Homens supostamente da guarda da Renamo, o maior partido de oposição em Moçambique, que estavam na comitiva do seu secretário-geral, Manuel Bissopo, são acusados de terem espancado, violentamente, um líder do primeiro escalão, de 63 anos de idade, em pleno comício havido, semana passada, no povoado de Tsuende, localidade de Nkondedzi, posto administrativo de Zóbuè, no distrito de Moatize, província central de Tete.
O dedo acusador é do próprio líder comunitário, que até Segunda-feira queixava-se de fortes dores da sua coluna vertebral e ouvidos, porque, conforme explicou a jornalistas, foi agredido sem parar por seis homens no local onde decorreu o comício.
“Disseram que você está a mobilizar a população para não aderir ao comício. Esta fraca afluência deve-se a você. Por isso, merece este castigo” — disse Ualasse Diesse, em entrevista a jornalistas, que se deslocaram a Tsuende, para se inteirar do que se tinha passado e dos porquês do recurso a violência.
“Eles encontraram-me numa barraca a conversar. Fiquei admirado, porque, quando chegaram, disseram que é este que estávamos à procura e de repente começaram a bater-me. Primeiro lançaram duas bofetadas e depois deixaram-me cair. Seguidamente chutaram-me várias vezes com as botas. Por isso, a minha coluna está a doer fortemente. Pisaram-me também na cabeça, causando-me dores de ouvidos” — explicou.
Ualasse Diesse disse não ser verdade a acusação da Renamo. Justificou que “nunca faria isso, porque os partidos políticos fazem o seu trabalho sem a interferência dos líderes comunitários. Ademais, os cidadãos estão livres de se filiarem nas formações políticas que pretendam. Portanto, espancaram-me e iam matar-me em vão. Não estou bem de saúde”.
A vítima disse ter sido evacuada para o Centro de Saúde de Nkondezi, onde recebeu cuidados sanitários.
“Ainda não tenho o diagnóstico médico. Aliás, tinha-me esquecido: quando me batiam diziam que você não é nada, pois até nós matamos muitos” — afirmou o líder comunitário, que se apresenta com escoriações no corpo.
O “Diário de Moçambique” entrevistou um cidadão de nome Lúcio Sainete. “Não testemunhei o acto, porque não estava no comício da Renamo. Simplesmente acompanhei que o nosso líder foi batido. Acho que foi uma atitude que toda a gente condena, porque o fracasso de um partido não deve ser atribuído ao líder” — comentou.
“Não é bom bater um líder, porque é autoridade. Assim, é o mesmo que matar um chefe de uma zona” — observou Sainete, que viria a ser secundado por Ester Raisson, afirmando que o que aconteceu foi muito estranho, visto que não se pode resolver o problema aplicando a justiça pelas próprias mãos.
“Penso que existem instituições apropriadas, que resolvem os conflitos entre os cidadãos” — referiu Ester Raisson, condenando a atitude da Renamo, que ainda pauta pelos actos de violência.
“Vejam só que aquela já é pessoa da terceira idade. Sessenta e três anos de vida não são poucos e se batem na pessoa desta idade é para matar, não há outra intenção” — acrescentou.
Durante a guerra de 16 anos, refira-se, a Renamo teve apoio de alguns régulos, que estavam desavindos com o Governo do partido Frelimo por terem perdido a autoridade e não faziam parte da administração do país, como líderes tradicionais.