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Mais de dois mil moçambicanos refugiados no Malawi, muitos fogem das forças governamentais

Governo moçambicano nega atrocidades das FDS contra civis em Tete mas organização internacional desmente

Foto da VOAA presença de forças militares governamentais e do partido Renamo na província de Tete continua a amedrontar as populações locais que têm estado a abandonar as suas residências e procurar refúgio no vizinho Malawi. Ultrapassam os dois mil os moçambicanos nos campos de refugiados existentes nos distritos malawianos de Mwanza e Chikwaea e alguns deles afirmaram estar a fugir das Forças de Defesa e Segurança que incendiaram as suas habitações e mataram os seus parentes, “os militares chegaram em viaturas do Governo e queimaram casas e machambas e acusaram-nos de dar apoio aos homens armados do partido Renamo”.

“O filho de um tio meu foi assassinado à tiro a poucos metros de onde eu estava” relatou Flora Emberson à rádio Voz da América, que acredita que os militares que protagonizaram o acto pertencem às forças governamentais pois disseram suspeitar que a vítima estaria a ajudar os guerrilheiros do partido Renamo.

Outros cidadãos haviam relatado à agência de notícias Lusa que no dia 31 de Dezembro militares das forças de defesa e segurança tentaram transpor um cordão de segurança criado pelos homens armados da “perdiz” – que estão reagrupados na região de em Nkondezi, no distrito de Moatize, desde meados do ano passado – o que resultou num tiroteio. Filipa Cadeado, uma comerciante da região, disse que pelo menos seis casas foram queimadas quando as forças especiais da polícia moçambicana avançou sobre a sua posição.

Em Julho, após os militares da Renamo terem realizado dois ataques na província de Tete, os moçambicanos começaram a procurar refúgio no Malawi, particularmente nos distritos fronteiriços de Mwanza e Chikwaea, que distam cerca de meio quilómetro de Moçambique.

“Os militares chegaram em viaturas do Governo e queimaram casas e machambas e acusaram-nos de dar apoio aos homens armados do partido Renamo” contou à agência France Press Omali Ibrahim, um camponês de 47 anos de idade que está refugiado no campo de Kapise, no distrito de Mwanza, com a mulher e cinco filhos.

Também refugiado neste campo, onde existiam na semana finda 1.580 refugiados, está Luciano Laitoni e a sua família. “Teríamos sido mortos pelas forças governamentais se não nos tivéssemos escondido no mato durante dois dias” disse à agência France Press o camponês de 60 anos de idade que chegou ao Malawi cansado e com poucos haveres, “a nossa casa e o celeiro com milho foram incendiados” acrescentou.

“Nós somos apenas camponeses e nunca vimos os homens armados do partido Renamo, nós não somos da Renamo” declarou Charles Luka que não estava em casa quando esta foi queimada e não encontrou a sua mulher e dois filhos depois de mais esta acção atribuída às Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.

Foto da VOADe acordo com o jornal malawiano “The Daily Times”, citando fontes do Governo do Malawi e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR), aos cerca de 800 refugiados que chegaram em meados de 2015 têm se juntado desde Dezembro centenas de outros todos os dias.

“Neste momento ainda não fizemos o registo de todos mas temos indicações que ultrapassam as duas mil pessoas, e mais continuam a chegar” afirmou, na passada sexta-feira(08), Gift Rapozo, uma autoridade governamental do distrito de Mwanza, que disse ainda que a cada vez maior presença de militares das Forças de Defesa e Segurança na província de Tete é que tem estado a causar o pânico das populações moçambicanas.

Raposo afirmou também ao diário malawiano que os refugiados relataram ter sido alertados pelas autoridades em Tete para deixarem a região onde estão agrupados os homens do partido Renamo para sua própria segurança pois “tudo pode acontecer”.

Paz adiada sine die

A tensão política e militar não tem fim à vista, embora o Chefe de Estado, Filipe Nyusi, continue a afirmar publicamente o seu compromisso com a paz e em encontrar uma solução negociada a verdade é que as propostas apresentadas pelo maior partido da oposição têm sido sumariamente rejeitadas pelo partido no poder.

Afonso Dhlakama, o presidente do partido Renamo, que entende já não há nada para negociar e avisou que vai começar a governar “a partir de Março as províncias do Niassa, Nampula, Zambézia, Tete, Sofala e Manica”, onde reclama vitória nas Eleições Gerais de 2014.

As acções armadas das Forças de Defesa e Segurança intensificaram-se em vários pontos do país desde Outubro com uma alegada operação de recolha de armas que estão ilegalmente na posse dos homens da “perdiz”, e culminaram com um cerca a uma residência onde Dhlakama estava na cidade da Beira.

Sobre as armas na posse dos seus homens, e mulheres, o líder da Renamo já afirmou que “não somos um partido armado, temos apenas seguranças” cuja existência está prevista no protocolo do Acordo Geral de Paz, o qual para o partido no poder há 40 anos está caduco, pelo que já não regula nada no presente. “A Renamo não será desarmada, ninguém tente (…)”.

Refugiados não vão regressar a Moçambique brevemente

Foto da VOAAs condições de vida dos refugiados, que incluem muitas mulheres e crianças, são precárias, devido a falta de tendas, saneamento, água potável e alimentação. Bestone Chisamile, um alto responsável do Ministério do interior do Malawi, visitou o campo de refugiados em Mwanza na quinta-feira(07) e prometeu que a sua equipa iria fazer o levantamento das necessidades dos moçambicanos ali estabelecidos.

Entretanto a representante do ACNUR no Malawi, Monique Ekoko, que visitou os campos mostrou-se preocupada com a chegada de cada vez mais refugiados devido as limitações de espaço e falta de condições para os acolher.

“Os refugiados ainda temem pelas suas vidas pois afirmam que estão a ser perseguidos, alguns foram atacados, outros tiveram as suas casas queimadas e muitos dormiram em cavernas durante a fuga com medo dos tiros. Por isso precisamos de lhes dar muita assistência e por um período longo pois eles não irão regressar a Moçambique agora” afirmou Ekoko ao “The Daily Times” que acrescentou que o Governo do Malawi é responsável por cuidar dos refugiados como país de acolhimento.

O Malawi albergou milhares de refugiados moçambicanos durante a guerra civil envolvendo o Governo de Moçambique o a Resistência Nacional de Moçambique(RENAMO), entre 1977 e 1992.

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