O ex-líder soviético Mikhail Gorbachev disse, Quinta-feira, que a Rússia está sujeita a turbulências porque Vladimir Putin não consegue e não quer promover reformas fundamentais.
Putin, que é primeiro-ministro e candidato a presidente, enfrenta os piores protestos nos 12 anos em que domina a política local.
Na actual campanha eleitoral, ele apresenta-se como um líder capaz de realizar reformas, depois de impor a ordem na caótica década de 1990.
Mas Gorbachev, mal visto por muitos russos por ter iniciado ousadas reformas que levaram ao colapso da União Soviética, disse que a continuidade da hegemonia de Putin gera dúvidas sobre o futuro do país.
“Não acho que ele irá ser capaz de alterar o rumo, e estou a dizer que precisamos duma mudança de todo o sistema, não só de esmolas e passos esporádicos”, disse Gorbachev numa conferência na Universidade Internacional de Moscovo.
“Se ele não consegue mudar as coisas e mudar a si mesmo, e acho que será muito difícil para ele, então acho que as pessoas vão sair às ruas.”
Nas últimas semanas, dezenas de milhares de pessoas participam, nas cidades russas, nos protestos contra supostas fraudes nas eleições parlamentares de Dezembro.
Gorbachev, pai da “Perestroika” (reestruturação) e da “Glasnost” (abertura), aconselhou-os a apresentar reivindicações claras e a permanecerem firmes, e alertou contra a acção de provocadores que podem incitar as pessoas a incendiar Moscovo, levando assim a uma repressão das forças de segurança.
Ele também criticou o governo pela proibição da candidatura presidencial do líder oposicionista Grigory Yavlinsky, oficialmente por causa da presença de assinaturas inválidas na lista de apoios.
“Acho que Vladimir Vladimirovich (Putin) está a fazer de tudo para ganhar no primeiro turno”, disse Gorbachev. “Ele está convencido de que vai ganhar, é claro.”
As eleições serão em 4 de Março. Aos 80 anos, o último dirigente soviético respondeu às perguntas dos estudantes durante duas horas, e parecia mentalmente ágil. Chegou a brincar com um aluno que perguntou-lhe uma data, e aconselhou outros a comprarem o seu livro para encontrar respostas.
Gorbachev contestou as críticas dos seus compatriotas, dizendo que o mundo inteiro reconheceu os seus feitos.
Ele é aclamado no Ocidente por ter ignorado os radicais que o aconselharam a esmagar o movimento pró-democracia no Leste Europeu, num processo que acabou levando à queda do Muro de Berlim, em 1989, e à desintegração da própria União Soviética.