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Madrasta enterra enteada viva

A convivência entre uma madrasta e os enteados nunca foi bem vista na sociedade devido a problemas tais como os que se passaram com Hosmen Fernando Pinto, de cinco anos de idade. Na manhã do dia 30 de Maio passado, a criança escapou da morte depois de ter sido enterrada viva na sua residência, no bairro de Muahivire-Expansão, quarteirão 18, na cidade de Nampula, pela companheira do seu pai, identifi cada pelo nome de Fátima Selemane. Esta assumiu o acto mas negou que a sua intenção fosse tirar a vida da menina, afirmando que pretendia apenas intimidá-la para que deixasse de defecar na cama quando estivesse a dormir.

Alguns psicoterapeutas asseguram que uma madrasta foi sempre vista de forma pejorativa e preconceituosa perante a sociedade e a sua figura é, muitas vezes, encarada pelos filhos e pelos parentes do marido como uma ameaça na família. Foi desta forma que Saquina Eputhulo, avó materna da miúda, caracterizou Fátima, que, a partir do momento em que recorreu a formas não recomendáveis para educar Hosmen, passou a ser malvista na sua zona.

A indiciada atou as pernas da menina, os braços, envolveu-a num pano, de seguida numa esteira e atirou-a numa cova como se fosse lixo, o que na interpretação dos vizinhos demonstra uma acção premeditada de assassinato por parte de quem não tem instinto maternal.

Na altura em que a menor estava a ser maltratada, uma outra criança, por sinal de uma casa próxima, estava a acompanhar o que se passava e, quando se apercebeu de que a sua amiga corria perigo, alertou os mais velhos. Enquanto alguns iam socorrer Hosmen, outros pediram o auxílio da Polícia que prontamente se fez ao local dos acontecimentos para evitar o pior. O quarteirão 18 no bairro de Muahivire-Expansão entrou, por alguns minutos, em alvoroço e condenou veementemente o comportamento da mulher que tentou negar o direito à vida a uma criança inocente.

A cova na qual a vítima seria enterrada com vida foi aberta pelo seu primo paterno, de 15 anos de idade, a mando de Fátima. Carlos Agostinho afirmou que a explicação que recebeu da tia foi de que devia abrir um buraco profundo para se depositar lixo; em nenhum momento imaginou que fosse para sepultar alguém e o caso aconteceu numa altura em que ele estava na escola.

Na sua reconstituição dos factos, Carlos disse-nos igualmente que depois de a prima ter defecado na cama, à noite, enquanto dormia, no dia seguinte (30 de Maio) viu a esposa do seu tio com algumas cordas e, quando perguntou qual seria a finalidade das mesmas, foi-lhe dito que serviriam para intimidar Hosmen para que não voltasse a repetir o mesmo erro que cometia há dias.

A criança era espancada desde 2010

Alguns familiares e vizinhos que falaram à nossa Reportagem sobre o crime cometido por Fátima declararam que a menor em causa tem sido vítima de maus-tratos protagonizados pela madrasta desde 2010, altura em que passou a viver com o seu pai em consequência do divórcio dos seus progenitores.

Costuma-se dizer que no começo, algumas madrastas entram numa relação cheias de amor para dar aos seus enteados. Esforçam-se em cuidar dos meninos, passeiam com eles e fazem quase tudo o que eles querem. Essa tem sido a artimanha usada para conquistar uma família inteira, sobretudo os seus companheiros, para que estes dificilmente descubram o lado ruim de quem acabam de trazer para o lar. Contudo, quando essas mulheres, idênticas a Fátima, de acordo com os residentes do bairro de Muahivire-Expansão, se apercebem de que já dominam as rédeas da casa iniciam uma convivência difícil cujas consequências recaem sobre as crianças.

Segundo apurámos, Fátima agredia a petiza alegadamente porque era muito desobediente e não cumpria as ordens dadas mesmo quando lhe chamava a atenção.

“Não é primeira vez que a menina é maltratada, sempre levou uma vida difícil, e tem sido acudida pelos vizinhos. Porém, desta vez a situação foi grave: enterrar alguém com vida é uma crueldade e vamos exigir que a justiça seja feita. O pai de Hosmen tem conhecimento do que se tem passado com a filha na sua ausência mas nunca fez nada, talvez porque pretende defender o seu lar”, disse-nos um dos vizinhos, agastado, tendo sugerido que a criança devia passar a viver numa família segura e responsável ou mesmo com a sua mãe, que se encontra no distrito de Angoche.

Pai pretende divorciar-se para defender a filha

Fernando Pinto, pai da vítima, declarou que na altura em que a sua companheira enterrou a descendente estava numa cerimónia fúnebre de um familiar, algures na cidade de Nampula. Quando recebeu a má notícia ficou chocado e foi difícil acreditar que a esposa pudesse cometer um acto desumano contra a sua filha. Decepcionado com o acontecimento, o nosso interlocutor prometeu tomar uma decisão que, segundo ele, poderá culminar com o divórcio como forma de salvar a integridade física da garota. Aliás, foi o próprio progenitor que submeteu o caso à Polícia e exigiu que Fátima fosse responsabilizada.

Por sua vez, Saquina Eputhulo mostrou- se agastada com o comportamento da sua nora e afirmou que vai usar todos os meios ao seu alcance para que a neta fique com a sua mãe biológica porque não gostaria que ela crescesse traumatizada e num ambiente de sevícias.

A madrasta perde os sentidos

Fátima, de 27 anos de idade, é natural do distrito de Angoche. Disse à Polícia em Nampula que está arrependida, foi um erro enterrar Hosmen, não pretendia matá-la, mas somente mostrar a ela que defecar na cama é malcriadez.

Entretanto, a nossa entrevistada perdeu os sentidos quando prestava depoimento e foi evacuada para o Hospital Central de Nampula, tendo posteriormente voltado para as celas onde está, neste momento, a aguarda pelo desfecho da tramitação do processo-crime número 122/2013 instaurado no dia 30 de Maio.

Que diz a Polícia?

Miguel Bartolomeu, porta-voz do Comando Provincial da PRM em Nampula, confirmou-nos a ocorrência e afirmou que, para além de ter escapado da morte, a menina foi alvo de agressões físicas. Por isso, há investigações em curso no sentido de se apurar as causas que levaram a madrasta a tentar assassinar a sua enteada. O agente da corporação qualificou o caso como sendo um homicídio frustrado e louvou a prontidão com que os vizinhos salvaram Hosmen.

 

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