O governo de Hong Kong cancelou as conversações com os manifestantes pró-democracia, esta quinta-feira (9), aplicando um duro golpe contra as tentativas de desarmar a crise política que levou dezenas de milhares de pessoas às ruas para exigir eleições livres e pedir a renúncia do líder da cidade, Leung Chun-ying.
A decisão do governo veio depois de os legisladores democráticos terem exigido que as autoridades anticorrupção investigassem um pagamento de 6,4 milhões de dólares a Leung quando ele já ocupava o cargo.
Ainda não estava claro quais seriam os próximos passos dos manifestantes, a maioria estudantes, se eles aumentariam os protestos nas ruas ou fariam planos para novos embates. Eles devem dar uma conferência de imprensa.
“O pedido dos estudantes de expansão de um movimento não-cooperativo abalou a confiança das bases das nossas conversas, e será impossível ter um diálogo construtivo”, disse a chefe de gabinete Carrie Lam na véspera do planejado diálogo.
Ela culpou a reivindicação dos estudantes pelo sufrágio universal, o qual, segundo ela, não está de acordo com a mini-Constituição desse centro financeiro asiático – a Lei Básica. Ela também culpou o que chamou de ocupação ilegal de partes da cidade.
Horas antes, o Departamento de Justiça de Hong Kong tinha concedido aos promotores a responsabilidade pela investigação do pagamento de negócios feito a Leung por uma companhia australiana de engenharia.
Parte das atribuições incluem “considerar e decidir cabe à acção da promotoria” contra Leung, que recusou-se a deixar o cargo nas últimas semanas depois dos protestos. O departamento disse que a sua decisão procurava evitar “qualquer possível percepção de tendência, parcialidade ou influência imprópria”.
A campanha contra Leung, ex-fiscal de propriedades e filho de um policial, foi estendida das ruas para as câmaras legislativas, onde os democratas ameaçaram vetar grandes decisões e potencialmente causar uma paralisação de implementação de políticas.
A imprensa australiana relatou, esta semana, que a empresa de engenharia UGL pagou a Leung um total de 6,4 milhões de dólares em 2012 e 2013 em relação a sua aquisição da DTZ, uma consultoria de propriedades que empregou Leung como director para Ásia e Pacífico antes de ele assumir o cargo de administrador do território em Julho de 2012.
O gabinete de Leung negou irregularidades. A DTZ não estava imediatamente disponível para comentar, ao passo que a UGL disse não ter obrigação de discutir o acordo.
Como parte do contrato que Leung assinou com a UGL em Dezembro de 2001, ele concordou em promover o “grupo UGL e o grupo DTZ à medida que for requisitado pela UGL, incluindo, mas não limitado a, agir como árbitro e consultor de tempos em tempos”, de acordo com uma cópia vista pela Reuters.
O gabinete de Leung disse em comunicado que tal assistência seria apenas fornecida caso ele não fosse eleito líder de Hong Kong, e considerando que tal assistência não criasse quaisquer conflitos de interesse.