Os 33 mineiros resgatados na semana passada no Chile prepararam-se para morrer debilitados, 700 metros abaixo da superfície, depois do brutal acidente que os soterrou em 5 de agosto, disse um dos operários, relatando também que o grupo temeu ter uma lenta agonia em decorrência da fome. “A gente sempre questionava-se por que não tínhamos morrido, por que ficamos vivos, nos parecia cruel que ficássemos vivos ali embaixo e depois tivéssemos de morrer debilitados, totalmente desnutridos”, afirmou Barrios na segunda-feira à noite.
O mundo comoveu-se ao saber, 17 dias depois da tragédia, que os mineiros haviam sobrevivido racionando o pouco alimento que tinham e bebendo água contaminada, e que conservaram o ânimo apesar da incerteza. Mas Barrios admitiu que esses primeiros dias foram cercados de angústia.
“Perdeu-se a esperança. Nos últimos dias, quando a sonda chegou ali (e descobriu que eles estavam vivos), todos já estavam esperando morrer.” Ele disse, no entanto, que ninguém tentou matar-se.
Nas profundezas, Barrios atuava como enfermeiro do grupo. Ele contou que havia discussões, mas “contato físico (violência) entre duas pessoas, não, (…) isso era totalmente proibido”. Evitar brigas, aliás, era uma das prioridades nas duas ou três reuniões diárias dos 33. “No momento em que nos reuníamos se falava das discussões, e a pessoa que estava errada deveria pedir perdão à outra”, afirmou, explicando que as divergências normalmente envolviam os prazos para as sondagens e o resgate.
TARZAN
Barrios ainda usa os sofisticados óculos escuros com os quais os 33 saíram da mina na quarta-feira passada, para se protegerem da claridade repentina após 69 dias na penumbra. Ele disse que a luz do sul dói “como uma agulha”, mas é necessária para fortalecer a pele.
O mineiro, que segue a profissão do pai desde os 17 anos, contou que “não houve momentos alegres” enquanto o grupo estava no subsolo. “O único momento de alegria era chegar em cima, pôr um pé na superfície e estar a salvo,” disse Barrios, que se lembra com “muita emoção” do momento em que abraçou sua companheira, Susana, ao deixar a cápsula que o retirou do fundo da mina, através de um túnel de 622 metros escavado para esse fim.
Num bairro humilde de Copiapó, com casas pequenas e ruas de terra, é fácil identificar a casa de Barrios: é a que tem cartazes com frases como “Não te rendas, Yonito”, “Este mineiro é meu, e é o mais valente.” O mineiro ficou especialmente famoso entre os 33 por causa da sua vida amorosa – ele foi “disputado” pela primeira mulher e a atual companheira, com quem vive há uma década. Ele sorri quando cita uma das mensagens escritas na parede da sua casa: “Que bom que meu Tarzan já vem”, escreveu Susana, que passou a chamá-lo assim referindo-se à sua coragem e valentia.
O apelido surgiu numa carta que o mineiro enviou a Susana. “Lá, eu escrevi que ela precisava conversar com Tarzan, e não com os macacos. Então, como eu solucionei-lhe esse problema, depois ela me chamava de Tarzan”, contou Barrios.