A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), embora tenha conseguido rever em 46,3 por cento a tarifa de venda de energia à Electricity Supply Commission of South Africa (Eskom), aumentou os seus lucros em apenas 10,2 por cento em 2018. Os 4 por cento cotados na Bolsa de Valores poderiam gerar dividendos de apenas 52 milhões de Meticais, a serem repartidos pelos 16.787 investidores.
Ao cabo de 5 anos enfim a HCB conseguiu rever em alta a tarifa de venda de energia ao seu principal cliente a Eskom, desde 2013 a cobrar 35 cêntimos do dólar norte-americanos por quilowatt/hora(kWh) no ano passado o preço subiu para 51 cêntimos do dólar kWh, ainda assim muito abaixo dos 3,5 dólares pagos pela Electricidade de Moçambique (EDM).
“Em 2018, mercê de uma negociação que ditou o aumento da tarifa praticada à Eskom em 46,3 por cento, a HCB obteve um acréscimo de receitas de 48,9 por cento, relativamente ao ano precedente, quando consideramos a moeda de facturação, o Rand sul-africano, tendo atingido uma cifra de 4,8 biliões de Rands. Por outro lado, a apreciação do Metical face ao Rand sul africano, resultou num crescimento da receita na moeda nacional na ordem de 43,4 por cento comparativamente a 2017, tendo-se cifrado em 22,3 biliões de Meticais, contra 15,6 biliões de Meticais verificados no ano anterior”, indica a empresa no seu Relatório e Contas a que o @Verdade teve acesso.
A Hidroeléctrica de Cahora Bassa reporta, no documento analisado pelo @Verdade, que: “Os gastos de exploração tiveram um acréscimo de 52,8%. Para este aumento contribuíram (i) o aumento da taxa de Concessão paga ao Estado Moçambicano, como resultado do aumento tarifário na ordem dos 46,3%, sendo esta a componente principal do custo das vendas; (ii) os fornecimentos e serviços de terceiros, como resultado do aumento dos custos de trabalhos especializados e serviços de manutenção e reparação; e, (iii) o aumento na rubrica de Outros Gastos e Perdas Operacionais, por conta das Perdas por Imparidade de Contas a Receber, derivadas das Vendas de Energia à EDM, vencidas e não pagas”.
O @Verdade revelou que para poder cotar 4 por cento do seu capital social na Bolsa de Valores de Moçambique a HCB emprestou 6,5 biliões de Meticais ao Estado que por sua vez repassou à EDM para saldar contas acumuladas há vários anos.
No entanto o @Verdade apurou que a Electricidade de Moçambique não pagou todas as suas dívidas mas apenas 4,9 biliões de Meticais.
Resultado Líquido da HCB passou de 4,2 biliões para 4,6 biliões Meticais
A HCB indica ainda no Relatório que o @Verdade analisou que: “Os resultados financeiros do exercício foram negativos e cifraram-se em 978,6 milhões de Meticais, 61 por cento mais negativos do que o verificado em 2017 (608,0 milhões de Meticais negativos). Para este comportamento, contribuiu, essencialmente, a apreciação do Metical face às principais moedas (EUR, CAD e USD) e ainda, a reavaliação de saldos denominados em moeda estrangeira”.
Paradoxalmente no ano de maior depreciação do Metical, em 2016, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa obteve resultados financeiros positivos de 514,6 milhões de Meticais, após ter registados perdas nos anos de 2015 e de 2014.
Com estes números, e apesar de vender à Eskom 68,9 por cento dos 13.659,13 GWh de energia que produziu em 2018, o Resultado Líquido da HCB cresceu em somente 10,2 por cento, passou de 4,2 biliões em 2017 para 4,6 biliões Meticais.
Desse lucro o Conselho de Administração, dirigido por Pedro Couto, decidiu que 3,3 biliões Meticais ficariam como Resultados Transitados e 1,3 bilião de Meticais serão pagos em dividendos aos seus accionistas.
Estranhamente as Demonstrações Financeiras de 2018 não indicam qual é a estrutura accionista da HCB que em 2017 era repartida em 92,5 por cento pelo Estado Moçambicano, através da Companhia Eléctrica do Vale do Zambeze (CEZA), uma Sociedade Anónima que tinha como único accionista a deficitária Electricidade de Moçambique, 7,5 por cento para a Hidroeléctrica de Cahora Bassa, SA, e 7,5 por cento para o Estado Português, através das Redes Energéticas Nacionais.