O custo de vida agrava-se para o povo, pois os preços de bens de primeira necessidade continuam a subir nas três principais cidades do país. Os consumidores de Maputo, porém, queixam-se mais da subida do preço do arroz. A tabela dos preços de bens de consumo praticados nos principais mercados da cidade de Maputo inquieta os consumidores, pois têm dificuldades em adaptar-se a essa realidade que tende a deteriorar-se a cada dia.
Nos principais mercados do grande Maputo, tais como Zimpeto, Xipamanine, Xiquelene e Fajardo, @Verdade constatou que os preços de produtos alimentares como, por exemplo, tomate, arroz, frango, farinha de milho, cebola, óleo, batata, farinha de trigo e ovos têm vindo a sofrer um aumento significativo que varia entre 5 e 15 porcento.
Mas o que mais preocupa os consumidores é o preço do arroz, independentemente da qualidade. A título de exemplo, nos mercados de Xipamanine e Xiquelene, em média, um saco de arroz de 25 quilogramas está a ser comercializado a 710 meticais, mais 2o meticais que nos últimos dois meses do ano em curso. Já no Fajardo ronda entre 730 e 800 meticais, contra os 690 e 700 praticados nos últimos dias.
Mas por onde anda o arroz de terceira?
Alguns consumidores continuam a não ver o rasto do arroz de terceira qualidade, importado no âmbito das medidas a seguir às manifestações de 1 e 2 de Setembro de 2010. Os responsáveis pelo comércio, a nível da cidade de Maputo, afi rmam que se regista fraca procura desse cereal.
Os armazenistas dizem que importaram cerca de duas mil toneladas de arroz de terceira. A empresa OLAM Moçambique Limitada garantiu ter importado 11 mil toneladas de arroz daquele cereal que contém 25 porcento de grãos partidos e muitos resíduos.
Jaime Mavila, técnico superior da Direcção Nacional do Comércio, disse ao jornal que o arroz está no mercado há bastante tempo e o problema tem sido a “falta de informação ou a fraca publicidade do produto”.
Quanto ao arroz de primeira qualidade, cerca de 17 mil toneladas, doado pelo Governo japonês no princípio deste ano, Mavila explicou que se tratava de uma doação comercial. E foram seleccionadas algumas empresas nas três regiões do país para o fornecerem ao mercado a um preço médio que permita aos armazenistas terem uma margem de lucro.
Na cidade de Maputo foram apuradas 11 empresas – e duas desistiram –, tais como Universal Comercial, Africom, Wing Koon, Basic Service, entre outras. “A quantidade do arroz oferecido pelo Japão é irrisória, tendo em conta as necessidades do mercado”, comentou Mavila.
Os preços não páram de subir
Os preços de produtos de primeira necessidade não param de subir no país. No mês de Fevereiro, o índice de preços das três principais cidades moçambicanas – Maputo, Beira e Nampula – registou uma subida mensal de 1.32 porcento, numa altura em que a nível do mercado internacional o preço de cereais, petróleo e seus derivados tende a agravar-se.
A subida de preços, segundo o Banco de Moçambique, foi determinada, maioritariamente, pela classe de produtos alimentares (farinha de milho, tomate, peixe congelado, vegetais e feijão manteiga e arroz) e bebidas não alcoólicas, com uma contribuição de 0.83 pontos percentuais.
A inflação, nos dois primeiros meses do ano, foi de 2.96 porcento, uma situação provocada pela subida do preço de petróleo e seus derivados no mercado internacional, uma situação que afecta Moçambique por não ser auto-suficiente em cereais como arroz e trigo. De referir que, na presente campanha agrícola, 2010/2011, prevê-se a produção de 2.9 milhões de toneladas de cereais, com destaque para os 2.1 milhões de toneladas de milho, 283 mil de arroz e 19.839 de trigo.
Ainda no mês passado, o índice mensal dos preços mundiais dos alimentos subiu 2,2 porcento para 236 pontos. A FAO alertou que a subida do preço do petróleo pode elevar ainda mais o índice e provocar uma crise de alimentos.
O Primeiro-Ministro, Aires Ali, disse que, devido à conjuntura nacional, poderá haver um aumento de preços, o que irá obrigar a que se tomem outras medidas adicionais. “A subida de preços é normal: a África do Sul já subiu os preços e outros países vizinhos também vão aumentar”, disse.
Cerca de 37 porcento das famílias passam fome
Cerca de 37 porcento de quatro milhões de famílias moçambicanas enfrentam “fome extrema”, desde Janeiro do ano passado até a presente data, devido à seca e à chuva.
As famílias mais afectadas pela insegurança alimentar, segundo o vice-ministro da Agricultura António Limbau, localizam-se, basicamente, nas províncias de Tete, Sofala e Inhambane, apontando a destruição de cerca de 648 mil hectares de culturas agrícolas diversas como a principal consequência daquele cenário.
Governo vai colocar tecto ao preço
Na sequência do aumento dos preços dos produtos alimentares e combustíveis no mercado nacional, o Governo está a preparar uma proposta de Orçamento do Estado (OE) rectifi cativo para o ano 2011.
“Nós vamos rever o OE por causa da situação da crise dos preços. É preciso mudar algumas componentes para atender exactamente àquilo que vai ser o agravamento dos preços no mercado internacional. Estamos a concluir a nossa proposta para submeter à AR e gostaríamos que fosse discutida em Maio”, disse o ministro das Finanças, Manuel Chang, não especifi cando o que vai ser alterado.
O OE para este ano é avaliado em um pouco mais 132 milhões de meticais.