Os karatecas Luís Campos e Irene Bechane são os novos campeões nacionais em masculinos e femininos, respectivamente. A prova, que teve lugar no último domingo (01) na cidade de Maputo, ficou manchada pela ausência de muitas províncias por falta de fundos.
Apenas as cidades de Maputo e da Beira estiveram presentes neste “Nacional”que teve lugar no Pavilhão do Iquebal, na baixa da capital do país, em virtude de o Fundo de Promoção Desportiva (FPD) se ter mostrado indisponível a apoiar financeiramente a Federação Moçambicana de Karate (FMK) na organização desta competição.
Ainda assim, a karateca do Centro de Formação das Telecomunicações de Moçambique, Irene Bechane, não deixou de passear a sua classe conquistando duas medalhas de ouro nas provas de exibição de técnicas de combate (katas) e de komité, ou seja, nos combates. Em masculinos, Luís Campos, também das TDM, “roubou” todo o protagonismo ao seguir o mesmo caminho da sua companheira de equipa, Irene, conquistando, igualmente, duas medalhas de ouro com registos que o colocam cada vez mais perto do próximo Campeonato do Mundo de Karate agendado para 2014, na vizinha África do Sul.
No capítulo da formação, o Centro de Formação das TDM amealhou o maior número de medalhas, sendo seis de ouro, três de prata e igual número de bronze. Na segunda posição terminou a Escola Ramelau de Maputo, com um total de cinco medalhas de ouro, duas de prata e cinco de bronze. A Escola Ntsindza conquistou quatro medalhas de ouro, oito de prata e 18 de bronze, tendo completado o pódio.
“Poderíamos ter realizado um verdadeiro Campeonato Nacional de Karate”
De acordo com o presidente da Federação Moçambicana de Karate, Carlos Dias, a ausência das outras províncias neste certame não se deveu à instabilidade político-militar que assola o país. Pelo contrário, “a não vinda de karatecas de outros pontos do país é devida à falta de desembolso de fundos que solicitámos ao FPD para custear as despesas de transporte, de alojamento e de alimentação dos atletas no quadro do nosso contrato-programa”.
“Era nossa maior vontade organizar um Campeonato Nacional com todos os karatecas do país. Mas, por razões alheias à nossa vontade, não conseguimos”, disse visivelmente desgastado Carlos Dias, tendo denunciado que este certame foi adiado no passado mês de Fevereiro alegadamente porque não havia fundos nos cofres daquela instituição subordinada ao Ministério da Juventude e Desportos. “Nós estávamos cansados de esperar. Por isso decidimos organizar esta competição com os nossos próprios fundos, o que implicou a ausência das outras províncias”, revelou.
Ao mesmo tempo, aquele dirigente federativo afirmou ao @Verdade que era imperiosa a realização do “Nacional” neste ano, pois Moçambique tem de enviar os resultados até ao fim do mês em curso à Federação Internacional de Karate de modo a garantir a sua presença no próximo Campeonato do Mundo. “Infelizmente, não foi possível contar com todos os karatecas nacionais para uma maior abrangência”, lamentou. Importa referir que os primeiros quatro classificados de cada prova, katas e komité, vão fazer parte da pré-convocatória da selecção nacional que vai, dentro de dias, entrar na fase de preparação para o “Mundial” que terá lugar na vizinha África do Sul.
Os campeões nacionais incontestáveis
Luís Campos, 30 anos Conquistou duas medalhas de ouro nas provas de katas e komité. Nasceu a 16 de Janeiro de 1983 em Maputo e com apenas seis anos inscreveu-se na Escola de Formação de Karate da Escola Comercial de Maputo, na altura a grande referência a nível da capital do país. Graças à sua entrega e dedicação, Campos foi convidado pelo seu instrutor para abrir novas escolas de formação de talentos da modalidade das artes marciais.
Foi responsável pela criação do Núcleo de Formação do Colégio Kitabu. Em 2002, com o seu mestre fundou a Escola de Formação Verna, também na cidade de Maputo. Em 2008 foi um dos membros fundadores do Centro de Formação das TDM e da Willow International School, em 2011. Na sua longa carreira conquistou um universo de 130 medalhas em provas nacionais e internacionais.
Revelou que foi marcante a medalha de prata que ganhou em 2010 no Campeonato Africano de Karate na disciplina de katas por equipas. O seu maior sonho é estar presente no “Mundial” da África do Sul, prova agendada para o próximo ano. “Quero estar também nos Jogos Olímpicos de 2016”, adiantou. Luís Campos é licenciado em ciências biológicas pela Universidade Eduardo Mondlane. É pai de um rapaz de quatro anos, a quem considera o “centro do meu universo”.
Irene Bechane, 20 anos
A campeã nacional em seniores femininos nas provas de katas e komité nasceu a 08 de Janeiro de 1993 na cidade de Maputo. É karateca desde 2001. É “obra” do extinto Ginásio de Maputo, tendo saído daquela escola em 2009 quando decidiu ingressar nas Telecomunicações de Moçambique, a 01 de Outubro daquele ano. Irene Bechane, que na sua curta carreira conta com mais de 200 medalhas conquistadas a nível nacional e internacional, é também juíza dos escalões de formação.
Foi a karateca que se destacou no Campeonato Regional de Karate de 2012 ao conquistar quatro medalhas, sendo três individuais e uma por equipas. O seu maior sonho é sagrar-se campeã do mundo, título que lhe fugiu no ano passado. Promete tudo fazer para estar nos Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro.
Fora dos palcos de karate, Irene é estudante do curso de arquitectura na maior instituição de ensino superior do país, a UEM. Revela que é bastante temida por amigos e colegas de escola por ser karateca, ainda que tenha um carácter calmo e afectuoso. “Se não fosse pelo apoio da minha família, sobretudo da minha mãe, eu teria desistido desta modalidade. No princípio eu era muito descriminada na sociedade. Mas depois de ganhar algumas medalhas, as pessoas começam a olhar-me de outra forma, como uma campeã”, revelou a terminar.
