, de uma agência espacial, e o uso de telemedicina e transportes eléctricos.
Esta avaliação pertence à direcção da Critical Software e foi expressa publicamente semana passada em Maputo. Dois anos depois da criação da sucursal moçambicana da empresa portuguesa Critical Software, o país começa a preparar “um futuro promissor em novos caminhos”, considerou o presidente da empresa, Gonçalo Quadros, num encontro com jornalistas, em Maputo, sexta-feira.
Presente no país desde 2001, a Critical Software tem vindo a trabalhar com diversas instituições moçambicanas e em projectos do Governo, prevendo atingir, até 2014, um volume de negócios no valor de 3,2 milhões de euros, segundo o Plano Estratégico de Investimento para Moçambique 2010-2014, MozaTech201X, apresentado há cerca de uma semana.
O plano inclui a instalação de um dos seus Centros de Engenharia para o Sector das Telecomunicações no país, o recrutamento e treino de jovens quadros moçambicanos, bem como a participação da filial na futura Agência Espacial Moçambicana.
Meios para gerir o país
Com cerca de 800 mil quilómetros quadrados de área total, várias fronteiras terrestres e uma longa costa marítima, Moçambique “precisa de satélites para responder aos desafios de gestão do território”, defendeu Gonçalo Quadros.
“Não se trata de colocar moçambicanos no espaço, mas de criar uma organização que seja capaz de gerir os recursos do território e fazer com que estes cheguem ao público de uma forma economicamente viável”, explicou, durante o encontro, o responsável pela engenharia da empresa, Luís Figueiredo.
Segundo Luís Figueiredo, comprar fotografias de satélite é “caríssimo”, mas, salientou, o país “não pode sobreviver sem controlo do espaço aéreo, sem saber como estão a ser explorados os recursos centrais, sem saber quantos barcos tem a pescar nas suas águas”.
“Aquele sector que vemos como mais tradicional, a agricultura, é, se calhar, o primeiro a precisar desse tipo de informação e, obviamente, o Estado vai poder beneficiar com isso”, considerou o engenheiro, para quem é “urgente” abordar a questão. Por outro lado, acrescentou o director executivo da sucursal, Rui Pereira Melo, esta nova tecnologia via satélite pode levar as comunicações às aldeias do país, “onde as soluções tradicionais não conseguem chegar”.
“É um projecto que o Ministério da Ciência e Tecnologia tem tentado impulsionar e tem-nos contactado muitas vezes para desenvolver a ideia”, adiantou o engenheiro da Critical Software, a qual “pode vir a dar uma ajuda, face aos contactos que tem com a Agência Espacial Europeia (ESA) e com a NASA”.
Rui Pereira Melo acredita que “em 2011 poderá haver um estímulo nessa matéria”. A longo prazo, e fora do Plano Estratégico para 2010-2014, a direcção da Critical Software tem ainda em vista outros projectos como a telemedicina (usando, por exemplo, as infra-estruturas da televisão por cabo) e a implementação do transporte eléctrico.
Como explicou o director, a empresa tem também competências na área dos transportes apoiados em monitorização eléctrica e equipamentos não tripulados (para distâncias curtas), pelo que poderá trazer “o conceito” para Moçambique.
Rui Pereira Melo considera que “há algumas tentativas no território, em termos de um transporte eléctrico que se mova na zona da Baixa da cidade” e confirmou já existirem “alguns contactos exploratórios”, embora defenda não ser um projecto prioritário para o país.
No momento em que o Governo moçambicano aplica as medidas de austeridade anunciadas em Setembro, e apesar dos “constrangimentos económicos e prioridades”, o director acredita que existe “vontade” do Estado em incrementar estas novas tecnologias, pois “percebe que são as vias para avançar muito mais depressa”.