O julgamento do “impeachment” da Presidente afastada Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), entrou nesta terça-feira na recta final, com a leitura do parecer do relator do processo no Senado, Antonio Anastasia, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que vai ser submetido à votação, primeiro, de uma comissão especial de 21 senadores e, depois, no plenário de 81 parlamentares, sob a liderança do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.
A expectativa dos técnicos, quer do Senado quer do STF, é que a decisão final aconteça apenas nos primeiros dias de Setembro. O senador Romero Jucá, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), o mesmo de Michel Temer, criticou a demora na conclusão do processo. “Não dá para estender essa agonia além de Agosto, o Brasil espera uma solução definitiva”, disse o ex-ministro do Planeamento de Temer, demitido na sequência de tentativa de obstrução da justiça em conversa com o delator Sérgio Machado, antigo presidente de uma subsidiária da Petrobras, nas escutas da Operação Lava-Jato. Argumentou ainda Jucá que “em Setembro há reunião do G20 na China e o Brasil devia fazer-se representar pelo seu Presidente, se não se tiver ainda resolvido este assunto, Temer irá lá como interino”.
Do lado dos defensores de Dilma, a ordem, porém, é ir protelando a questão. Antes e depois da leitura do parecer de Anastasia, que não foi concluída até ao fecho desta edição, senadores contrários ao “impeachment” apresentaram questões de ordem e requerimentos nesse sentido. “É pouco provável que o voto do relator não seja pela pronúncia de Dilma Rousseff, mesmo diante das mais robustas evidências de que não há materialidade do facto, não há dolo e tampouco indício de autoria ou participação da presidente nos alegados crimes de responsabilidade”, afirmou, antes da leitura, Vanessa Grazziotin, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), contrário ao “impeachment”.
Até à votação final, as contas continuam indefinidas por causa do elevado número de senadores que não declaram antecipadamente o seu voto e dos ainda indecisos. Dois dos principais jornais do país vão diariamente actualizando um “placard do impeachment” baseado nas suas sondagens aos senadores. Segundo O Estado de São Paulo, 39 senadores votarão a favor da destituição de Dilma e 18 contra. Os restantes 24 permanecem indefinidos. O jornal Folha de São Paulo tem números diferentes: 44 votos contra a presidente afastada, 19 a favor e apenas 18 indecisos. Para que a petista caia e seja substituída em definitivo pelo hoje Presidente interino Michel Temer é necessário o voto de 54 senadores.
Enquanto isso, na base de apoio a Temer, declarações recentes do novo presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, do partido Democrata, causaram agitação. Defendeu Maia que o actual presidente interino é o nome ideal dos que hoje suportam o governo nas eleições de 2018. Como há um acordo tácito entre o PMDB e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) para o primeiro apoiar o candidato do segundo, Temer negou intenção de concorrer e telefonou a Aécio Neves, presidente dos tucanos, para o tranquilizar.