Os militantes islâmicos estão a alterar o seu foco do sudoeste da Ásia para o norte da África, intensificando as acções violentas na região, disse o presidente da Tunísia, Moncef Marzouki, em entrevista publicada, esta Terça-feira (2).
Os políticos islâmicos moderados, reprimidos com violência durante décadas por ditadores árabes laicos, obtiveram poder e influência depois das rebeliões populares na Tunísia, na Líbia e no Egito.
Mas os grupos militantes armados, inclusive a ala norte-africana da Al Qaeda, também beneficiaram-se de lacunas na segurança interna durante as transições na região.
Marzouki disse ao jornal pan-árabe Al Hayat que alguns radicais salafistas da Tunísia têm ligações com a Al Qaeda, e que os países do norte africano vão formar até o fim do ano uma frente unida contra a crescente ameaça da militância islâmica.
“O centro do movimento terrorista está a deslocar-se actualmente do Afeganistão e Paquistão para a região do Magreb Árabe…, e o grande perigo está à nossa porta”, disse Marzouki. Segundo ele, os estimados 3 mil salafistas (radicais islâmicos) na Tunísia são “um cancro” para o país, o primeiro do mundo árabe a ter derrubado uma ditadura durante a onda de rebeliões populares da chama Primavera Árabe.
Marzouki, um político secular que governa em coligação com o partido islâmico moderado Ennahda, disse que negociar com os militantes é inútil, e que a ameaça representada por eles deve ser enfrentada por meios jurídicos.
“Os militantes estão presentes principalmente na Líbia e Argélia, especialmente no sul”, disse o presidente, referindo-se a zonas desérticas desses países, onde há escasso policiamento e uma tradicional resistência tribal à autoridade central.
“Há um problema de segurança actualmente a ameaçar toda a região do Magreb Árabe… Todas as nossas fronteiras meridionais estão ameaçadas por esse problema actualmente. É preciso haver uma resposta unificada de todos os países.”
Mês passado, os salafistas predominavam na multidão que atacou a embaixada dos EUA na Tunísia, num protesto contra um filme ofensivo ao profeta Maomé. Incidentes semelhantes ocorreram em vários outros países islâmicos, levando à morte do embaixador dos EUA na Líbia.
Depois disso, a Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) incentivou os muçulmanos a matarem mais representantes do governo dos EUA na região, especialmente na Líbia, Tunísia, Marrocos e Mauritânia.
A AQMI surgiu durante a guerra civil dos anos 1990 na Argélia, mas gradualmente ampliou-se para o sul, na direcção do Saara, e ganhou notoriedade nos últimos anos com atentados e sequestros de ocidentais.
Marzouki também defendeu o envio de uma força de paz árabe à Síria para evitar o caos numa eventual transição, caso o presidente Bashar al-Assad sucumba à rebelião que enfrenta há 18 meses.