O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, pediu, Quinta-feira, que as tropas da NATO deixassem as aldeias afegãs e limitassem a sua presença aos principais quartéis, depois do assassinato de 16 civis por um sargento norte-americano.
Quase simultaneamente, o Taliban afegão anunciou a decisão de suspender as ainda incipientes negociações de paz com os EUA, que eram vistas como uma forma de promover a estabilização do Afeganistão antes da retirada das forças norte-americanas, no final de 2014.
O grupo islâmico alegou que os EUA demonstraram uma postura “instável, errática e vaga”.
O governo dos EUA disse que continua comprometido com uma reconciliação política que envolva negociações com o Taliban, mas que qualquer progresso passa também por acordos entre os insurgentes e o governo afegão.
Em nota divulgada depois da reunião com o secretário da Defesa dos EUA, Leon Panetta, em Cabul, Karzai disse que “as forças internacionais de segurança precisam de ser retiradas dos postos avançados em aldeias afegãs e voltar para os quartéis”.
Mas isso atrapalharia o cronograma de desocupação previsto pelo governo norte-americano, pois inviabilizaria acções como prestar treinamento à polícia local e ajudar a aprimorar a administração das aldeias.
O sargento acusado pela matança de Domingo, que não teve o seu nome revelado, é parte duma unidade comum, mas servia junto a uma força especial, num tipo de guarnição semelhante a várias outras existentes no país.
O incidente azedou as relações entre Cabul e Washington, e Cabul pediu providências para que não se repita. Os EUA minimizaram a proposta de Karzai para a desocupação das aldeias.
“Acreditamos que essa declaração reflecte o forte interesse do presidente Karzai em avançar o mais rapidamente possível para um Afeganistão totalmente independente e soberano”, disse George Little, porta-voz do Pentágono, aos jornalistas em Abu Dhabi, onde Panetta desembarcou, vindo do Afeganistão.
Os senadores republicanos contrários a qualquer antecipação na desocupação militar do Afeganistão disseram que a proposta de Karzai levaria ao fracasso do plano que prevê a passagem das atribuições de segurança para as forças afegãs nos próximos dois anos.
“Tentamos isso no Iraque, onde permanecemos nas bases, e o Iraque está no caos”, disse a senadora Lindsey Graham. “Detrás duma cerca não se pode combater efectivamente.” A matança de Domingo também contribuiu para a decisão do Taliban.
“O Emirado Islâmico decidiu suspender todas as discussões com os norte-americanos realizadas no Catar de agora em diante, até que os norte-americanos esclareçam a sua posição sobre as questões envolvidas e até que demonstrem disposição em cumprir as suas promessas ao invés de perderem tempo”, disse o grupo em nota, acrescentando que discussões semelhantes com o governo afegão seriam inúteis, nem chegaram a acontecer.
O grupo acrescentou que foi obrigado a suspender o processo porque Washington, diante de exigências como a libertação de prisioneiros do Taliban na base de Guantánamo, encravada em Cuba, respondeu com uma lista de condições que os insurgentes consideraram “não só inaceitáveis como também uma contradição aos pontos decididos anteriormente”.