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Marcos Muthewuye: “Sinto-me autónomo naquilo que me faz bem!”

Marcos Muthewuye: “Sinto-me autónomo naquilo que me faz bem!”

Depois da sua última exposição individual, “Esculto-ceramicando”, realizada recentemente em Maputo, imediatamente, o artista plástico moçambicano, Marcos Muthewuye participou na V edição do Muvart. Além de tudo, para si, fazer arte é uma expressão de autonomia…

Marcos Muthewuye é membro fundador do Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique (Muvart) que existe há 10 anos. Quando é que começa a sua relação com as artes plásticas?

Desde criança. Creio que quando desenhava nos meus cadernos, ainda no ensino primário. Recordo-me de que possuía um caderno (unicamente) reservado para o efeito, o famoso caderno sem linhas. Mas é a partir do meu ingresso na Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV), em 1987, que o gosto se intensificou, afinal, daí em diante, comecei a ter mais noções das artes.

De qualquer modo, creio que a minha relação com o mundo das artes ganhou um novo sentido na altura em que eu era estudante de nível médio, em Cuba, ido de Moçambique para dar continuidade à minha formação na área.

Porventura, teria sofrido alguma influência de outros artistas no processo da execução do seu trabalho?

De forma directa talvez dissesse “injustamente” que não. Contudo, tenho que reconhecer que os meus professores moçambicanos e estrangeiros na Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV), incluindo os cubanos, já em Cuba, influenciaram muito naquilo que faço hoje como artista.

No contexto artístico nacional, posso referir que a ceramista moçambicana Reinata Sadimba, pelo facto de nos últimos tempos trabalhar na Universidade Pedagógica, concretamente na Escola Superior Técnica, onde tem dado o seu saber aos estudantes e professores do Departamento de Desenho e Construção, de que faço parte, me tem influenciado na forma e na abordagem que desenvolvo nas minhas obras, muito em particular na escultura e na cerâmica.

Alguns vestígios da referida influência são notáveis nalgumas obras exibidas na minha última exposição individual realizada em Julho, em Maputo, sob o mote “Esculto-ceramicando”.

Que recursos tem utilizado na produção das suas obras?

Tenho usado diferentes recursos, materiais naturais e artificiais.

Fale-nos das dificuldades que tem enfrentado na actividade artística.

Penso que as dificuldades são inúmeras, mas as prementes são do ponto de vista de aquisição de material; muitas vezes tenho que alugar máquinas para a execução de algumas obras. Outro tipo de dificuldades que tenho enfrentado tem a ver com a falta de venda das obras, o que significa que o investimento usado na arte é obtido de outras fontes de rendimento. Realizar arte nas condições habituais de Moçambique é muito difícil, mas nem por isso os artistas desistem.

Para si, como é viver da actividade artística no nosso país?

Em Moçambique é muito difícil viver com base na actividade artística. De uma ou de outra forma, há artistas que conseguem viver com base na venda dos seus trabalhos e/ou adquirindo (bons) patrocínios.

Quem são os artistas moçambicanos que tem como referências?

São vários! Mas penso que, para citar alguns, personalidades como Noba Ngay, Malangatana e Naguib pela sua dinâmica, versatilidade, incluindo a maneira de estar na arte; Noel Langa e Reinata Sadimba pela força e persistência nos estilos de produção artística que apresentam podem ser consideradas referências.

Quais são as suas fontes de inspiração?

Invariavelmente, inspiro-me nos fenómenos sociais e culturais do mundo tradicional e contemporâneo.

Tem algum momento ideal para o exercício da arte?

Devia ser durante o dia e às primeiras horas na noite, mas não posso porque nesse momento tenho de cumprir com outras tarefas do meu local de emprego. Por isso trabalho a altas horas da noite inclusive de madrugada e aos fins-de-semana.

Nas diversas obras que teria projectado, qual foi a mais trabalhosa e/ou dispendiosa?

Quase todas são árduas porque muitas delas são compostas por várias peças; são as instalações mas (já que quer saber qual foi a mais dispendiosa), direi que é uma obra intitulada O Canto da Mãe e o Filho feita de cobre com base na técnica de repuxagem, a qual foi adquirida por um coleccionador algures em Portugal.

Obteve muitas (quase todas) premiações em Cuba. Qual é o seu sentimento diante de tantos galardões?

Tantos? Não creio que sejam muitos! Há muitos artistas que possuem uma lista enorme de prémios mas (bem, porque é de mim que se está a discutir), posso afirmar que me sinto lisonjeado e motivado para continuar a trabalhar na arte porque se trata de um mundo que me fascina. Penso que a mais-valia de tudo isso é que me sinto autónomo naquilo que me faz bem, a arte, ao mesmo tempo que me ajuda a contribuir para o enriquecimento da nossa cultura e, porque não, do mundo, o que para mim é positivo.

Tem sido referência para alguém no mundo artístico?

Não tenho conhecimento. Mas penso que é preciso trabalhar muito (ainda) para chegar a esse nível.

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