A guerra no Afeganistão está a piorar para os civis, com grupos armados em ascensão em todo o país e o acesso aos cuidados de saúde a deteriorar-se à medida que as tropas de combate estrangeiras partem, afirmou o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), esta Segunda-feira (8).
O chefe da delegação do CICV no Afeganistão, Reto Stocker, um veterano de sete anos dos esforços de ajuda no Afeganistão, disse que a guerra liderada pela NATO contra o Taliban arrastava-se pelo décimo segundo ano, com as perspectivas para os afegãos comuns cada vez mais sombrias.
“Desde que cheguei aqui, em 2006, grupos armados locais têm se proliferado. Os civis viram-se presos em não apenas uma, mas várias linhas de frente”, disse Stocker aos jornalistas em Cabul.
Com as forças de combate da NATO a deverem partir em 2014, os grupos de ajuda e alguns diplomatas ocidentais estão preocupados com uma repetição da guerra civil dos anos 1990 que explodiu entre facções rivais étnicas, dando origem ao governo austero Taliban.
Alguns funcionários de segurança e de ajuda no norte do país, no passado um centro de resistência anti-Taliban e onde a maior parte dos recursos de petróleo e gás inexplorados do Afeganistão está localizado, dizem que os insurgentes e outros grupos armados estão preparar-se para um vácuo de segurança após a saída das forças estrangeiras.
Uma análise de segurança preparada pelo Grupo de Crise Internacional (ICG), também divulgada, esta Segunda-feira, apontou que o governo cada vez mais impopular do presidente Hamid Karzai pode entrar em colapso após a retirada da NATO, especialmente se as pessoas perderem a confiança no resultado das eleições presidenciais do mesmo ano.
“Atormentado por sectarismo e corrupção, o Afeganistão está longe de estar pronto para assumir a responsabilidade pela segurança quando as forças norte-americanas e da NATO retirarem-se em 2014”, disse o ICG. “No ambiente actual, as perspectivas de eleições limpas e de uma transição suave são pequenas.”
Somando-se aos problemas de Karzai, os diplomatas ocidentais em Cabul dizem que os doadores que, juntos, prometeram ajuda civil no valor de 16 bilhões de dólares ao longo dos próximos quatro anos atrelados a sérios esforços para combater a corrupção endémica, estão a perder a esperança de que o governo vai cumprir a sua parte.
“Vários países estão a considerar seriamente tirar a ajuda”, disse um representante sénior, que não quis ser identificado devido à sensibilidade diplomática. O principal porta-voz de Karzai, Aimal Faizi, disse que o relatório do ICG havia sido discutido numa reunião de gabinete normal, esta Segunda-feira, e rejeitado por ministros como “infundado e longe da realidade em solo”.
Stocker disse estar confiante de que não haveria uma repetição da guerra civil da década de 1990 que seguiu-se à corrida soviética do país, deixando os antigos senhores da guerra aliados a confrontarem-se um ao outro.
No combate que colocou o ex-presidente Burhanuddin Rabbani e o seu comandante militar, Ahmad Shah Masood, contra as forças do rival anti-soviético Gulbuddin Hekmatyar, dois terços de Cabul foram arrasados e cerca de 50 mil civis morreram. Milhares de mulheres e crianças foram violadas e torturadas.