Dois jornalistas moçambicanos, Joana Macie, do jornal Notícias, e Manuel Lourenço Cossa, do jornal Magazine Independente, foram impedidos de entrar em território angolano na passada quinta-feira.
Os Serviços de Migração e Estrangeiros de Angola (SME), no Aeroporto de Luanda, sem nenhuma explicação barraram a entrada dos dois moçambicanos, que iam participar numa conferência sobre género e economia, sob os auspícios do Centro de Formação de Jornalistas (CEFOJOR) angolano, em Luanda.
Segundo escreve o jornal Notícias, os dois jornalistas tinham os seus vistos de entrada mas mesmo assim foram mandados de volta para Maputo sem mesmo poderem levar consigo a sua bagagem.
Entretanto outros três jornalistas moçambicanos, que viajaram no mesmo voo para Luanda com o mesmo propósito e com vistos similares foram autorizados a permanecer em Luanda pelas mesmas autoridades. A Embaixada angolana manifestou-se surpreendida com a atitude tomada pelos serviços de migração contra os dois jornalistas, uma vez que não chegou a ser comunicada da ocorrência. A representação diplomática angolana só ontem é que tomou conhecimento da estranha actuação quando os dois jornalistas foram pedir explicações sobre os vistos por si emitidos.
De acordo com o jornal Notícias, os jornalistas integravam um grupo de activistas cívicos dos direitos humanos que haviam sido convidados a tomar parte da conferência, dentre os quais se encontrava o académico Eduardo Namburete, em representação da organização Gender Link, co-promotora do evento. “Havíamos preenchido todos os requisitos exigidos pela Embaixada para obtenção de vistos para entrada em Luanda. Estranhamente, ao desembarcarmos em Luanda e já nos na migração, o meu passaporte e o do Manuel foram colocados de lado, ao mesmo tempo que éramos convidados para uma sala restrita ”, explicou Joana Macie.
O que se seguiu depois foi permanecer durante uma hora na referida sala. Pediram explicações para o que estava a acontecer, mas ninguém se predispôs a isso. Momentos depois, os dois profissionais foram obrigados a entrar num autocarro de passageiros do aeroporto, que os levaria de novo até ao avião da South Africa Airways que os havia transportado de Joanesburgo a Luanda. Obrigados a entrar, os dois jornalistas ainda assim tentaram questionar as razões deste procedimento, mas debalde. “Pedimos as nossas malas, mas ninguém se responsabilizou por isso. Tentámos resistir a entrar no avião, mas uma voz ameaçadora ordenou-nos a não tentar mais nada. A mesma voz advertiu-nos em seguida que se resistíssemos, seria à força que haveríamos de entrar. Aliás, o autocarro nessa altura estava já rodeado de polícias. Entrámos para o avião a lamentar sobre o tratamento humilhante que nos estava a ser dispensado e a perguntar pelos nossos passaportes …”, acrescentou Joana Macie.
Os passaportes seriam depois entregues aos legítimos titulares já no aeroporto de Joanesburgo, de regresso. Desconhecem até aqui o paradeiro das bagagens e receiam que não lhes cheguem mais às mãos.
Joana Macie conta que quando tudo se passou no aeroporto de Luanda, os outros três colegas de profissão e os activistas cívicos já se encontravam do lado de fora das instalações aeroportuárias e sem informação do que se estava a passar. Ainda assim, afirmou, tentaram pedir autorização para falar com os outros três colegas, mas nem isso lhes foi permitido.