A chegada a La Paz duma segunda marcha indígena, em pouco mais de três meses, reavivou, esta Segunda-feira, o conflito causado por um projecto rodoviário na Amazônia boliviana, suspenso depois dum protesto semelhante em 2011, e revelou divisões numa das principais bases de apoio ao governo do presidente Evo Morales.
A nova marcha tem objectivos opostos à da primeira, que levou Morales a suspender a construção duma rodovia de 306 quilómetros e 420 milhões de dólares, financiada pelo Brasil, que atravessaria o Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis).
“Viemos exigir que se anule essa lei que declara o Tipnis intocável, porque ela prejudica-nos e não foi consultada com as bases”, disse Gumercindo Pradel, líder da marcha que entrou em La Paz com quase mil pessoas, depois de percorrer cerca de 600 quilómetros, em 45 dias.
Mas o líder indígena da primeira marcha, Adolfo Chávez, disse à rádio estatal Pátria Nueva que a lei de protecção do Tipnis “não será revisada de maneira alguma”, e anunciou que iniciará imediatamente uma campanha de defesa da lei junto às comunidades indígenas do parque.
Os líderes parlamentares prometeram tentar mediar um acordo entre os grupos indígenas divergentes. Pradel questionou a liderança de Chávez, que, semana passada, estabeleceu um surpreendente acordo político com o político direitista Rubén Costas, governador da região da Santa Cruz (leste).
Ano passado, activistas contrários ao projecto rodoviário na Amazônia boliviana, incluindo indígenas, ONGs, e políticos da oposição, mobilizaram-se contra o suposto risco ambiental que a rodovia representaria para o Tipnis, que tem 1,2 milhão de hectares.
Seguindo o discurso do governo, Pradel disse que o dano ecológico da rodovia será “mínimo e insignificante em comparação aos benefícios”.
Desde a promulgação da lei de defesa do Tipnis, a obra rodoviária avança apenas nos seus trechos fora do parque, mas está paralisada na sua parte central, de 177 quilómetros, que deveria passar dentro da reserva.
A construção da rodovia foi encomendada à empreiteira brasileira OAS, e é parte dum ambicioso projecto de infraestrutura que Morales prometeu para o seu segundo mandato, do qual ele já cumpriu dois dos cinco anos.