A Venezuela está mergulhada na incerteza a respeito da saúde do presidente Hugo Chávez, submetido a uma operação de emergência há 12 dias em Cuba, e os seus assessores limitaram-se a dizer esta semana que ele vaoi continuar a trabalhar.
Chávez, que está no poder desde 1998 e geralmente é muito presente na vida pública venezuelana, está ausente dos meios de comunicação desde que fez um último contato telefônico com a rede Telesur, em meados deste mês, poucos dias depois de ser operado de um abscesso pélvico. No fim de semana, o jornal estatal cubano Granma publicou quatro fotos em que ele aparece – com profundas olheiras e de agasalho desportivo – ao lado dos irmãos Raúl e Fidel Castro, respectivamente presidente e ex-presidente de Cuba. Aparentemente, o encontro ocorreu em um quarto de hospital.
Além disso, desde 4 de junho Chávez não usa sua conta no Twitter, onde tem 1,6 milhão de seguidores e costuma anunciar suas atividades. “É óbvio que algo mais grave está acontecendo com ele. Se não, por que tanto segredo?”, disse esta quarta-feira a dona de casa Marianella Romero, que vive num bairro de classe média de Caracas. Assim como Romero, muita gente no país está a ser bombardeada por mensagens de celular e emails especulando que Chávez não está bem de saúde, e que seu verdadeiro estado estaria sendo ocultado. “Não ao secretismo. Em governos autoritários enviam-se fotos. Na democracia há informação”, disse o deputado de oposição Américo de Grazia.
Mas o vice-presidente Elías Jaua insiste que o mandatário continua sancionando leis e aprovando recursos para o país em Havana, onde também não há informações disponíveis sobre o estado de saúde do líder socialista venezuelano. “O presidente está trabalhando muito. O governo bolivariano continua trabalhando, enquanto a direita insiste em desestabilizar”, disse Jaua em uma reunião ministerial na noite de terça-feira.
As versões desencontradas revelam-se também nas fileiras governistas. Na segunda-feira, o deputado Raúl Ortega disse que Chávez voltaria à Venezuela em “questão de horas”, mas foi desmentido minutos depois pelo ministro da Comunicação, Andrés Izarra. Fontes próximas ao governo dizem reservadamente que Chávez deve voltar em uma semana, enquanto circulam na imprensa local rumores de que o hospital militar de Caracas estaria preparando um andar inteiro para recebê-lo. O que parece muito provável é que ele não participará na sexta-feira dos eventos relacionados ao aniversário da Batalha de Carabobo, que selou a independência venezuelana no século 19.
No meio da incerteza, analistas aventam a hipótese de que o hermetismo em torno da saúde de Chávez esconderia a intenção de relançar a imagem dele para as eleições de 2012, quando ele buscará um novo mandato de seis anos. “Se Chávez está a restabelecer-se e tiver forças para a campanha, não é de se estranhar um relançamento com grande pompa. Se querem um grande show, é estratégico gerar um vazio de informação para fomentar os rumores que amplifiquem a magia do regresso”, opinou o analista Luis Vicente León. “A ideia de um regresso após os rumores autoestimulados seria mostrar de novo o super-homem que vence todas as adversidades”, acrescentou o analista, que também é diretor do instituto local de pesquisas Datanálisis.