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Ikuru: um modelo resiliente de empresa de produtores

“Nascemos há 20 anos, para melhorar as condições de vida e os negócios dos produtores familiares na região Norte de Moçambique. Hoje, somos uma empresa com voz dos produtores como nenhuma outra existe no País. Prestamos assistência técnica e comercializamos centenas de toneladas de produtos agrícolas dos nossos milhares de membros. Juntos, com os nossos parceiros, tornamo-nos numa organização com força comercial” – assim se pronunciaram António Massaua e Orlando Iovahale, dirigentes dos 25 fóruns que integram a Associação dos Produtores Ikuru, a qual detém 4 dos 7 lugares, no Conselho de Administração da empresa Ikuru, SA.

“A Gapi participou activamente na concepção, constituição, estruturação e financiamento da empresa Ikuru, como um modelo institucional capaz de abranger e valorizar a produção de um grande número de produtores e, ao mesmo tempo, assegurar-lhes assistência técnica.” – recordou António Souto que, na altura, era o CEO da Gapi.

Há 20 anos, avançou, não existia um quadro legal satisfatório para as organizações cooperativas: “Por isso, adoptamos o modelo empresarial de sociedade anónima. Creio que foi a opção de modelo mais adequada e tem dado resultado, pois permitiu atrair outros investidores sociais, designadamente a Norsveld da Noruega e a SIDI de França”.

“No último exercício, comercializámos cerca de 500 toneladas de produtos diversos dos associados da API (Associação dos Produtores da Ikuru). Comercializámos amendoim, gergelim, milho e outros produtos. Isto foi um crescimento de 100 por cento relativamente ao ano anterior. Nesta comercialização, a Ikuru transferiu para os seus membros cerca de 20 milhões de meticais” – informou o director executivo da Ikuru, Mário Santos.

Num outro desenvolvimento, referiu que “temos consciência de que alguns produtores não estão ainda satisfeitos, porque não conseguimos comprar a totalidade e a preços justos os seus produtos. Eles têm as suas razões, pois com a assistência técnica que prestámos e os insumos que disponibilizámos para os membros aumentarem a rentabilidade da sua produção deveríamos ter capacidade financeira para poder comprar mais de 60 milhões de meticais de produtos. Infelizmente ainda não temos esses recursos financeiros para intervir em tempo útil, nas campanhas de comercialização”.

Ao longo da sua história, a Ikuru viveu momentos com resultados irregulares. Dependeu de mercados e de gestores que não estavam alinhados com a realidade e constrangimentos das cadeias de valor agrícola relevantes na região, nem com a forma de produção ou com as necessidades e prioridades dos produtores membros. Houve anos positivos, mas também outros com prejuízos. Isso tem vindo a ser corrigido. E os últimos exercícios financeiros têm sido positivos. As contas auditadas da empresa revelam lucros anuais sucessivos acima de 10 milhões de meticais.

Para António Massaua, que além de dirigente de um fórum, no distrito de Malema, província de Nampula, é também o presidente da Assembleia Geral da Ikuru, esta sociedade está aberta a outros investidores e parcerias. “A condição é cumprir com os estatutos e garantir que os objectivos de desenvolvimento dos produtores membros sejam respeitados”, destacou.

Na conversa com o dirigente da API, Orlando Iovahale, frisou que “com 20 anos, mostrámos que soubemos sobreviver a muitas dificuldades e crises e continuamos a crescer. Agora, já somos adultos e temos de mostrar maturidade para avançarmos seguros nos objectivos de desenvolvimento dos produtores. Com apoio dos nossos accionistas nacionais e internacionais e outros parceiros, temos de realizar mais projectos que melhorem a actividade dos nossos produtores”.

Uma das preocupações da Associação dos Produtores é o acesso a serviços financeiros. Neste sentido, em 2021, a API solicitou uma assistência à Gapi para conceber e implementar uma instituição microfinanceira do tipo Organização de Poupança e Empréstimo (OPE). O projecto foi iniciado e mobilizou-se, entre os membros, cerca de meio milhão de meticais.

“Mas houve um acontecimento trágico: o líder do projecto, o senhor Justino Jorge Muigiri, que era também um dos fundadores da Ikuru, faleceu. O desaparecimento deste líder, também membro do Conselho de Administração da Ikuru, atrasou a implementação da constituição de uma entidade financeira detida e vocacionada para servir os membros da Ikuru” – informou Salomão Chaile, gerente da Gapi em Nampula.

No termo da conversa com os dirigentes da Ikuru ficou um apelo por parte de António Massaua: “Que todos os produtores, ao longo desta semana, façam um minuto de silêncio em memória dos que, como o senhor Justino Muigiri, muito trabalharam para criar a nossa empresa. Vamos honrar as suas memórias”.

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