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Mais dois cidadãos linchados em Nampula e o mal está a cimentar-se

Mais dois cidadãos linchados em Nampula e o mal está a cimentar-se

Na cidade de Nampula, mais dois jovens, acusados de assaltos a residências, e supostamente surpreendidos nos locais do crime, caíram nas mãos de populares e estes lincharam-nos, sem dó nem piedade, recorrendo a sevícias de costume: tortura física, inclusive com instrumentos contundentes, e queima com combustível e pneus. Este é o décimo caso, no presente ano, de que se tem registo. Se a moda pegar, aquela urbe pode vir a ser uma das regiões do país onde as autoridades estarão no total descrédito por falta de capacidade para refrear o mal e por não responderem aos anseios da sociedade.

Em relação aos anteriores casos, não há conhecimento de medidas para o seu esclarecimento nem de gente presa em conexão com os mesmos. Mas não é só em Nampula onde os linchamentos tendem a ser frequentes e denunciam uma aparente passividade de quem devia envidar esforços no sentido de garantir a ordem e tranquilidade públicas, bem como a coesão social, em particular nas comunidades.

Na cidade da Beira, província de Sofala, há igualmente sinais de eclosão de violência endémica. Em uma semana, a população linchou pelo menos três prováveis gatunos e a última vítima, identificada pelo nome de Isac Manuel Sebastião, de 36 anos de idade, morreu a 06 Julho em curso, no bairro de Muchatazina, alegadamente por encabeçar uma quadrilha de assaltantes que criam terror na zona.

Os dois casos deram-se em zonas pobres, onde a população se queixa de todo o tipo de problemas, desde a ineficaz e/ou ausência da iluminação pública à falta de segurança, mormente a inexistência de uma autoridade com uma mão de ferro capaz de conter os males que estão na origem do desassossego dos moradores. Assim, os citadinos recorrem sistematicamente a soluções próprias e drásticas para escaparem às acções dos malfeitores.

Na madrugada da última sexta-feira (17), na zona suburbana de Nakipiche, bairro de Napipine, um jovem identificado pelo nome de Dukes Dinis, de aparentemente 23 anos de idade, foi surpreendido, segundo populares, a tentar arrombar a porta de uma casa na ausência dos proprietários, com o intuito de roubar. Este foi mais um sinal que revela um mal-estar na população, a qual se sente desprotegida e se queixa da ausência de instituições que funcionem e a protejam.

Um indivíduo que responde pelo nome de Alberto Costa, que vive perto da casa que seria assaltada, assegurou ao @Verdade que um dos vizinhos ouviu ruídos no domicílio e, ao aperceber-se de uma movimentação estranha, alertou outras pessoas mais próximas, através de mensagens no telemóvel. A informação espalhou-se como rastilho de pólvora e montou-se um esquema que culminou com a neutralização do suposto ladrão.

Depois de ser submetido a um interrogatório que visava apurar as razões que o levaram a invadir a casa de dono, numa madrugada, Dukes foi espancado mas a sua morte deveu-se ao facto de um dos integrantes do grupo de agressores ter puxado os seus órgãos genitais.

O princípio segundo o qual “todo o cidadão tem direito à vida e à integridade física e moral e não pode ser sujeito à tortura ou tratamentos cruéis ou desumanos”, de acordo com a Constituição da República, tem vindo a ser reiteradamente ignorado. O preceito de que “na República de Moçambique não há pena de morte”, que consta da mesma Lei, também não é observado. A população “caça”, pune, maltrata e mata pessoas acusadas de diversos crimes sem o mínimo de complacência.

A outra vítima, cuja identificação não foi possível apurar, encontrou a morte na noite do último domingo (29), no bairro de Murrapaniua, nas proximidades da Escola Primária Completa (EPC) 01 de Junho. Consta que o presumível ladrão também foi detido por populares quando se introduziu numa residência com o objectivo de se apoderar de vários bens.

Na mesma noite, uma multidão encurralou o individuo, desferiu golpes contra ele e, em seguida, ateou fogo no seu corpo com recurso a pneus e combustível. O cidadão perdeu a vida na presença de mirones, mas ninguém se comoveu com o seu sofrimento.

Para perceber o que a Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula tem feito com vista a garantir o patrulhamento e a segurança nos bairros, principalmente onde a criminalidade é considerada um problema preocupante, o @Verdade deslocou-se ao comando provincial, mas ninguém se mostrou disponível para se pronunciar, nem em torno das duas mortes.

O Departamento de Relações Públicas daquela subunidade anda às moscas, de há algum tempo a esta parte. Sérgio Mourinho, porta-voz da PRM, encontra-se a gozar a sua licença disciplinar e a sua substituta, Sizi Panguene, empreendeu um viagem, com carácter particular, segundo apurámos no local.

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