Militares prenderam este domingo o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, levado a princípio para uma base aérea, antes de ser trasladado à Costa Rica. Segundo testemunha ouvida pela Radiocadena Voces, quatro comandos de 200 soldados chegaram à casa do presidente às 06H00 (12H00 GMT).
Os militares deram “quatro tiros”, saindo, depois, em três veículos. Tanto o canal 36 quanto o canal 8 de televisão e o Maya TV (todos eles oficiais), assim como várias rádios saíram do ar. Momentos antes, o apresentador de notícias do canal 8 anunciou: “Parece que os militares estão a vir para cá”. Segundos antes de a imagem ser cortada, chegou a pedir à população para se concentrar na praça da Liberdade.
O canal de televisão Telesur, com sede em Caracas, noticiou em seguida que Manuel Zelaya foi levado para Costa Rica, uma notícia confirmada pela ministra costarriquenha de Segurança Publica, Janina del Vecchio. Em entrevista ao canal de televisão Telesur, o próprio Manuel Zelaya, ao chegar à Costa Rica, denunciou ter sido vítima de um “sequestro”, de “um golpe de Estado” e de um complô por parte de um setor do exército.
Em algumas regiões do país chegou a ser suspenso o abastecimento de energia elétrica. Em Tegucigalpa, centenas de pessoas foram às ruas para gritar “queremos Mel”, concentrando-se, aos poucos, ante a Casa Presidencial, fortemente protegida por dezenas de soldados e tanques. No sábado, o presidente Manuel Zelaya prosseguia decidido a não ouvir a oposição generalizada das instituições do país e de grande parte da população, insistindo em realizar neste domingo uma consulta popular que autorizasse uma reforma constitucional permitindo sua reeleição.
As urnas e o material para a consulta, tachada de “ilegal” pela justiça, já estavam sendo distribuídos entre as 15.000 seções eleitorais de todo o país, confirmou o presidente. Os partidários de Zelaya contavam com o apoio do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Manuel Zelaya travava uma disputa política com o Congresso e com o Tribunal Supremo de Justiça pela realização do referendo e disse que somente o povo tinha a legitimidade de desautorizá-lo, ante de rumores de que as Forças Armadas estariam planejando um golpe de Estado.
O Legislativo e o Judiciário do país consideram ilegal a realização da consulta popular e haviam pedido aos militares do país que desobedecessem as ordens do Executivo. Em discurso transmitido em cadeia nacional pelas emissoras de rádio e TV, Zelaya apareceu acompanhado de lideranças que apoiavam a realização do referendo, entre elas representantes sindicais, camponeses, indígenas, estudantes.
A consulta deste 28 de junho perguntaria aos eleitores se concordavam ou não com a realização de um referendo em novembro para convocar uma Assembleia Constituinte, que elaborasse uma nova Carta Magna para o país. Zelaya dizia que pretendia promover uma democracia participativa, que substituísse o atual modelo representativo.
Já a oposição o acusava de procurar uma forma para permanecer no poder após o fim do seu mandato, no dia 27 de janeiro de 2010. A UE e o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, condenaram em comunicado a situação do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, o que foi seguido por uma nota do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que se disse “profundamente preocupado” com a detenção de Manuel Zelaya por militares hondurenhos, pedindo a todas as partes respeitarem as “normas democráticas”.
Bem mais cedo, o presidente da Bolívia, Evo Morales, denunciou o “golpe de Estado militar” em Honduras contra o presidente Manuel Zelaya, e conclamou a comunidade internacional e movimentos sociais a condenarem esta “aventura” antidemocrática. “Faço um apelo a organismos internacionais, a movimentos sociais, a presidentes a condenarem e repudiarem este golpe de estado militar em Honduras”, disse Morales à imprensa, no palácio presidencial. “Já não estamos mais no tempo das ditaduras”, acrescentou.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, denunciou o que chamou de um “golpe de Estado” contra Manuel Zelaya, e pediu um pronunciamento a respeito do presidente Barack Obama, porque “o império ianque tem muito a ver” com estes acontecimentos.