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Michael Jackson deixa uma herança complicada para os negros americanos

No auge da glória, Michael Jackson bateu recordes de venda com a mensagem otimista de sua canção “Black or White”, de 1991, que afirmava que “negro ou branco, pouco importa”. Mas, na morte, como em sua vida, a realidade não é tão cor-de-rosa. As instituições culturais da América negra – do Apollo Theater no Harlem aos prêmios da televisão negra BET em Los Angeles – expressaram sua dor com a morte do jovem “Rei do Pop”. Para algumas pessoas dos bairros negros de Los Angeles, no entanto, Michael Jackson deixou uma herança complicada: um afro-americano que fez cair barreiras graça ao sucesso fenomenal, mas que se sentia mal na própria pele.

“Michael Jackson foi amado e sua falta será sentida em todo o mundo. Mas para os negros, há um pouco de polêmica, porque ele mudou a cor da pele”, explicou Bill Layne, 61 anos. Michael Jackson, filho de operário, que cresceu na cidade industrial de Gary em Indiana (norte), começou uma carreira de criança prodígio, com os traços fisionômicos característicos de sua raça.

Mas, nos anos 90, seu rosto foi ficando mais pálido e o nariz, cada vez mais fino. O cantor dizia que sofria de vitiligo, uma doença que acarreta a perda de pigmentação. Mas foi frequentemente acusado de ter embranquecido a pele, uma prática pouco comum nos Estados Unidos, mas conhecida em alguns países da África, principalmente em Gana.

Lawrence Tolliver, que possui uma barbearia no sul de Los Angeles há 40 anos, destaca que as duas ex-mulheres de Michael Jackson são brancas, e que seus três filhos não têm a aparência de ter uma gota de sangue negro. “Não há nada de mal nisto, há gosto para tudo, mas é mais uma prova de que ele não amava o que era”, diz Lawrence Tolliver.

No entanto, Michael Jackson sempre teve consciência de ser negro. Em 2002, acusou de racismo o dirigente da Sony Music, Tommy Mottola. E, nos últimos anos, demonstrava sua simpatia com a “Nação do Islã”, uma organização política e religiosa de defesa do orgulho negro. Muitos negros americanos o apoiaram durante anos difíceis.

Lawrence Tolliver disse ter chegado até a receber ameaças quando criticou o cantor durante seu julgamento por pedofilia. Para muitos, Michael Jackson foi o negro americano mais influente até a chegada do presidente Barack Obama. “Ele é uma das razões pelas quais Barack Obama é presidente”, declarou o ídolo do hip-hop Sean “Diddy” Combs durante a noite do BET. “Ele começou a mudar a maneira pela qual os negros são vistos no mundo”, disse.

O impacto de Michael Jackson, que vendeu mais de 750 milhões de álbuns, foi considerado fenomenal, mesmo num momento de globalização. A “Influence Communication”, uma empresa canadense de observação da mídia em 160 países, precisou nesta segunda-feira que sua morte foi manchete de primeira página em todos os países, com exceção de 12 nações, entre elas a China, o Irão e a Arábia Saudita.

“Michael Jackson representou a possibilidade de transcender a noção de etnia”, considerou R. L’Heureux Lewis, professor assistente do City College em Nova York, especialistas em relações raciais. Apesar da polêmica sobre o embranquecimento da pele, Lewis assegura que em maioria, os negros o apreciavam. “Nós criticamos nosso irmão, mas o amávamos ternamente”, concluiu.

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