As imagens de homens mascarados atacando manifestantes dias depois da explosão dos protestos a favor de mais liberdade democrática em Hong Kong, em 28 de Setembro, deixaram claro que a máfia local continua aCtiva. À medida que milhares de manifestantes pró-democracia se amontoavam nos principais distritos comerciais e de negócios de Hong Kong, bloqueando avenidas e obrigando as lojas a fechar, o negócio administrado pelas máfias ou tríades chinesas foi afetado.
O caos vivido em 3 e 4 de Outubro no bairro operário de Mong Kok, onde manifestantes e opositores enfrentaram-se durante horas, acabou com a detenção de 47 pessoas, das quais pelo menos oito tinham relações com as tríades, informaram fontes policiais.
“O governo e a Polícia permitiram a tríades e pistoleiros que usam a violência atacar manifestantes pacíficos,” escreveu a Federação de Estudantes de Hong Kong, um dos organizadores das mobilizações civis nos dias posteriores.
A sua acusação, acompanhada de denúncias de manifestantes e de uma gravação na qual era possível escutar uma pessoa receber dinheiro para boicotar os protestos democráticos, levaram a polícia a deslocar cerca de 300 agentes para averiguar as intenções com as quais as tríades tinham entrado em cena.
Os investigadores também queriam comprovar se as tríades estavam a tentar pôr fim aos protestos, que tinham prejudicado os seus negócios, ou se tinham recebido dinheiro para atirar mais lenha na fogueira.
Apesar dos militantes pro-democráticos acusarem as tríades de se envolver nos assuntos políticos da cidade, alguns observadores consideram que sua principal motivação é o dinheiro.
Poder e dinheiro sempre estiveram presentes desde a criação da primeira tríade, uma sociedade secreta patriótica formada no século XVII para derrubar a dinastia Qing, que foi fundada pelos invasores manchus para conseguir a volta ao poder dos Ming.
No começo do século XIX, esta sociedade se desintegrou em grupos que começaram a operar de maneira independente em toda a China.
O papel das tríades de Hong Kong generalizou-se entre as décadas dos anos 60 e 70, quando os protestos populares contra a corrupção na Polícia obrigou a criação da Comissão Independente contra a Corrupção em 1974, um organismo que forçou uma legislação que obrigou algumas máfias a emigrar rumo ao sul da China.
“Com a chegada da cessão da colônia britânica à China, em 1997, as tríades de Hong Kong enfrentaram uma maior concorrência”, explicou à Agência Efe Sharon Kwok, uma pesquisadora especialista em tríades da Universidade de Hong Kong. “As organizações da parte continental estavam melhor organizadas e contavam com mais poder na região, o que está acontecendo agora é que as tríades estão mais desorganizadas, há menos coesão que antes”, disse Kwok.
Entre as mais poderosas se encontram três, Wo Shing Wo, 14K e Sun Yee On, com presença em Hong Kong, no sul China e no exterior. Segundo dados da polícia de Hong Kong, foram registradas cerca de duas mil denúncias de delitos relacionados com as tríades em 2013 e 2.844 pessoas detidas.
As tríades, que inicialmente se dedicavam ao tráfico de drogas, prostituição e extorsão, evoluíram os seus negócios rumo ao contrabando e à falsificação de mercadorias, como roupa, relógios, música, vídeo e aplicativos de informática, enquanto as mais poderosas também começaram a investir em Hong Kong no setor imobiliário e finanças.
Hoje em dia acredita-se que estes agrupamentos controlam sectores do jogo local, empresas de autocarros e comércios ambulantes, todos eles afetados pelas manifestações pro-democráticas que completaram 50 dias.