Após o historiador alemão radicado em Maputo, Gerhard Liesegang, ter dito que notava em Moçambique a existência de um grupo de pessoas com a pretensão de querer “tomar conta de tudo, até dos recursos, sem uma divisão mais aceitável”, um outro académico do mesmo ramo, Yussuf Amad, optou por ser mais claro e directo , há dias, em Quelimane, província da Zambézia, dizendo que “a Frelimo deixou de ser ela própria” e é um partido cujos membros desdobram-se em desvirtuar o código de conduta para fomentar o clientelismo, a ladroagem, a opulência.
“A Frelimo deixou de ser ela própria, há um código de conduta” que impunha limites entre os negócios, as incompatibilidades dos dirigentes, a acumulação de riqueza com vista a evitar roubos no Estado (…).
A Frelimo tem-se posicionado como um partido visionário e que está a conduzir o país a um destino certo. Pelos erros na governação, pouco trabalho tem-se dado para limá-los, mas, pelo contrário, considera a Renamo o mentor dos insucessos, particularmente pela tensão político-militar.
Segundo o orador que falava numa palestra organizada pela Universidade Pedagógica (UP) em Quelimane, O referido código de conduta dizia ainda que “os dirigentes da Frelimo não podia” ter carros luxuosos, não devia se envolver “em negócios com as pitas, primos, esposas, sobrinhos” é demais gente para evitar a o tráfico de influência, o clientelismo, o nepotismo e, acima de tudo, a promiscuidade na Administração Pública. “Isso era proibido”.
Enquanto o partido no poder, há sensivelmente 41 anos, se acha na direcção certa na governação do país, o académico entende que se Samora Machel acordasse [da timba] e retornasse ao mundo dos vivos, “o que não vai acontecer”, ele olharia para as dívidas da EMATUM e para a situação económica escabrosa a que estamos sujeitos e voltava para o sepulcro decepcionado com os seus camaradas. Como consequência Machel começaria “uma nova revolução”.
Relativamente ao barulho em torno das dívidas milionárias contraídas de forma secreta pelo Governo do antigo Presidente da República, Armando Guebuza, Yussuf Amad considera não fazer sentido que as pessoas tenham se mantido em silêncio por muito tempo e só agora se acham escandalizadas.
Segundo o historiador, a Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), por exemplo, existe há dois anos e ninguém dava cavaco, supostamente porque todos “tinham medo dos chefes”.
Contudo, agora que os parceiros internacionais e financiadores do Estado fizeram aos moçambicanos perceber a real dimensão do problema, os autores do projecto em alusão são chamados de ladrões. O pior nisso nisso é que quando é preciso fazer alguma coisa as pessoas calam-se, “nem sequer intervêm”.
De lembrar que o historiador Gerhard Liesegang, sugeriu, numa entrevista concedida a órgão de informação da praça, a introdução de um quadro constitucional mais flexível, abrangente e que acomodasse as exigências dos grupos sociais que se sentem excluídos.
Ele dizia ainda para além da militarização dos Estado, notava a existência de “alguns elementos relativamente insensíveis e isso é um grande perigo para a paz”.