Julho passou a ser o mês em que a comunidade internacional diz que vai salvar África dos seus problemas. As cimeiras dos G 8 são hoje o espelho desta ambição. Em 2005, na cimeira de Gleneagles (Escócia), os líderes do G 8 prometeram duplicar a ajuda externa aos países africanos e acabar com a pobreza e a fome no continente africano a curto prazo. De então para cá, África ocupou sempre um lugar de destaque na agenda das cimeiras do G 8.
Salvar África implica transformar a enorme maioria dos países africanos de uma forma acelerada através de uma gestão de ajuda externa ao desenvolvimento. No coração desta transformação está a ideia de que um grande salto em frente é possível e desejável em África.
Como era de esperar, a transformação tem vindo a conseguir resultados relativamente modestos. Não vai ser preciso esperar muito tempo para começarmos a ouvir a coligação Nações Unidas / organizações não-governamentais / economistas do desenvolvimento / celebridades dizer que os famosos objectivos do Desenvolvimento do Milénio não serão cumpridos em 2015.
Suspeito que também não vai ser preciso esperar muito tempo para ouvirmos que é preciso ainda mais dinheiro para transformar África rapidamente. Sempre que ouço falar das nossas ambições grandiosas para África e das certezas em relação ao que é preciso para desenvolver um país, lembro-me de Ulisses e das sereias que lhe prometeram revelar o passado e o futuro.
Ulisses só conseguiu resistir aos encantos das sereias por ter previamente pedido aos seus companheiros que lhe atassem as mãos e os pés e o prendessem ao mastro da sua pequena nau. África exige uma atitude semelhante da nossa parte. Temos de nos amarrar ao mastro, resistir às promessas feitas e perguntar o básico: porque é que a nossa agenda de transformar África tem tido resultados tão desapontadores nas últimas décadas? Em “False Economy. A Surprising Economic History of the World” (Londres: Viking 2009), Alan Beattie, editor de comércio internacional no “Financial Times”, defende que a história económica é determinada acima de tudo pelas escolhas que os governos e as sociedades fazem.
Mudar o rumo de um país depois de estas escolhas terem sido feitas é normalmente muito difícil. Além disso, as sociedades tendem a evoluir a e desenvolver-se de maneiras surpreendentes. Ao longo das últimas décadas, as instituições, as empresas, os indivíduos e as regras têm derrotado as previsões dos economistas e activistas estrangeiros sobre desenvolvimento de uma sociedade. Beattie chama a atenção para três coisas importantes nas economias africanas.
A primeira tem que ver com o proteccionismo agrícola nos países ricos. Um dos melhores exemplos é o algodão nos EUA onde de dez a 20 mil agricultores numa população de 300 milhões recebem quatro milhares de milhões de dólares em subsídios anuais de Washington e distorcem o mercado mundial. A segunda está relacionada com as riquezas energéticas e minerais de muitos países africanos.
Exceptuando o Botswana, os países africanos ricos em energia e minerais tendem a ser muito mal governados. O problema é que a riqueza dos seus governos e pequenas elites tem-lhes permitido resistir à pressão externa para a reforma. A terceira é o impacto da distância nas economias de África. Aqui o mundo não é decididamente plano. As tecnologias de comunicação estão a mudar algumas economias africanas mas os obstáculos nas fronteiras são reais e as fragilidades ao nível de infra-estruturas e logísticas enormes. Mudar este estado de coisas rapidamente é impossível. Julho passa a ser o mês da modéstia em relação a África.
O continente não será salvo por nós mas pelas pessoas que lá vivem. E se há coisa de que estas pessoas precisam, é de liberdade e de regras que as protejam dos apetites dos governos e burocracias.