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Livaningo: Uma luz para novos autores!

Livaningo: Uma luz para novos autores!

Que fazer quando todas as alternativas, para a materialização das ideias da juventude, se mostrarem ineficazes? Para os néscios, desistir pode ser uma atitude. No entanto, para os sábios o mesmo já não se deve considerar. Do último grupo, a Livaningo Cartão d´Arte, uma editora de produção artesanal de livros, é um exemplo.

Nos tempos actuais, época de dificuldades de vária índole, eles fazem da produção literária o resultado da boa vontade: Jovens que procuram meios alternativos para fazer face ao alto custo da produção do livro; escassez de oportunidades para a publicação de obras de novos autores; e o consequente oneroso e difícil acesso aos manuais de literatura ficcional e científica por parte de cidadãos com fraco poder financeiro. Em resultado disso, esmeram-se numa actividade artesanal para produzir livros de baixo custo.

Elcídio Bila, José dos Remédios e Jossias Guambe, moçambicanos, com 23, 25 e 45 anos de idade, decidiram ampliar a visibilidade das editoras cartoneiras, ou simplesmente do livro de cartão, na cidade de Maputo, e, para o efeito, criaram a Livaningo – Cartão d´Arte.

Em Maio de 2012, altura em que se congregaram para maturar a ideia, a sua pretensão pouco diferia de uma utopia. Elcídio Bila, que frequenta o terceiro ano de licenciatura em Ensino de Português, José dos Remédios e Jossias Guambe que, no mesmo nível, procuram o primeiro canudo do ensino superior nos cursos de Literatura Moçambicana e Ensino de Inglês não vacilaram.

Dois meses depois de amadurecerem a iniciativa, no dia 27 de Julho passado, colocaram na capital moçambicana, Maputo, as suas primeiras duas publicações. Trata-se dos livros “Mutxukumetiwa”, baseados em Rei do Gado e “Estatuto e Focalização”, uma tese de licenciatura do professor da língua portuguesa e literatura moçambicana, Aurélio Cuna.

A Livaningo, como editora de cartão, deriva da Kutsemba Cartão, a primeira organização do género no país que, igualmente, resulta de uma oficina de criação/produção sobre a matéria orientada por docentes moçambicanos – a trabalhar em universidades estado-unidenses – na qual participaram estudantes da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (FLCS/UE).

Recorde-se de que a referida formação, ministrada pelo casal Luís Madureira e Celine Kheldon, teve uma recepção favorável por parte dos estudantes. Em resultado disso, desde então até os dias que correm, a iniciativa não pára de evoluir.

“Para nós, a FLCS foi sempre um espaço cativo para a realização dos nossos encontros. Localmente há, inclusive, meios ao nosso dispor para a materialização do trabalho. No entanto, conscientes dos riscos associados, optámos por criar uma nova editora”, considera Elcídio Bila que fala sobre a ruptura que originou a Livaningo. Refira-se, então, que cada um dos três membros fundadores da Livaningo representa uma função: um artista plástico, um revisor da língua e um designer gráfico.

Iluminação

Iluminação é o termo equivalente a Livaningo, na língua Changana. É nesta perspectiva que os jovens consorciados na mesma organização, além de obras de autores conhecidos, focalizam a sua acção na publicação de livros que, diante das dificuldades que caracterizam a indústria livresca tradicional nacional, provavelmente nunca seriam publicados. É verdade que existem outras razões que obstruem a publicação de livros no país, mas a apontada é uma das principais.

“Queremos que a nossa literatura ganhe maior fôlego, no aspecto de divulgação, quebrando a monotonia que se verifica no campo, em termos de publicação”, consideram. Por todas estas razões, para os referidos jovens, muito em particular devido ao sentido que o termo possui, não haveria melhor designação que Livaningo, uma palavra originária da língua Changana uma das praticadas essencialmente no sul de Moçambique.

Enquanto isso, nada melhor esclarecer que, ainda que a Livaningo esteja disposta a receber, editar e publicar livros de qualquer autor, esta organização, como se pode imaginar, não possui um espaço físico adequado para desencadear a referida actividade.

“Normalmente encontramo-nos, no mínimo, três vezes por semana na minha casa. O mesmo tempo é adequado para a elaboração do cartão, o que envolve o processo de corte, a pintura e a composição do livro. Há vezes em que a presença do autor é indispensável”, esclarece Bila ao mesmo tempo que nos revela uma dificuldade sempre presente no seu trabalho. “Por exemplo, nós, a Livaningo, temos tido a complicação de encontrar escritores para realizarem a apresentação das obras nas cerimónias de lançamento porque estes, invariavelmente, não conhecem os autores, a obra, incluindo a editora”.

Como funciona?

Se disséssemos que com a publicação dos dois primeiros livros, Mutxukumetiwa e Estatuto e Focalização, a Livaningo partiu de um desafio. A ser verdade, então, como funciona o negócio das editoras de livro de cartão?

Colecciona-se o papelão que, em jeito de reciclagem de lixo, é retirado do espaço do desperdício. Adquire-se a tinta que, com base num processo quase semelhante ao do trabalho dos artistas plásticos, é aplicado nas capas, já recortadas, fazendo-se alguns desenhos. Imprime-se os textos em papel de formato A4 e encaderna-se e, assim, conclui-se a produção de um exemplar que, muito em breve, será comerciado a um preço (supostamente) simbólico: Cem meticais.

Ora, introduzindo-se o tema do dinheiro, vale a pena referir que nem sempre a Livaningo, enquanto uma organização, tem recursos monetários para responder a determinadas necessidades. Aqui, para melhor compreensão da realidade, a experiência que terminou com a publicação dos livros já mencionados possui uma importância peculiar.

“Custou-nos muito editar os primeiros livros. Durante o mesmo tempo, enfrentámos um grande sufoco financeiro, no entanto, porque estávamos conscientes da realidade – uma vez que havíamos tido uma experiência similar no passado – decidimos dar continuidade à iniciativa. Ou seja, estávamos preparados para trabalhar porque já conhecíamos os preços de tintas, dos agrafadores, da impressão, entre custos afins”. Aliás, “para a satisfação das primeiras necessidades, possuíamos algum dinheiro. Presentemente, não temos nenhum patrocínio nem perdemos tempo pedindo apoio nesse sentido, porque a nossa experiência nos mostra que a resposta seria desmotivadora. Não queríamos depender de ninguém”.

Foi assim que, na primeira experimentação, a Livaningo publicou 60 exemplares, dos quais 30 para cada obra.

É em resultado disso que a equipa da Livaningo olha para o futuro da sua actividade com algum optimismo, afinal, “tivemos um início bastante positivo no que diz respeito aos custos, e, pelo menos, para as próximas edições temos dinheiro para custear as despesas necessárias. Ou seja, quanto mais exemplares vendemos mais cópias produziremos”. Muito recentemente, a mesma editora publicou a obra poética É Tudo o Que Tenho do jovem declamador Herdino Polinésio Chihale.

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