O meio-irmão do presidente americano Barack Obama, Mark Ndesandjo, quebrou o silêncio e denunciou abusos infligidos pelo pai à família, em seu livro “Naiobi to Shezhen”, lançado esta quarta-feira em Guangzhou, na China.
Ndesandjo, que vive há sete anos na China, disse que escreveu o livro, descrito por ele como “semiautobiográfico”, depois de vários acontecimentos extraordinários – incluindo a eleição de seu irmão à presidência dos EUA – e para se reconciliar com seu passado. “Meu pai me batia e também batia em minha mãe. Isso não se faz”, disse, durante uma conferência de imprensa patrocinada pela Câmara de Comércio do Sul da China e com a presença de representantes do consulado americano nesta cidade.
“Lembro-me na minha casa, ouvindo os gritos. Escutei a dor de minha mãe. Como era criança, não podia protegê-la”, continuou. “Não me lembro nada de bom sobre meu pai”, concluiu. O pai de Barack Obama, de nacionalidade queniana, e sua mãe americana, se separaram quando o presidente tinha dois anos. Obama já fez referência ao caso algumas vezes, ao tratar de problemas enfrentados pelas crianças que crescem sem a presença do pai.
Ndesandjo, filho do falecido pai de Obama e sua terceira esposa, Ruth Nidesand, revelou aos jornalistas sua identidade durante a campanha eleitoral de Barack Obama. O escritor, que é parecido com o irmão e possui uma voz muito semelhante, lembrou cenas da noite eleitoral no Grant Park em Chicago, que o ajudou a superar muitos problemas.
“Eu vi a esperança e a alegria nos olhos das pessoas. Eu estava tão orgulhoso do meu irmão Barack. Isso acabou com o sofrimento sentido por muitos anos”, disse. Ndesandjo disse ainda que seu livro trata sobre um homem que foi forçado a confrontar as suas experiências da juventude no Quênia e nos Estados Unidos ao vir para a China após os atentados de 11 de Setembro de 2001.
Ele acrescentou que publicará seu segundo livro, uma autobiografia, nos próximos meses. “Eu quero contar a minha história, eu não quero que outros o façam”, afirmou. Ndesandjo, graduado nas universidades Stanford e Brown disse que deixou sua terra natal para ir morar na China ao perder o emprego. Atualmente, dirige uma empresa de consultoria em Shenzhen para ajudar a estabelecer o contato de exportadores chineses com norte-americanos.
Quando perguntado se havia algo que eu queria dizer a seu irmão, antes da primeira visita presidencial à China, marcada para 15 de novembro, Ndesandjo, que fala fluentemente chinês, disse: “Eu ajudaria não apenas meu irmão, o presidente Obama, mas o povo norte-americano (a entender) que a China é, essencialmente, ligada à família. A família é sempre um tema recorrente aqui”, disse.