Celebrou-se esta quinta-feira, 4 de Outubro, o dia da paz. As cerimónias centrais aliadas a um encontro ecuménico tiveram lugar na Praça da Paz, na cidade de Maputo. A efeméride é celebrada por alusão à assinatura, sob a égide da Igreja Católica, do Acordo Geral da Paz, em Roma, capital italiana, entre a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e movimento rebelde, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Foi o marco do fim de um conflito armado que durou 16 anos, tendo causado mais de um milhão de mortes, quatro milhões de deslocados e todas as infra-estruturas destruídas.
Esta quinta-feira (04), 20 anos depois, logo ao despontar do dia, milhares de moçambicanos, incluindo membros do Governo, do Corpo Diplomático, entre outras personalidades, deslocaram-se à Praça dos Heróis Moçambicanos para testemunhar a deposição de uma coroa de flores em memória daqueles que directa ou indirectamente deram as suas vidas a busca da paz para, pondo fim ao conflito armando que durante 16 anos assolou o país.
Depois de se ter revisitado aquele lugar histórico para os moçambicanos, as festividades do dia da paz, prosseguiram na Praça da Paz, em Maputo. Foi naquele local que decorreu igualmente um encontro entre várias confissões e comunidades religiosas do país.
Tanto num como noutro lugar, esteve presente o Chefe do Estado moçambicano, Armando Guebuza, acompanhado pela sua máquina governativa. Guebuza afirmou que a celebração dos 20 anos da paz no país, reveste-se de um grande valor histórico e patriótico porque foi a busca deste bem precioso e indispensável para a humanidade, que milhares de moçambicanos morreram durante os 16 anos de guerra civil, opondo o Governo da Frelimo e a Renamo.
“Quando uma pessoa completa 20 anos de idade, chegou a uma fase em que se deve questionar o que terá feito durante todo este tempo. Igualmente, 20 anos de Paz em Moçambique são revestidos de muitos feitos sociais e económicos. É a base da paz, da tranquilidade, da estabilidade política que nós podemos desenvolver o nosso país social e economicamente”, afirma o Presidente da República.
Num outro desenvolvimento Armando Guebuza disse que é dever de cada moçambicano a consolidação da paz aonde quer que esteja. Para o chefe do Estado, a alternativa a paz é a própria paz.
“A paz não se circunscreve apenas ao calar das armas”
Para o antigo estadista moçambicano e igualmente co-signatário do Acordo Geral de Paz em Roma, Joaquim Chissano, o processo visando a conquista da paz em Moçambique foi longo e sinuoso. Segundo afirma, estes acordos tiveram muitos antecedentes, episódios diferentes, mas uma coisa os unia, a busca da paz e a sua consolidação. “A paz não se circunscreve apenas ao calar das armas ou a ausência de conflitos armados.
A Paz, está para além disso. Ela deve estar no interior de cada moçambicano. Nós mais do que estarmos em paz, temos que ser a própria paz”, comenta o antigo Presidente da República, acrescentando de seguida que alcançada que foi a paz há 20 anos, a cada um dos moçambicanos cabe a sua consolidação para que ela seja efectiva.
Joaquim Chissano que a 4 de Outubro de 1992 sentou-se à mesma mesa com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, disse ainda que é preciso que os moçambicanos tenham a cultura de Paz, onde sem ela não se sentem a vontade. “A cultura de paz é uma maneira de ser, de estar e de viver, a qual nos identifica como moçambicanos. A paz que gozamos hoje custou várias vidas humanas, por isso em memória desses nossos compatriotas, valorizemos, respeitemos e acima de tudo consolidemos a Paz, esta é a missão de cada um de nós”, acrescenta. A conquista da Paz em Moçambique mexeu com vários países do mundo, razão pela qual, o antigo representante do Governo da Itália e coordenador das negociações dos acordos de Roma, Mário Rafael, afirma que com a paz, deu-se por terminado o horror do troar das armas neste país. “Quando soubemos que Itália tinha sido consensualmente escolhida pelas duas partes opostas, para assinar o Acordo Geral de Paz, não só sentimo-nos regozijados, como também, deu para perceber quanta falta a paz fazia para os moçambicanos e que só através dela restituir-se-ia a dignidade a este povo”.
Orações pela Paz
Por sua vez, os representantes das confissões e comunidades religiosas presentes no encontro ecuménico em prol da passagem do 4 de Outubro, foram unânimes em afirmar que há celebração dos 20 anos de paz, são motivo de muita festa e satisfação. Mas também é tarefa de cada moçambicano tudo fazer para a manutenção e consolidação efectiva da paz.
Aliás, a tónica das orações feitas pelas comunidades religiosas era de que já não há espaço para a violência, muito menos o retorno à guerra. O diálogo é um dos caminhos mais recomendáveis para a resolução de qualquer problema ou conflito, por isso, os moçambicanos não devem descurar este mecanismo.
A nossa reportagem abordou à margem das celebrações do Dia da Paz no país, o ministro da Indústria e Comércio, Armando Inroga, para quem, 20 anos da paz para um Estado jovem como o Moçambique, significa um bem comum e inalienável. Segundo aponta, “há muitos frutos que advieram da paz, sem querermos nos apegar a questões de índole material, posso dar o exemplo do facto de os moçambicanos poderem viver a tranquilidade, já podem praticar as suas actividades económicas, enfim, não se pode comparar o Moçambique de hoje com o de há cerca de duas décadas”.
Para o ministro das Obras Públicas e Habitações, Cadmiel Mutemba, a conquista da paz, foi um pretexto para a reconstrução do país como Estado e como Nação. Fazendo uma pequena retrospectiva, Mutemba, afirma que a guerra trouxe incalculáveis danos humanos e materiais.
“Quanta infra-estrutura os moçambicanos perderam devido a guerra? Imaginas o que seria do nosso país se não tivéssemos passado pela guerra civil?”, questiona, acrescentando que durante os 20 anos de paz, um dos grandes ganhos, foi a reconstrução do país face aos escombros e ruínas deixados pelo conflito armado.
Entretanto, a presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, desafia os moçambicanos para que contribuam tanto quando poderem no sentido de consolidar a paz. “Se alguns lutaram para a conquista da paz, então os que não fizeram parte dessa batalha, tem o dever de consolidá-la. Isto significa que os outros não devam consolidar a paz, mesmo sabendo que esta é no fim ao cabo, a tarefa de cada um de nós”, ajunta. Para Macamo, 20 anos de paz revestem-se de enorme importância, simbolismo e valor histórico. Porém, mais do que constituir um momento de festa, deve servir de profunda reflexão, onde cada um de nós pergunte a si próprio o que tem feito para a consolidação da paz.