Milhares de manifestantes encheram as ruas de Hong Kong, encharcadas pela chuva, esta quarta-feira (1), aumentando a pressão sobre o governo pró-Pequim, que classificou a acção como ilegal e prometeu levar adiante as comemorações do dia da pátria.
No sexto dia da campanha em massa para ocupar sectores da cidade e expressar a fúria com a decisão chinesa de limitar a escolha dos eleitores na votação da liderança do país em 2017, houve pouco sinais de que o ímpeto esteja a diminuir – apesar dos temores generalizados de que a polícia use a força para afastar as multidões que paralisaram grandes trechos do importante centro financeiro asiático e afetaram os negócios, de bancos a joalherias.
Nem os trovões, os raios e a chuva pesada fizeram naufragar a determinação dos manifestantes, que se abrigaram debaixo de passagens cobertas enquanto os policiais com capas de chuva e chapéus observavam passivamente nas proximidades.
Durante o final de semana, o batalhão de choque usou gás lacrimogêneo, spray de pimenta e cacetetes para tentar apaziguar o tumulto, mas desde então as tensões diminuíram, já que os dois lados pareceram preparados para vencer pela teimosia, pelo menos até o momento.
Mas nas primeiras horas da manhã, centenas de manifestantes já se reuniam em torno das lojas de artigos de luxo e montavam barricadas improvisadas antecipando possíveis atritos.
Como na maior parte das regiões de Hong Kong, a presença policial era pequena. M. Lau, aposentado de 56 anos, disse que foi às ruas para protestar na década de 1980 e que quis fazê-lo novamente para mostrar solidariedade com o movimento que vem sendo liderado pelos estudantes, assim como por ativistas mais experientes.
“No final da manhã voltarei”, disse. “Quero ver mais. Os nossos pais e avós vieram a Hong Kong pela liberdade e pelo império da lei. Isto (a manifestação) é para manter o nosso sistema legal de 160 anos para a próxima geração”.
A China governa Hong Kong sob a fórmula “um país, dois sistemas”, que concede à ex-colónia britânica um certo grau de autonomia e liberdades não usufruídas na China continental, e o sufrágio universal é visto como uma meta futura.
Mas quando Pequim determinou, um mês atrás, que irá seleccionar os candidatos que querem concorrer ao governo de Hong Kong, os manifestantes reagiram raivosamente e pediram a renúncia do executivo-chefe do território, Leung Chun-ying.
Os líderes estudantis haviam dado um ultimato para que Leung se pronunciasse e se dirigisse às multidões antes da meia-noite da terça-feira, ameaçando ocupar mais instalações do governo e estradas públicas se ele não o fizesse.
Leung não aceitou a intimação, e disse que Pequim não irá ceder diante dos protestos e que a polícia de Hong Kong conseguirá manter a segurança sem a ajuda dos soldados do Exército de Liberação do Povo da China.
Os líderes do Partido Comunista da China em Pequim temem que os clamores por democracia possam espalhar-se pelo país, e vêm censurando agressivamente as notícias e os comentários nas mídias sociais sobre as manifestações em Hong Kong. Os protestos são os piores em Hong Kong desde que a China reassumiu o seu governo em 1997.
Na Grã-Bretanha, a reaçcão mais forte até agora foi a do secretário de Finanças, George Osborne, que exortou a China a buscar a paz e disse que a prosperidade da ex-colónia britânica depende da liberdade. Os Estados Unidos instaram as autoridades de Hong Kong a “exercitar a contenção, e os manifestantes a expressar as suas visões pacificamente”.
Os eventos também estão a ser observados com atenção em Taiwan, que tem uma democracia plena mas que Pequim considera uma província renegada que um dia deve ser reincorporada ao continente.