Um grande incêndio espalhou-se por uma prisão superlotada em Honduras e matou mais de 350 prisioneiros, muitos deles retidos e gritando de dentro das suas celas. A Procuradoria Geral informou que 359 pessoas morreram no fogo que começou na noite de terça-feira na prisão de Comayagua, cerca de 75 quilômetros ao norte da capital, Tegucigalpa.
A instalação penitenciária não era de máxima segurança e alojava mais de 800 prisioneiros, quase o dobro de sua capacidade. Muitos dos detidos cumpriam penas relacionadas com o crime organizado.
O fogo teria começado depois que um preso ateou fogo a um colchão, segundo a governadora da província de Comayagua, Paola Castro, quem indicou que outro prisioneiro telefonou para ela angustiado, pedindo que avisasse os bombeiros. “Ele e os seus amigos escaparam da morte ao romper o teto do módulo. Ele ligou-me pedindo ajuda para que os bombeiros fossem enviados e para que as celas fossem abertas, caso contrário todos morreriam devido ao fogo”, disse Paola em entrevista por telefone.
Também foi levada em conta a hipótese de um curto-circuito, mas o gerente regional da estatal Empresa Nacional de Energía Eléctrica (ENEE), Fidel Torres, afirmou que o incêndio não poderia ter sua origem nos cabos de baixa tensão no interior do presídio porque estavam em bom estado.
Depois que o fogo foi controlado na madrugada de quarta-feira, muitos corpos carbonizados foram encontrados no interior das celas, a maioria deles irreconhecível, segundo as autoridades. “É um cenário terrível que se observa na prisão”, disse à Reuters a chefe da promotoria do Ministério Público, Danelia Ferrera, desde o interior da penitenciária.
DESESPERO E MORTE
Esse é um dos piores incêndios ocorridos em uma prisão na América Latina. Muitos presos morreram carbonizados, retidos em suas próprias celas, segundo testemunhas e a imprensa. “Ouvimos gritos das pessoas atingidas pelo fogo”, disse um preso a jornalistas, mostrando os dedos que fraturou em sua fuga do incêndio. “Tivemos que empurrar para cima os painéis do teto para sair.”
O país, a terceira nação mais pobre da América depois de Haiti e Nicarágua, tem o maior número de homicídios do mundo, com 82,1 assassinatos a cada 100 mil habitantes, segundo a Organização das Nações Unidas, e sofre com a violência dos cartéis do narcotráfico, gangues juvenis e prisões superlotadas.
A delinquência aumentou pela presença de dois cartéis de drogas do México, que estenderam seus negócios para várias nações da América Central, caminho das drogas para os Estados Unidos. Ajustes de contas são frequentes entre gangues, conhecidas como ‘maras’, que trabalham para os cartéis e isso se repete dentro das prisões, que também são palco de motins.
Enquanto familiares esperavam no lado de fora da prisão, os corpos eram preparados para serem levados a Tegucigalpa, onde médicos forenses terão um árdua trabalho devido à falta de funcionários e ao estado dos corpos. “Vamos recorrer à busca de impressões digitais nos casos possíveis e a outros recursos, como históricos dentais dos presos, ou mesmo se familiares puderem identificar alguma tatuagem ou algo particular em seu parente, ou mesmo o uso de DNA”, disse Ferrera.
O governo do Chile anunciou o envio de 14 especialistas, entre antropólogos, tanatologistas, peritos forenses e bioquímicos para ajudar a identificar as vítimas do incêndio.
AUTORIDADES CARCERÁRIAS SUSPENSAS
No meio da confusão sobre o número de mortos, a mídia local indicou que os mortos e desaparecidos somavam 402 pessoas. Os desaparecidos seriam presos que escaparam durante o incêndio.
O presidente de Honduras, Porfirio Lobo, disse que havia demitido de seus cargos os funcionários responsáveis pela prisão de Comayagua e a administração de prisões de todo o país para que a investigação seja transparente. Centenas de pessoas esperavam desesperadas para conseguir informações sobre seus familiares presos, horas depois de ter lançado pedras contra policiais no lado de fora. Os agentes responderam com bombas de gás lacrimogêneo.
Em maio de 2004 numa prisão de San Pedro Sula, a segunda maior cidade de Honduras, morreram 107 presos, e em 2003 faleceram 78 pessoas numa prisão da cidade de La Ceiba. Honduras tem 12.500 presos, embora suas penitenciárias tenham sido construídas com uma capacidade para 6.000 pessoas.
O diretor para a América da organização Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, disse que Honduras deve rever com urgência o seu sistema penitenciário. “As trágicas mortes de centenas de presos, um dos piores incidentes deste tipo na região, é a última instância resultado da superlotação e das pobres condições da prisão, dois velhos problemas em Honduras”, disse Vivanco em comunicado.
Autoridades de Segurança disseram que os 475 sobreviventes que ainda estão na prisão serão levados em breve para uma unidade militar perto do local.