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Mais 170 mil pessoas têm apenas uma refeição por dia em Nampula

A população da província de Nampula está na iminência de enfrentar uma grave crise de fome nos próximos tempos. Presentemente, um universo de 171 mil pessoas tem apenas uma refeição por dia, e a situação pode piorar. O facto deve-se à fraca produção agrícola na presente campanha, o que ditou uma redução em 22 e 17 porcento de cereais e leguminosas, respectivamente, da produção global de cerca de oito milhões de toneladas planificadas pelo governo provincial.

Até meados do ano passado (2014), o agricultor Armando Cuia, residente no distrito de Angoche, sentia-se um homem afortunado. Da porção de terra que detém, produziu mandioca, milho e amendoim para o sustento da sua família e para a comercialização. Porém, no ano em curso a sorte foi outra: perdeu a sua produção, por causa de fenómenos naturais. Assim como ele, muitos agricultores, assolados pelas piores adversidades climáticas dos últimos tempos, vivem na incerteza em relação ao que comerão nos próximos dias. Essa situação tem sido uma constante nas últimas campanhas agrícolas na província de Nampula.

O número de refeições diárias a nível dos agregados familiares reduziu drasticamente naquela província, devido ao fenómeno da podridão radicular da mandioca, base alimentar das famílias das zonas rurais nortenhas e das intensas chuvas, acompanhadas de ventos fortes que, nos princípios deste ano, destruíram cerca de 20 mil hectares de culturas diversas.

Dados preliminares da Direcção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar de Nampula apontam os distritos costeiros de Moma, Larde, Angoche, Mogincual e Mossuril, como os mais afectados, com um universo de 55.0241 pessoas em situação de vulnerabilidade.

De acordo com Joaquim Tomás, chefe dos Serviços Provinciais da Agricultura, para além dos distritos acima mencionados, o problema de insegurança alimentar, afecta, igualmente, as comunidades de Lili, Mahelene, Janga I e II (na cidade de Nacala-Porto), Memba sede, Geba, Miaja, Tropene, Maza, Cava, Simugo e Chipene (distrito de Memba), com pelo menos 100 mil pessoas.

Devido ao aumento dos caudais de alguns rios, muitos campos de produção ficaram inundadas, havendo comunidades nos quais a população não consegue ter uma refeição sequer por dia, uma vez que esgotou as suas reservas alimentares.

As comunidades de Corane, 7 de Abril, Nacoma, 25 de Setembro e Meconta-sede, com mais de sete mil carenciados, são disso o exemplo. Os distritos de Muecate, Murrupula e Ribáuè também não escaparam à acção destruidora das inundações, apesar da sua capacidade produtiva.

“O acesso aos alimentos dos agregados familiares é influenciado por vários factores naturais, políticos e económicos e, no caso de Nampula, as enxurradas, seguidas de estiagem durante a fase de desenvolvimento das culturas, afectaram a produção desta campanha”, frisou o chefe dos Serviços Provinciais da Agricultura em Nampula.

Segundo Tomás, prossegue ainda o processo de levantamento do número real das pessoas em situação de vulnerabilidade em todos os 23 distritos, acção que está a ser desenvolvida em coordenação com o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) e os governos locais. Os dados finais serão submetidos a uma análise na próxima sessão do governo daquela província, alargada a outros quadros do executivo, a ter lugar no dia 14 de Agosto.

Acções pontuais param mitigação da fome

Como uma das acções imediatas, o governo de Nampula está a investir aproximadamente 36 milhões de meticais na construção de sete represas e na reabilitação de outras 10 para o reforço do sistema de regadio em diferentes distritos daquela província. Paralelamente a esta actividade, está em perspectiva o processo de aquisição de 200 motobombas, cujo orçamento é avaliado em nove milhões de meticais.

Joaquim Tomás disse que a aposta da sua instituição é garantir a oferta de alimentos a partir da segunda época, de modo que a província não seja dependente, sob o ponto de vista alimentar.

A delegação provincial do INGC diz ter disponibilizado cerca de 35 mil toneladas de milho, de variedade matupa, as famílias cujos campos de produção foram arrastadas pela fúria das águas, acompanhadas de vendavais.

As pessoas que perderam os seus celeiros também receberam 14 toneladas de feijão nhemba e cinco de feijão manteiga, para além de 180 quilogramas de sementes de hortícolas. Trata-se de uma acção que também se enquadra no plano multissectorial com vista a mitigar o problema de subnutrição crónica que afecta grande parte das famílias daquela província do norte do país.

Refira-se que na presente campanha agrícola a província de Nampula planificou uma produção de cerca de oito milhões de toneladas de culturas diversas para alimentar mais de cinco milhões de habitantes. Desta produção, 873.313 toneladas são de cereais (milho, arroz, mapira e mexoeira), 6,467 mil de tubérculos e 371 toneladas de leguminosos. Aquele ponto do país prevê uma redução entre 22 e 17 porcento devido à situação das enxurradas, seguida de estiagem no período de desenvolvimento de culturas.

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