Os líderes dos protestos na Ucrânia indicaram os ministros que eles querem que façam parte do novo governo depois da derrubada, no fim de semana, do presidente Viktor Yanukovich e num momento em que a Rússia coloca tropas em alerta máximo numa demonstração de força.
A ordem do presidente russo, Vladimir Putin, para que 150.000 soldados estejam prontos para exercícios militares perto da Ucrânia foi o gesto mais ousado do Kremlin depois de vários dias de atitudes ameaçadoras desde que o seu aliado Yanukovich foi destituído da Presidência no fim de semana.
O governo russo nega que as manobras militares, não anunciadas anteriormente, no seu distrito mais ocidental estejam relacionadas aos eventos no país vizinho, mas a convocação dos soldados ocorreu depois de uma série de comunicados estridentes sobre o destino dos cidadãos e interesses russos na Ucrânia.
Com a turbulência política a afectar duramente a economia ucraniana, o Banco Central do país disse que não vai mais intervir para proteger a moeda nacional, a hryvnia, que caiu 4 por cento nesta quarta-feira e acumula agora uma queda de 20 por cento no seu valor em relação ao início de Janeiro.
O facto de a hryvnia não estar mais atrelada ao dólar teve repercussão na Rússia, onde o rublo caiu ao seu nível mais baixo em cinco anos e ações de bancos perderam valor.
Em Kiev, líderes dos protestos populares que levaram à derrubada de Yanukovich indicaram o ex-ministro da Economia Arseny Yatseniuk como sua opção para a chefia do governo interino.
Numa demonstração de poder popular, o chamado conselho “Euromaidan” fez o anúncio do nome de Yatseniuk e de candidatos a vários outros postos-chave no gabinete, depois de os seus membros terem feito um pronunciamento à multidão na Praça da Independência, epicentro das manifestações contra Yanukovich.
Oleksander Turchinov, agora presidente em exercício, disse que o novo governo terá de tomar decisões impopulares para afastar o risco de calote e garantir uma vida normal ao povo ucraniano. As propostas do conselho Euromaidan terão de ser aprovadas pelo Parlamento, que se reunirá na quinta-feira numa atmosfera pesada, depois dos recentes confrontos sangrentos, no qual morreram cerca de cem pessoas, agora chamadas de mártires pelos manifestantes.
Crimeia
O conselho indicou o diplomata de carreira Andriy Deshchytsya para ministro de Relações Exteriores e Oleksander Shlapak, ex-ministro da Economia e ex-vice-chefe do Banco Central, para o cargo de ministro das Finanças. Andriy Paruby, líder da força de “autodefesa” que fez a proteção da zona de protesto em Kiev durante a acção policial nos três meses de conflito, foi apontado para posto de secretário do poderoso Conselho de Defesa e Segurança Nacional.
Na Crimeia, milhares de ucranianos de etnia russa, que formam a maioria da população local, manifestaram-se pela independência. Eles entraram em confronto com manifestantes rivais que apoiam as autoridades de Kiev. A Crimeia é a base de parte da frota da Rússia no Mar Negro, e o governo russo disse estar tomando medidas para proteger essa unidade militar.