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Jovens ganham a vida com a extracção e venda de areia em Nampula

O dia-a-dia de alguns jovens residentes na cidade de Nampula é caracterizado por actividades de muito sacrifício e exercício físico. Eles acordam muito cedo e dedicam-se à extracção de areia, diga-se desenfreada, para posterior venda, principalmente às pessoas que estão a construir residências. Contudo, no lugar onde decorre este trabalho há um perigo à espreita.

Alberto Chissale, de 30 anos de idade, e natural do distrito de Nacala-a-velha, é apenas um exemplo de tantos jovens que aqui em Nampula precisam de usar a força física para poder ter o que comer. Em conversa amena, disse à reportagem do @Verdade que se deslocou à cidade de Nampula na tentativa de encontrar melhores condições de vida. “Quando cheguei fui contratado por um funcionário do Estado para trabalhar na sua casa como guarda nocturno. Dois anos depois, o meu contrato terminou. Desde essa altura ainda não tive outra oportunidade de arranjar emprego. Não fico de braços cruzados porque tenho uma família por cuidar e todos dependem de mim”.

Perante a falta do almejado emprego, a única alternativa foi enveredar pela venda de areia para garantir a sobrevivência da sua família composta por seis membros: ele, a mulher e quatro filhos. Porém, queixa-se de não ser fácil cumprir com esta obrigação porque o custo de vida está a agravar-se a cada dia que passa. Nas suas palavras, os preços dos produtos básicos são assustadores.

O trabalho de Chissale e de outros jovens é muito duro e complicado. Exige força braçal e os areeiros onde operam são arrendados de outras pessoas. O seu espaço aberto localiza-se no bairro de Namutequeliua, na Unidade Comunal Maria Nguabi, arredores da cidade de Nampula. Tira areia em poucas porções e paulatinamente, até conseguir uma carrada. O espaço pertence a um cidadão que reside distante do bairro onde se realiza esta actividade, que cobra um valor considerado pelos nossos interlocutores razoável. Varia de 100 a 200 meticais. Na revenda, uma lata com o volume de 25 litros custa cinco meticais.

Entretanto, os preços não são fixos porque, dependendo da quantidade de que o cliente precise, pode haver um desconto, principalmente para aqueles que compram uma carrada de uma só vez. “Quando não temos clientes amontoamos a areia num quintal enquanto procuramos pelos interessados”, frisou Chissale, que entretanto não sabe dizer ao certo quanto é que rende porque durante a venda há uma parte do dinheiro que vai para “a panela”. “Os meus dois filhos estão a frequentar o ensino primário, e com os rendimentos que obtenho desta actividade de extracção de areia garanto o material escolar e sustento a família”.

Afonso de Castro Namalia, de 22 anos de idade, é também natural de Nacala-a-velha. Contou-nos que o seu agregado familiar é composto por quatro pessoas, das quais duas crianças. Abandonou a sua zona de origem pelos mesmos motivos avançados por Chissale. Mas até agora nenhuma oportunidade de trabalho digno se vislumbrou. Ele afirmou que não tem nenhuma experiência profissional, o que pode colocar a perder qualquer oportunidade de emprego que vier a ter.

Namalia abandonou os bancos da escola aos 12 anos de idade, na sétima classe, devido à falta de condições para custear as despesas relacionadas com o ensino. Para além da extracção e venda de areia, estes jovens dedicam-se ao fabrico de tijolos e blocos de matope para a construção de residências em vários pontos da urbe. Também são contactados para fabricar blocos de cimento para a construção de residências com material convencional.

Perigo para a erosão

A zona onde os jovens extraem areia está altamente em perigo por causa das escavações enormes. A situação coloca em risco mais de 12 residências que se encontram nas imediações. Apesar de os buracos estarem a aumentar de tamanho a cada dia que passa, os jovens não desatam nas suas acções, e afirmaram que não podem cruzar os braços. Fazê-lo seria conformar-se com o desemprego.

“Já pensaram no perigo que estão a causar às residências que estão nas proximidades?”. Questionámos aos jovens, ao que um deles, corroborado pelos colegas, nos respondeu nos seguintes termos: “Nós estamos a trabalhar por conta própria. Este material (areia) é comprado por nós. Acreditamos que essa responsabilidade deverá ser do proprietário do espaço. Se constatar que isso não favorece o meio ambiente porque vai destruir casas dos vizinhos, nós podemos retirar-nos daqui e procurar estabelecer outras parcerias para continuar as nossas actividades”.

Entretanto, as autoridades comunitárias do local onde os jovens desenvolvem aquela actividade assistem impávidas ao perigo da erosão.

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