Muitas vezes, as mulheres (e não só) têm sido obrigadas a reiniciarem o tratamento ou a deslocarem-se aos hospitais onde tenham sido atendidas anteriormente devido à falta de um serviço de controlo médico-hospitalar no Sistema Nacional de Saúde. Esta situação tem levado a que muitas pacientes desistam do tratamento ou a que façam os mesmos exames mais de uma vez.
Maria Cossa, de 36 anos, sofre de diabetes do tipo 2, doença diagnosticada em 2007 quando esta esteve de baixa no Hospital Central da Beira.
Devido às imposições da vida, teve de se mudar para a cidade de Maputo, em meados de 2011. Por desconhecimento, Maria não pediu uma guia de transferência para continuar os tratamentos na capital.
Num belo dia, dirigiu-se à maior unidade sanitária do país, Hospital Central de Maputo, a fim de fazer os exames de rotina. “Fiquei surpreendida quando o médico me disse que devia ser submetida a vários exames, alguns dos quais eu já tinha feito anteriormente.
Não me quis receitar os medicamentos alegadamente porque não conhecia o meu histórico e não sabia em que estágio estava a minha doença, apesar de eu ter mostrado algumas receitas. Não tive como recusar, era a minha saúde que estava em risco, mas gastei dinheiro sem necessidade. No fim, ele (o médico) descobriu que eu estava certa”.
Outra mulher que teve de passar por uma situação idêntica foi Joana Alberto, uma cidadã seropositiva proveniente do distrito de Chókwè, província de Gaza. “Comecei o tratamento anti-retroviral em Chókwè e, passado algum tempo, os meus filhos foram buscar-me porque não tinha condições de continuar lá, morava sozinha e já não tinha forças para ir à machamba”.
“Quando cá cheguei (à cidade de Maputo), fui apresentar o meu processo no Hospital do Alto-Maé para poder passar a receber os anti-retrovirais. Fiquei mais de dois meses à espera porque tinha de abrir uma nova ficha. Ao invés de continuar com o tratamento, tive de começar do zero”, conta.
Foi para evitar estes e outros casos que o Ministério da Saúde decidiu introduzir o “Cartão Mulher”, um serviço de controlo de procedimentos médico- -hospitalares a que são submetidas as mulheres.
Com esta inovação, cujo lançamento está previsto para este trimestre, o MISAU pretende garantir a segurança médica da mulher e facilitar o seu acompanhamento e controlo por parte das autoridades sanitárias. De acordo com o porta-voz do MISAU, Leonardo Chavana, este serviço vai responder à necessidade de se oferecer mais cuidados de saúde à mulher, principalmente na área da saúde materno-infantil.
“A assistência integral à saúde da mulher passa pela construção de uma nova forma de olhar para as necessidades específicas que esta apresenta. Isso obriga-nos a adoptar mecanismos cada vez mais eficazes para garantir o pleno bem-estar desta”.
Uma das vantagens deste serviço, segundo Chavana, é que o mesmo vai permitir o controlo contínuo e regrado dos procedimentos médico-hospitalares a serem levados a cabo numa determinada paciente (mulher).
“Isto vai permitir que a paciente continue a receber cuidados médicos, em caso de gravidez, de forma contínua, ou seja, ainda que saia de um ponto do país para o outro, esta continuará a beneficiar dos mesmos cuidados, sem precisar de repetir algum tratamento que, eventualmente, tenha antes cumprido numa outra unidade hospitalar”.
A introdução deste serviço foi despertada pela disparidade que se tem notado nas unidades sanitárias, no que diz respeito ao tratamento de certas doenças que atingem a mulher.
“Casos há em que numa unidade hospitalar a mulher recebe um certo fármaco referente ao tratamento de uma certa enfermidade, e quando se dirige a outra unidade, o fármaco é repetido, simplesmente porque o técnico de saúde não sabe que esta já havia o ingerido antes.”
De referir que as motivações para a adopção deste cartão, reservado à mulher, também se estendem a outros pacientes (homens), mas, devido à sua especificidade, o mesmo foi, nesta fase, criado especialmente para ela.
Chavana disse ainda que o uso deste cartão está directamente virado para a prestação de cuidados médicos materno-infantis. Ou por outra, o mesmo vai garantir às pacientes (gestantes) cuidados médicos contínuos, sem nenhuma repetição na administração de certos fármacos, como habitualmente tem vindo a acontecer.
“Queremos, com isto, criar uma rede nacional de cuidados hospitalares, garantindo que onde quer que a paciente esteja, receba a medicação certa”, finalizou a fonte.