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Locomotiva (Des)LIGA o campeão

Nelinho levou o jogo ao prolongamento. O Ferroviário foi enorme. A Liga Muçulmana deixou evidente a ausência de automatismos. Há ocasiões em que pesam tanto as pernas como a responsabilidade de seres quem és.

O campeão, no domingo passado, parecia uma equipa que luta para não descer de divisão. Foi uma Liga Muçulmana esgotada e sem ideias, que carece de processos de jogo como mostrou na partida da Supertaça com o Ferroviário de Maputo. Perdeu o primeiro título da época na marca das grandes penalidades e deixou maus sintomas para o jogo das Afrotaças. Ou seja, o Ferroviário foi grande e os muçulmanos foram uma equipa modesta.

Os locomotivas superaram os pupilos de Artur Semedo no espaço do terreno onde estes foram sempre superiores na época passada: no meio-campo.Assim, o Ferroviário depositou uma bomba no ânimo das hostes muçulmanas. No tempo regulamentar e no prolongamento, diga-se, os muçulmanos viram de perto a derrota, sentiram umrival superior e transmitiram a ideia de que o Moçambola 2012 será uma batalha complicada.

A pressão dos locomotivas foi um obstáculo inultrapassável para a pretensão laboriosa do futebol da Liga. Aos muçulmanos foi impossível exercitar o seu jogo de apoios nos 120 minutos, como se lhes faltasse magia ou lhes tivessem tirado as medidas. Aos seus avançados faltou mobilidade: Maurício não se viu e Telinho causa mais dano quando solto do que preso na frente de ataque.

Filme do jogo

Duas coisas surpreenderam as pessoas que se dirigiram ao Estádio Nacional do Zimpeto: a ausência de reforços no onze inicial das duas equipas e o golo madrugador dos locomotivas. Estavam decorridos dois minutos de jogo quando Clésio, oportuno, abriu o marcador.

A defesa da Liga esteve bem ao criar o fora de jogo, mas pecou por não perceber que um lance não se esgotou naquele momento. Luís, em posição legal, aproveitou o passe e atirou para defesa incompleta de Nelinho. Clésio, em posição legal depois disso, aproveitou para encostar. O golo foi um prémio para quem nunca tirou os olhos da jogada e acreditou até ao fim.

O golo madrugador abalou os muçulmanos e insuflou de ânimo os locomotivas. O meio-campo muçulmano esteve preso numa camisa-de-forças e o Ferroviário aproveitou para inclinar o campo para a baliza de Nelinho.

Cantoná e Micas, os braços que deviam dar profundidade ao jogo muçulmano estavam amputados e, por via disso, Telinho e Maurício eram uma espécie de ilhas controladas pela ditadura dos centrais locomotivas. Muito pouco futebol para um campeão.

O domínio locomotiva era claro e o primeiro remate dos muçulmanos aos 25 minutos traduz a superioridade de Clésio e companhia. Porém, esse remate foi prontamente respondido com uma arrancada de Tchitcho que fugiu à marcação de Mustafá. Acto contínuo, fez um passe para a entrada da área, mas Luís, com tudo para fazer o segundo dos locomotivas, atirou por cima do travessão para alívio de Nelinho.

Um pouco de Carlitos

Carlitos é um jogador invulgar, mas o futebol é um jogo de apoios. No segundo tempo pediu a bola e quis mexer no jogo. Cansou- se de espalhar classe e magia, mas o seu futebol foi grande demais para encontrar correspondência nos seus colegas.

Só isso explica que tenha sido o Ferroviário a estar perto do segundo. Butana ganhou uma bola no meio-campo muçulmano e, sem pedir licença, desferiu um remate potente para uma espectacular defesa de Nelinho.

Artur Semedo via Carlitos a pregar no deserto de ideias da sua equipa e colocou em campo Miro (a maior contratação dos muçulmanos) e Zicco, mas não conseguiu alterar o rumo dos acontecimentos. Os locomotivas continuaram superiores.

Porém, quem desequilibra até quando anda, como Carlitos, merece outra sorte e os deuses do futebol e Butana (com um autogolo) fizeram justiça à sua classe. A Liga empatou sem merecer num jogo em que fez corpo presente, mas não esteve no Zimpeto. Do seu lado, apenas Carlitos e Nelinho mereciam outra sorte.

O Ferroviário, acostumado a estas andanças, mostrou ser um soberano impassível, mas faltou-lhe uma pontinha de sorte. Aliás, só assim é que se pode explicar que Nelinho tenha defendido o remate dentro da pequena área de Rachide nos 30 minutos de prolongamento.

O futebol faz justiça por outros desígnios. Ou seja, se Carlitos e Nelinho não mereciam perder no “jogo jogado”, mais seria injusto que a Supertaça não fosse parar às vitrinas do Ferroviário de Maputo. Infelizmente, Carlitos, grande em campo, foi um dos jogadores que falhou da marca dos 11 metros e deu o título aos locomotivas.

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