As declarações do número dois do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que ligam a pedofilia à homossexualidade, foram criticadas com veemência esta terça-feira na Itália por partidos políticos de todas as correntes e por associações de defesa dos homossexuais.
A deputada Anna Paola Concia, da maior formação de centro-esquerda, o Partido Democrático, manifestou “indignação”, pedindo que Bertone, secretário de Estado do Vaticano, retire suas declarações por serem “violentas, desumanas e graves”. Na segunda-feira, o cardeal Bertone afirmou durante a sua visita ao Chile, que a pedofilia entre os sacerdotes está mais relacionada com a homossexualidade do que com o celibato.
“Muitos psicólogos, muitos psiquiatras, mostraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros mostraram, e me disseram recentemente, que há relação entre homossexualidade e pedofilia. Isto é verdade, este é o problema”, assegurou o cardeal. “É muito desagradável que altos hierarcas da Igreja Católica façam análises tão simplórias, baseadas em teses falsas, desmentidas pela Organização Mundial de Saúde e que, além disso, não são compartilhadas pela maioria dos católicos”, afirmou Concia.
Enrico Oliari, presidente do movimento italiano de centro-direita de defesa dos homossexuais, Gaylib, considerou “preocupante” que um alto membro da Igreja “empregue argumentos tão fora de moda, inclusive no Terceiro Mundo”. O ex-líder da maior associação de esquerda de defesa dos Direitos dos homossexuais, Arcigay, Aurelio Mancuso, pediu que o cardeal Bertone siga seus próprios princípios e “expulse todos os homossexuais do clero e da Cúria Romana”. “A verdade é que querem desviar as atenções para a homossexualidade frente aos escândalos de pedofilia”, assegurou.
Uma onda de denúncias contra padres pedófilos causou consternação entre os católicos da Europa e dos Estados Unidos e até a mais alta hierarquia da Igreja Católica foi acusada de tê-las encoberto durante décadas. “Não se pode vincular a orientação sexual à pedofilia, negando uma realidade tão grave. Isso pode ser perigoso para a própria proteção das crianças”, comentou a deputada de direita Alessandra Mussolini, presidente da comissão do Parlamento italiano para a Infância e a Adolescência.